Diário – leituras – Galvez, Imperador do Acre
Costumo repetir que tenho mais livros guardados para ler, do que tempo de vida para lê-los todos. Ou talvez eu sonhe com a imortalidade. Em todo caso, tenho a tal antibiblioteca de que falou Umberto Eco há algum tempo, aquela pilha de livros que compramos e esperamos o momento adequado para lê-los.
Dessa forma, um critério maluco que inventei para retirar algum livro da pilha de espera e iniciar sua leitura, um critério entre outros, foi o falecimento de seu autor. Não é um critério absoluto, pois alguns dos autores de minha antibiblioteca já morreram há bastante tempo. Nesses casos há os critérios do tipo “alguém comentou”; o critério “batida de olho” em alguma capa; ou o critério de alguém me dizer “precisas ler esse livro” – claro que nesse último caso eu preciso ser convencido, o que nem sempre acontece.
No caso desse Galvez, Imperador do Acre, o critério foi mesmo o falecimento do autor. O amazonense Márcio Souza faleceu em agosto de 2024, na sua Manaus natal. Pelo que constam os obituários, faleceu por conta de complicações de diabetes. Tinha 78 anos.
E talvez a primeira vez que eu tenha ouvido alguém falar dele, foi minha saudosa professora de Língua e Literatura Portuguesa, na então oitava série, do então primeiro grau. Infelizmente esqueci o nome da minha preciosa professora que tanto me estimulou a ler e escrever. Em alguma aula naquele hoje longínquo 1981 ela falou em Márcio Souza, e comentou sobre palavrões em um dos livros dele. Não me lembro exatamente qual. Disse-nos a professora que precisou consultar o marido para esse vocabulário chulo. Não lembro qual livro. Imagino agora que seja Mad Maria.
Galvez, Imperador do Acre conta um pouco da história da ocupação do território do Acre na segunda metade do século XIX por brasileiros em busca do látex. O produto então se tornava mais importante por conta da nascente indústria automobilística. Brasileiros, em geral vindos da região Nordeste, ocupavam o território, que na época pertencia à Bolívia. Luiz Galvez Rodrigues de Aria, um espanhol perdido na região Norte do Brasil se encarrega de liderar uma rebelião para libertar a área da Bolívia e criar o Império do Acre. Essa história é narrada em chave de comédia e de farsa.
Em alguns momentos o livro de Márcio Souza me remeteu para os de García Marquez que já li. Provavelmente pelo mesmo ambiente tropical, de calor e umidade, presentes tanto no Caribe Colombiano, quando na Amazônia Brasileira. E também pela leveza do texto de ambos, apesar de haver espaço para que as histórias pudessem se tornar opressivas.
Me lembrou um pouco também o livro Saraminda, de José Sarney. De novo, calor, umidade, Amazônia.
É uma leitura interessante, para descobrir um pouco do norte do Brasil, por um escritor que vendeu milhares de livros na época do seu auge.
SOUZA, Márcio. Galvez, Imperador do Acre. Rio de Janeiro: Editora Brasília/Rio, 1977.
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06/01/2025, 30/01/2025.
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