Diário – leituras – A Trégua
A Trégua (La Tregua no espanhol original) é uma novela escrita pelo uruguaio Mario Benedetti que conta a história de Martín Santomé, um homem viúvo, de seus cinquenta anos, contando os dias para que possa se aposentar. Ele trabalha como chefe da contabilidade de uma distribuidora de autopeças em Montevidéu. Quando Laura Avellaneda, uma mulher mais de vinte anos mais jovem que ele, é contratada para ser sua subordinada, se abre a possibilidade de um envolvimento com ela. Primeiramente publicada em 1960, esta novela tem a forma de um diário, o diário de Santomé. O calendário do diário se adequa ao ano de 1957.
Como é um diário, o livro se abre à reflexão e aos desejos de Santomé. Seus questionamentos sobre o trabalho. O que ele pensa do relacionamento com os filhos, já adultos, que criou (praticamente sozinho, ele nos dá a entender). São três, dois rapazes e uma moça. Seus pensamentos sobre Deus. Os relatos de algumas histórias de amigos. Seus preconceitos homofóbicos (o que dá para desculpar, como sendo o reflexo de uma época passada). E os caminhos por Montevidéu. A cidade é um pouco uma personagem do livro, com suas ruas e seus cafés. Mesmo o Palácio Salvo, um prédio icônico da capital uruguaia é citado, inclusive qualificado por Santomé como muito feio. Há um momento em que Santomé está sentado em um banco à Praça da Matriz, e reflete como Montevidéu é seu lugar.
E há o envolvimento com Avellaneda que vai tornando sua vida mais doce. Ou, ao menos, menos amarga.
Esse diário dura um ano, de fevereiro de 1957 a fevereiro de 1958, começando e terminando no verão.
Gostei muito e acabei lendo duas vezes. Primeiro a tradução ao português brasileiro. Depois a versão original. A versão original veio por conta de um prosaico “bah” que encontrei na tradução. Está registrado no dia 22 de junho, um sábado. Estaria esse “bah” na versão original? Adquiri uma edição em espanhol, e lá estava o tal “bah”. Bah, que nós gaúchos reputamos como tão nossa, mas que está registrada na literatura do vizinho sulista há mais de sessenta anos.
BENEDETTI, Mario. A Trégua. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. Tradução de Joana Angelica D’Avila Melo.
BENEDETTI, Mario. La Tregua. Barcelona: Penguin Random House, 2015.
26/08/2023, 02/09/2023.
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