Diário – leituras – Diário Selvagem


Diário Selvagem é uma compilação dos diários escritos pelo jornalista e escritor José Carlos Oliveira entre 1971 e 1986, ano de seu falecimento. 

Tendo sido cronista no Jornal do Brasil, então um dos mais importantes do país, por mais de vinte anos, Oliveira deve ter sido um escritor amplamente conhecido em seu tempo. Escreveu romances e teve as crônicas do jornal compiladas e publicadas em forma de livro. 

Como cronista, eu diria que ele vive uma era de bronze da crônica nos jornais brasileiros, lembrando que a era de ouro seria entre os anos 1950 e início dos 1960, com Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e outros que tais. A era de bronze é essa do Regime Militar, e das funções de Governo Federal sendo transferidas mais e mais para Brasília, gerando a decadência da antiga Capital Federal, o Rio de Janeiro. 

Este livro é um livro longo. Abrange quinze anos de anotações. Fala um pouco de tudo. Dos empregos, dos amores, da vida sexual, das fofocas, dos cuidados ou da falta de cuidados com a saúde. Neste caso, da saúde, Oliveira, no início desses anos 1970 está recém diagnosticado de diabetes. Como  é um “diário selvagem” há um pouco de tudo. É até um pouco constrangedor seus registros a respeito do que comeu e deixou de comer. De como teve dificuldades para excretar. De como precisa ficar horas no banheiro até que as fezes saiam. Da necessidade de uso de supositórios. Na vida amorosa e sexual, fala das namoradas e da contratação de garotas de programa. Somos apresentados ao sexo pago daquele tempo, sem uso de preservativos, e sujeito ao uso recorrente de penicilina no caso de contaminação por DSTs. 

Na vida literária, em algum momento, ele teve a empáfia de se achar um escritor melhor que Jorge Amado (acredito que Jorge Amado era o escritor brasileiro que mais vendia livros nos anos 1970). Não que ele não pudesse achar um escritor melhor, mas me parece que não é um julgamento isento, mas, enfim, estamos lendo um diário supostamente privado; é um lugar para algum expressar suas impressões. Em outros momentos a decepção pela falta de reconhecimento de suas obras pelo público. Por fim, o desfrute do relativo sucesso de um folhetim que foi publicando em capítulos no Jornal do Brasil. E a resignação pelo sucesso apenas relativo que alcançou. Nada muito diferente da maioria dos escritores brasileiros de agora, e, suponho, de então. 

Diria que é uma obra interessante, mas um pouco longa. E não sei o que eu faria para torná-la mais sucinta. Simplesmente cortar trechos seria complicado. Talvez separar por temas, mas isso também seria difícil de fazer. E qualquer mexida demandaria bastante trabalho, que não sei se o organizador quereria fazer. 

O organizador, Jason Tércio, também é jornalista e escritor, e nos apresenta o Diário Selvagem com palavras afetuosas sobre José Carlos Oliveira. Tércio também organizou três volumes de crônicas de Oliveira: O homem na varanda do Antonio's; crônicas da boemia carioca nos agitados anos 60/70; O Rio é assim; a crônica de uma cidade (1953-1984); Flanando em Paris. Talvez essas crônicas todas devam ser lidas. 


OLIVEIRA, José Carlos. Diário Selvagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. Organização e notas de Jason Tércio. 



10, 14/12/2023. 

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