Esvaziação


Recentemente vi notícia no boletim do informativo eletrônico Matinal que as lotações de Porto Alegre, um sistema de transporte coletivo seletivo da cidade,  neste ano de 2023, deverão transportar menos da metade do número de passageiros que haviam sido transportados em 2017. Foram cerca de 11,7 milhões de passageiros então, para 5,4 milhões neste ano. O boletim cita o Jornal do Comércio, que não li, por conta do paywall.  

Conforme a nota do Matinal, um primeiro grande impacto que tirou passageiros das lotações foi o surgimento dos aplicativos de carona paga, ali pela metade da segunda década deste século. 

Atualmente também contribui para o esvaziamento das lotações o preço alto da tarifa. 

Eu era muito criança quando soube que a Companhia Carris lançou uma linha seletiva de ônibus, a linha Três Figueiras. Acho que deve ter sido lá por 1974. Pelo que lembro os veículos tinham ar condicionado e atendentes que ofereciam cafezinho. Nunca andei em um ônibus desses. As referências eram as palavras dos adultos. Não sei como a linha terminou. Talvez fosse cara e não tivesse demanda sustentável. 

Já as linhas de lotações, conheci ainda no tempo em que o transporte dos passageiros era feito por kombis. 

Tive exemplo em casa. Minha irmã muitas vezes pegava a lotação Partenon quando saía atrasada de casa. Na época ela pegava o ônibus na Vila Cefer, e descia onde era o final da linha das lotações, na Vila Intercap. 

Quando comecei a trabalhar na mesma empresa que ela (onde consegui o emprego por influência dela), tentei seguir o exemplo. Mas logo constatei que eu ganhava menos. E que pegar lotação fazia bastante diferença nos meus gastos. 

Uns quinze anos depois, consegui um emprego melhor e, aí sim, comecei a usar as lotações para ir trabalhar. Foram uns 25 anos, entre 1995 e 2020, diariamente nesses veículos. Por essa época, já fazia bastante tempo que os micro-ônibus haviam substituído as kombis. 

Houve um momento que duas linhas passavam próximas de onde moro, a Hospital Conceição e a Chácara das Pedras.  A Hospital Conceição chegou a ter duas variantes, uma pela Vila Ipiranga e a outra pelo Shopping Iguatemi. Depois esta última acabou extinta. A linha Hospital Conceição passava pela Avenida Francisco Trein, Assis Brasil, Cairú, Farrapos e Centro. 

A Chácara das Pedras partia da Francisco Trein atravessando o bairro homônimo da linha, chegando à Avenida Protásio Alves, seguindo por essa via, até a Osvaldo Aranha e ao Centro. 

Com o surgimento dos aplicativos, a linha Chácara das Pedras acabou.

Em 2020 houve o advento da covid-19. Com a pandemia, a linha Hospital Conceição morreu. 

Com o fim da pandemia, a linha IAPI foi estendida até a Vila Ipiranga. Em lugar de passar pelos bairros São João e São Geraldo como fazia a Hospital Conceição, seu trajeto passa pelos bairros Higienópolis, Auxiliadora, Moinhos de Vento e Independência para chegar ao Centro. Só funciona de segunda a sexta. 

Sendo um transporte coletivo e seletivo, a lotação livra seus passageiros do aperto de ônibus lotados. E, claro, isso tem um preço. 

Uma pena que o sistema esteja em crise. Espero que sobreviva. Muito o usei. 

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30/11/2023, 05/12/2023.

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