Diário - leituras - O Preto que falava íidiche


Tendo como mote o amor entre Nozinho, ou Lindonor Santana, jovem órfão negro, afilhado do narrador desta história, e Raquel, filha de uma família de judeus que se estabeleceu no Rio de Janeiro, então Capital Federal, no início do século XX, este livro do escritor, pesquisador e compositor Nei Lopes, se apresenta como uma espécie de Romeu e Julieta carioca. 

Mas, de fato, pelo seu vasto elenco de atores e acontecimentos, o livro me parece muito mais um inventário, centrado na comunidade preta (negra? afrodescendente?) daquele início de século. O livro trata com leveza, de maneira até risonha, os sofrimentos e a marginalização sofrida por esse povo. 

Nessa história de Nei Lopes, os negros já eram historicamente marginalizados. E o que me pareceu novidade é que a comunidade judaica, de imigrantes oriundos em sua maioria da Europa Oriental, também era um grupo então estigmatizado, com o antissemitismo da época. 

Nesse contexto, Nozinho, esse rapaz esperto, percussionista, e com facilidade de aprender idiomas, vai trabalhar para um vendedor judeu, aprende o iídiche, e acaba tendo um relacionamento, com a filha do comerciante, Raquel. Relacionamento que não é aceito pelo pai da moça, que quando descobre o namoro a envia para longe do Rio de Janeiro. 

A partir disso, uma multidão de personagens e lugares invadem a história, compondo um quadro de como a diáspora negra fomentou cultura, arte e espiritualidade, no Rio de Janeiro, na Bahia, em Nova York, na Louisiana. O fluxo de personagens me pareceu tão caudaloso que senti falta de um índice dos personagens, e fiquei me perguntando em quem cada um pode ter sido calcado. 

Como eu já disse, foi uma boa maneira de tratar com leveza uma história que tinha tudo para ser pesada (foi e ainda é pesada). 


LOPES, Nei. O Preto que Falava Iídiche. Rio de Janeiro: Record, 2018. 


20/08/2020.

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