Comunhão


Quando cheguei já havia uma pizza, isto é, um pão sobre a mesa. Me restou pedir vinho. 

Dos meus comensais, três bebiam cerveja, e um refrigerante. Entre os que bebiam cerveja, um bebia cerveja sem álcool. De forma que houve dois abstêmios. Um por convicção, o que bebia refrigerante. Um por conveniência, o que bebia cerveja sem álcool (precisaria dirigir depois).

Carol veio me socorrer e compartilhar do vinho. Assim pude ter a mais completa comunhão. 

Mais uma vez a oficina de criação literária vai chegando ao fim. É bom quando começa, é bom enquanto acontece (e eu estou nessa pelo trago), é bom quando termina. Mas é uma pena quando termina. Mesmo que tudo termine. 

Foi uma noite de não muitos textos. A maioria de nós já completou a quota necessária para a oficina e a produção do livro. 

Além dos textos, resta-nos conversar. E como conversamos!

Sobre música, e dentro disso, sobre ritmo. Vale ter um mestre cronista que também é baterista. 

E sobre mais música, e sobre literatura, e sobre nossas vidas, e sobre como chegamos até ali. 

E saber que esse mundo da classe média (pequena burguesia?) de Porto Alegre é pequeno. E que o professor de canto de uma hoje, foi colega de trabalho de outro em uma estatal, em um momento que parecia uma outra vida. 

E quando a discussão dos textos terminou, resolvemos ir a outro bar, embora o bar em que estávamos ainda estivesse aberto. 

E assim o professor nos deu carona até o outro bar, e sentou conosco, e comeu, mas não bebeu, porque, veja você, ele estava dirigindo. 

E ali, naquele bar cujo ambiente evoca o Prata, e cujo proprietário é uruguaio, a conversa continuou. 

E na minha cabeça, quem mais falou foi o Altino. Quantas histórias tem o Altino! Não sei se são tantas, ou se há muita habilidade para contá-las. Sua atitude de beatitude contemplando Paula Toller, ou o lenço que Adriana Calcanhotto deixou cair. 

Como conta histórias o Altino! Um dia preciso apresentá-lo à Claudia Almeida. Se é que eles já não se conhecem. Ela é outra contadora de histórias. 

Tínhamos combinado de sermos cinderelas. Quando chegasse a meia-noite, nos despediríamos e iríamos para nossas casas. 

Mas de fato, só saímos quando o bar fechou. Isso devia ser próximo de uma da madruga. O dia seguinte seria mais um de trabalho.

Rachamos a corrida no aplicativo. 

Desta vez não fechamos quatro bares, apenas um. 

Provavelmente se essas esticadas se tornarem rotina, este tipo de crônica deixará de ser escrita. 

O extraordinário se tornará ordinário. Mas ainda assim extraordinário. Talvez, como a vida. 

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11,12/07/2022.

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