Silvio Tendler, Angela Ro Ro
Em certos momentos eu me sinto como um escritor de obituários. Nas últimas duas semanas isso ficou bem acentuado. Em uma semana escrevi sobre Luis Fernando Verissimo, e na semana seguinte escrevi sobre Mino Carta. Ainda bem que, além dos obituários, também escrevi sobre a primavera de 2025 chegando e sobre futebol americano.
Infelizmente sempre tem gente que faz parte das nossas lembranças, do nosso imaginário, morrendo o tempo todo.
Não escrevo, por exemplo, sobre o cartunista Jaguar ou o músico Hermeto Pascoal, não porque não sejam importantes. Foram. Mas não estão inseridos de forma inescapável dentro da minha vida, como as pessoas das quais comento e lamento o falecimento, como acontece neste momento.
Por esses dias morreram mais duas pessoas inescapáveis.
Silvio Tendler (1950-2025) foi um cineasta. Documentarista. Documentários não costumam ser as obras cinematográficas mais vistas, mas Tendler foi bastante bem sucedido nessa área. No início da minha adolescência ele fez relativo sucesso com seu Os Anos JK. E no final da minha adolescência ele lançou Jango, um documentário sobre o presidente deposto pelo golpe civil-militar de 1964. Era a primeira metade da década de 1980. Talvez 1984. E na minha cabeça tudo que meio se mistura naquele período. Os comícios pedindo o retorno das eleições diretas para Presidente da República. O filme de Tendler sobre Jango, com trilha sonora de Milton Nascimento – Coração de Estudante. A eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral dando fim ao ciclo de presidentes generais, ou generais presidentes, trazidos pelo golpe. A doença, agonia e morte de Tancredo, falecido antes de tomar posse. A apropriação da trilha sonora do filme de Tendler sobre Jango para o “martírio” de Tancredo Neves. A comoção nacional por conta da doença e morte de Tancredo.
Naquele ano de 1984 eu estava terminando o segundo grau, atual ensino médio, e os professores do curso noturno que eu frequentava nos incentivaram a assistir o filme de Tendler. Lembro que o achei tão marcante que comprei um livro à época que reproduzia parte do roteiro e era ilustrado com muitas das imagens que fizeram parte do filme Jango. Como esquecer Silvio Tendler diante disso?
Angela Ro Ro inundou o Brasil (ou assim me pareceu) com sua voz rouca e a canção Amor, Meu Grande Amor no final da década de 1970. Sei lá. Foi trilha sonora de novela? Tocou muito nas rádios? Pois é. Não sei. Só sei que após a notícia de sua morte, essa canção tem tocado muito na minha cabeça. “Enquanto me tiver / Que eu seja a última e a primeira / E quando eu te encontrar / Meu grande amor me reconheça”. E “Que tudo que ofereço / É meu calor, meu endereço / A vida do teu filho / Desde o fim até o começo”. Depois essa canção ainda seria regravada pelo Barão Vermelho. Ela ainda teve o grande sucesso de Só nos resta viver.
Angela Ro Ro fez parte da trilha sonora da minha vida. Como deixar passar em branco a sua partida?
E assim vamos, e a todos Cronos vai tomando.
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Silvio Tendler em imagem copiada da Wikipédia
Angela Ro Ro em imagem copiada da Wikipédia.
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15, 16/09/2025.
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