Cid Moreira se foi na primavera de 2024
Em meados dos anos 1970 eu ainda era criança, mas me lembro vagamente de meu pai circunspecto quando da morte de Lupicínio Rodrigues, falecido em 1974, e da de Orlando Silva, em 1978. Acho que deveria ser pesado para o Velho ver irem-se seus ídolos de juventude. Meu pai constantemente cantava Nervos de Aço à capela.
Talvez a impressão que tive de peso e circunspecção tivesse a ver com o fato de o pai também estar entrando na velhice. Em 1974 ele tinha 58 anos.
Fico pensando nisso quando percebo tanta gente ao meu redor morrendo, e, em geral, por velhice ou enfermidades relacionadas à velhice.
Acho que o caso mais recente foi o do jornalista Cid Moreira. Durante boa parte da minha infância e adolescência eu via Cid Moreira lendo notícias no Jornal Nacional, na Rede Globo. Ao final de cada edição vinha o seu (da parte dele) “boa noite”. Conheci gente que respondia boa noite a ele. E alguém que nos marca nessa tenra idade, marca para sempre.
A nossa memória sempre perde em exatidão as noções de tempo. Me parece que Cid Moreira ficou na bancada do Jornal Nacional até meados dos anos 1980. Foi substituído quando Boris Casoy estreou no concorrente SBT, atuando mais como o que é chamado de âncora de telejornal, comparado a um leitor de notícias, como acontecia com Moreira. Casoy lia suas notícias, às vezes comentava, algumas vezes terminava o comentário com uma frase que se tornou um bordão seu: “isso é uma vergonha!” De repente, Cid Moreira se tornou obsoleto.
Depois de ser retirado do Jornal Nacional, Moreira foi ser narrador no dominical Fantástico. Era ele que narrava as peripécias do mágico desmascarador de truques de mágica Mister M, por exemplo.
Também trabalhou fazendo leituras da Bíblia.
Cid Moreira faleceu na semana passada aos 97 anos.
Mas não foi só ele.
No início de setembro passado se foi James Earl Jones. Ator de múltiplos filmes e tremendo talento, na minha memória ele será lembrado principalmente por interpretar a voz de Dart Vader nos filmes de Guerra nas Estrelas (que ultimamente tem sido chamados apenas de “Star Wars”); e também a voz de Mufasa, o pai assassinado de Simba, na animação O Rei Leão, da Disney, de 1994, ao qual levamos nosso filho ao cinema umas três vezes.
Na segunda quinzena de setembro nos deixou Maggie Smith, que teve longa carreira artística, mas que ficou na minha memória como a professora Minerva na série de filmes de Harry Potter.
No dia seguinte ao do falecimento de Maggie Smith, saiu a notícia da morte de Kris Kristofferson. Ele foi ator e cantor country. Muito lembrado pela versão de Nasce uma Estrela de 1976, junto com Barbra Streisand. Na minha lembrança ele era um motorista de caminhão em um filme chamado Comboio.
E assim tem sido. Parece que tantas pessoas importantes morrem, que perde um pouco o sentido de comentar sobre tal assunto.
Ou talvez eu esteja circunspecto porque isso também indica que, aos poucos, vai chegando o meu tempo de esticar as canelas.
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07, 08/10/2024.
Observa-se que CID morreu com 98 anos. E que faltam 40 anos para chegares lá.
ResponderExcluirCerto! Kkkk...
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