Diário da Peste (XXII) - Sujeito de Sorte
O dia 8 de maio de 2022 se apresentou em Porto Alegre como um belo dia de sol, um agradável dia de outono.
Eu acordei tarde, e fiz o desjejum com frutas.
Olhei notícias na internet, e logo tratei de preparar o almoço.
Após o almoço saí a dar minha caminhada diária. Caminhar diariamente é uma recomendação médica e um hábito que estou tentando manter.
Alcançada a meta da caminhada, me dirigi ao novo posto de vacinação, que foi montado pela secretaria municipal de saúde perto de onde moro, no estacionamento a céu aberto de um hipermercado. Uma tenda patrocinada por farmácias e entidades de classe, com apoio do exército.
Naquela linda tarde de sol, por volta de quatorze horas, a fila para receber a vacina contra a covid-19 não era grande.
Estranhamente para mim mesmo, fiquei algo tocado em estar em uma fila para receber a primeira dose de uma vacina.
A fila andou rápido. Verificada a minha documentação, e confirmada a minha idade, 54, e comorbidade, diabetes mellitus, fui encaminhado a tomar a vacina.
No registro foi anotada a vacina, Fiocruz, ou seja, AstraZeneca.
Logo após o registro, a picada, e a inoculação da primeira dose de vacina. Procedimento concluído, agora era só aguardar a ação do DNA para virar jacaré.
Saí feliz, e comovido. Sim, lágrimas rolaram de meus olhos, com o perdão do pleonasmo.
Não sei se o medo represado de uma peste que surgiu de repente. Não sei se a tristeza, o luto da mais de 400 mil mortes decorrentes da peste.
Enfim, o alívio.
Em minha cabeça tocou a canção de Belchior,
"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro"
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09/05/2021.
É o primeiro passo na reconstrução da normalidade. E uma proteção a mais, pois somos sobreviventes.
ResponderExcluirPois é. De fato.
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