Um velho calção preto


De uns tempos para cá, dei para escrever textos me despedindo de roupas. Já falei de uma camiseta que dei de presente para minha irmã e que retornou para mim, depois do falecimento da mana. Também falei sobre as camisas que minha irmã me deu e que acabei por descartar, porque, bem, elas puíram. 

Certo é que não é sobre qualquer roupa que chego a escrever. 

No período em que escrevi sobre a camiseta ou as camisas acima, adquiri e doei camisetas, camisas e calças com desapego e sem sentimentalismos. 

Mas eis que agora estou prestes a descartar um velho calção preto. Um calção de poliéster com forro interno, também de poliéster, que talvez tivesse como função original ser parte de um uniforme de futebol, mas que eu usava como calção de banho. 

Devo tê-lo adquirido nos anos 1990, quase trinta anos atrás. Usei em especial durante um treinamento profissional. Esse treinamento foi dado em um local que tinha piscina. Piscina essa que podíamos aproveitar no intervalo para o almoço. Sim, foi em um verão. 

Era um tempo de lutas, de tentar progredir na vida. 

E de perceber as primeiras limitações corporais. Tipo, no auge de meus trinta e poucos anos, um dia, ao tentar sair da piscina, me sentir mais pesado e menos ágil, do que quando estive em circunstâncias parecidas e tinha 13 ou 14 anos. 

Devo tê-lo usado algumas vezes nas praias de nosso estado nos momentos de lazer. 

Nos últimos tempos, tenho ido menos à praia. 

Recentemente estive em Maceió. A despeito de não ser o maior amigo do mar, usei bastante o velho calção preto. Justamente, por isso, tê-lo usado com certa intensidade durante esse passeio, acho que sua validade chegou ao limite. 

Fosse esse calção um objeto de outro tipo, eu poderia guardá-lo como alguma espécie de troféu do início da vida adulta. Mas essa não é uma glória que se dá às roupas velhas. 

Em todo caso, fica o registro. 

Adeus, velho calção preto. 


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03, 12/12/2023.

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