Jeans Frilley



Minha irmã,


Não sei se aí onde estás te lembras do teu ranço quando chegava meu aniversário. Todo ano me pedias sugestão de presente, e todo ano eu te pedia uma camisa. E tu replicavas “camisa de novo?” 

Garanto que nunca entendi muito bem esse ranço. Na minha opinião, camisas eram presentes muito convenientes, tanto para mim quanto para ti. Me garantiriam certa elegância, e tu poderias escolher entre uma imensa variedade de modelos disponíveis nas lojas. 

Mas fosse com ranço ou não, foram várias camisas. Fossem de botões, ou polos. 

Uma curiosidades entre elas, foi que me deste duas camisas jeans, ambas da marca Frilley (talvez lá nos anos 1980, acho que tinham um jingle que terminava com a frase “liberdade é isso aí”). E eu gosto demais destas camisas. A azul de mangas longas, e a cinza (cinza preteada? Preta acinzentada? Cinza em todo caso) de mangas curtas. Ambas com bolsos, que me serviam bem como tecnocrata, afinal nesses bolsos eu procurava sempre enfiar uma caneta ou uma lapiseira ou uma caneta e uma lapiseira. A cinza inclusive tem dois bolsos, um de cada lado do peito. 

Eu as acho muito confortáveis. Costumava usá-las por cima de uma camiseta básica. Não sei se era elegante, mas eu me achava. 

Pois é, lá se vão cinco anos desde que me deixaste com as camisas que me deste. E não sei em que anos as recebi. As uso com frequência. E sempre que as visto me lembro de ti. 

E eis que esta semana, cumprindo os ciclos de usar, lavar, guardar, usar… Ao retirar a camisa cinza da máquina de lavar, eis que as mangas apresentavam pequenos puídos. Puídos. Tudo envelhece, tudo passa. 

A camisa azul também já apresentava sinais na gola, motivo pela qual faz algum tempo que está guardada sem ser usada. Motivo pelo qual adquiri camisas novas. 

E é isso. Adquiri camisas novas. Não são Frilley, são as que encontrei. As velhas terão que ir adiante. O espaço em que habito é bastante apertado. 

Tal qual seguir o conselho da, digamos, organizadora Marie Kondo (não li os livros de Marie Kondo, mas eles foram muito falados à época dos lançamentos, em especial A Mágica da Arrumação), eis que estou, também, digamos, me despedindo dessas camisas que tanto gostei de vestir, e que tanto me lembram de ti. 

Os objetos que me deste se vão. É uma pena. 

Permaneces em minha mente. 

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14, 19/09/2023.

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