Regina Stela Contage Winter (09/12/1945 - 08/12/2013)


Regina Stela Contage Winter (09/12/1945 - 08/12/2013)


Ontem recebi uma mensagem pelo correio eletrônico dando conta do passamento de Regina Winter.

Não era uma mensagem inesperada, haja visto que ela padecia de um câncer no pâncreas há meses, e a situação ficava cada dia mais difícil. Não obstante, mesmo sem surpresa, uma situação assim não é sem dor, sem luto.

Regina era uma cristã. Protestante. Evangélica. Batista. De família batista.

Quando a conheci ela já era casada com Niander Winter. Pastor Batista.

Foi um tempo em que eu estudava Teologia e cogitava de me tornar pastor de almas. Niander era reitor do Seminário Batista que existia em Porto Alegre naquela metade dos anos 1980. O Seminário continua existindo.

E Regina fazia parte do corpo docente, ministrando aulas de pedagogia. Fui aluno dela nessa disciplina.

Nessa época, a principal atividade do Pastor Niander era como reitor do Seminário, mas, eventualmente ele colaborava mais intensamente com alguma igreja do estado do Rio Grande do Sul. Posso me lembrar dele comentando, por exemplo, a colaboração que fez com a Igreja Batista de Caxias do Sul. E Regina era uma companheira fiel. Eles tinham que sair cedo de Porto Alegre e viajar mais de uma centena de quilômetros serra acima, levando os dois filhos pequenos, trabalhar o dia todo na Igreja, à noite voltar descendo essa mesma serra. Posso imaginar como isso pode ter sido difícil nos dias mais frios e úmidos do inverno gaúcho.

Depois, no final dessa mesma década de 1980, Niander assumiu o pastorado na Igreja Batista Central de Porto Alegre, e em tudo que podia, Regina ajudava. Acompanhava o marido em visitas aos membros da igreja, ou aos interessados em conhecer o Evangelho, tocava piano nos cultos, regia hinos. Se fosse para pensar na esposa de um pastor, bastaria uma palavra: exemplar. Ou modelo. Ou padrão. Pode escolher. E assim foi pelos 25 anos que durou o período em que Niander foi pastor da Igreja Batista Central.

Desde 2012 sua saúde vinha se deteriorando fortemente. O que sempre nos traz questionamentos.
Por que uma pessoa que se tem como um exemplo teve seu tempo abreviado? A pergunta é a propósito que no Brasil, a expectativa de vida das mulheres está em cerca de 78 anos, portanto Regina partiu uns dez anos antes do tempo. Por que Deus permitiu que ela se fosse assim, antes do tempo?

Para muita gente a explicação mais rápida é alegar que a pessoa tinha pecados. Pecados ocultos talvez. Talvez por dentro ela fosse um poço de rancor ou de inveja, por trás daquela aparência de cristã exemplar. Ou pior, ainda, ela roubava coisas quando ninguém estava vendo. Essa explicação não me convence. Aplicar essa explicação com ela seria reviver a história de Jó. Não, eu não conhecia de fato o íntimo de Regina, mas me é impossível pensar que ela padeceu o que padeceu por conta de algum pecado oculto.

Regina não teria pecados, então? Claro que tinha. Como todos nós, humanos. Mas penso que, ao contrário de muitos de nós, ela genuinamente procurava não pecar.

De fato, eu me questiono, mas pensando numa história não tão antiga quanto a história de Jó, me lembro de algo que penso que li na época do falecimento do Papa João Paulo II, em 2005. Naqueles dias, o conhecido evangelista Billy Graham declarou que a atitude estóica do Papa ao enfrentar o Mal de Parkinson o ajudou a enfrentar a própria sina com a mesma doença. O velho evangelista está doente, e, com cerca de 95 anos, faz tempo que está afastado das atividades ministeriais. Eu cheguei a comentar isso com o Pastor Niander na metade deste ano. Regina não era João Paulo II, nem Billy Graham, mas quem conviveu de alguma forma com ela nestes últimos tempos testemunhou de sua resiliência diante de um corpo que demonstrava cada vez mais dificuldades. Eu em algumas reuniões de oração a vi, magra, com as mãos tremendo, com dificuldades da fala. Mas, enquanto teve forças, ela esteve ao piano para executar os hinos das reuniões. Era uma das suas formas de demonstrar que mesmo diante da dor ela continuava louvando ao Senhor.

Se, como diz a Escritura, "preciosa é aos olhos do Senhor, a morte dos seus santos", e diante da morte de outras pessoas santas e queridas nos últimos tempos, que se foram antes do tempo que lhes era possível, humanamente falando, talvez eu deva pensar nessas pessoas nos termos de Enoque, segundo o qual Enoque, homem piedoso em tempos ímpios segundo o livro de Gênesis, viveu menos do que poderia, pois o Senhor o tomou, e os dias de Enoque suportar as contradições deste mundo lhe foram abreviadas.

De maneira geral, as religiões, e o cristianismo em particular pensam de uma vida pós-morte, mas o cristianismo não diz que as pessoas devam se matar para deixar esta vida e ir para a próxima. 

Mas tem a vida atual como uma dádiva para a glória de Deus.

Regina viveu, e sofreu, e morreu, para glória de Deus. Assim confio eu.



09, 10, 12/12/2013.

Comentários

  1. Lindo texto!
    Uma saudosa viagem no tempo. Estudei no STBRS no final dos anos 80 e em 90.

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  2. Obrigada!
    Meu nome é Araci. Eu lembro de ti. :)

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    1. Huummm...
      Se não estou enganado, é a moça do Paraná, que já tinha uma irmã estudando no STBRGS. É isso?

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    2. Sim, é isso!! Excelente memória...rs!!

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    3. :)
      E vc onde anda? Missionária em alguma igreja Brasil afora?

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  3. Oi!
    Moro no PR e sou psicóloga, e vc onde está e o que faz?

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    1. Eu sou programador no Banrisul, e vou às reuniões de quarta-feira na Igreja Batista Central de Porto Alegre.
      E um blogueiro sem muita repercussão... :)
      Pr. Niander já se aposentou...

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  4. Que bacana!
    Tenho saudades da Central, foi a minha igreja em PoA.
    Felicidades :)

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    1. Ok. Obrigado.
      Felicidades para você também.
      Você está em qual cidade do Paraná? Frequenta alguma igreja por aí?

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  5. Obrigada :)
    Estou em Mal. C. Rondon e sim, frequento a PIB daqui.

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  6. Amém!
    Deus te abençoe!
    Tentei te procurar no FB, mas não achei.

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  7. Pois é. Por incrível que pareça, náo estou no FB.
    Estou por aqui... :)

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  8. Olá. Conheci Regina na época que o Pastor Niander estava em Três de Maio. Ela sempre foi um doce de pessoa, ótima regente de coral e como lá não havia piano, improvisava com acordeon ou um órgão antigo.Sentimos muito a falta dela.

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