Conduire ou pas conduire, c'est la question
Outro dia comentei que minha atividade física quase diária é caminhar perto de casa após o almoço. Com máscara e mantendo distanciamento social.
Entre outras coisas, me chama a atenção o fato de, em um raio de uns cem metros de casa, haver três automóveis com ares de abandonados.
Sabe aquele carro acumulando sujeira sobre a lataria? O estofamento perdendo a cor? As ervas daninhas crescendo ao redor da vaga que o veículo ocupa? O musgo nos pneus? Esse é o quadro.
Um deles inclusive teve as placas retiradas.
O que leva a esse quadro? Há muitas possibilidades. Certamente os proprietários desses veículos não têm áreas para guardá-los em seus imóveis. Também não querem gastar grana com aluguel de garagens. Pode haver uma pilha de multas acumuladas cujo valor ultrapasse o do carro. Por fim, carros há muito tempo parados demandam auxílio mecânico para voltarem a funcionar.
Eu já estive em uma situação parecida. Um carro velho, que não estava totalmente abandonado, mas cujo estado dele, e a pouca mobilidade, faziam com que muita gente pensasse que sim, estava abandonado. Cheguei a vê-lo registrado em um blogue que divulgava carros abandonados nas ruas de Porto Alegre.
Não tinha multas empilhadas, mas a idade e o desgaste faziam o uso bastante restrito, e um uso cheio de temor pela falta de manutenção preventiva.
No fim me desencantei, e paguei para que alguém o assumisse, chateado após o arrombamento em uma madrugada de chuva em que alguém furtou a bateria.
Desde então, não tenho mais carro. Vou de táxi, de aplicativo ou de carona. Excepcionalmente posso alugar.
Isso me levou a lembrar de um personagem do romance Meia-Noite e Vinte, do Daniel Galera. Esse personagem, um homem ao redor dos seus quarenta, na Porto Alegre de 2014, não tinha carro, nem sabia dirigir. Não sentia necessidade.
Notícias do final desta nova década de 10, informam que jovens têm menos interesse em adquirir carro. E isso tem a ver com custos de investimento inicial e manutenção, e também com pegada ecológica.
De forma que talvez o clássico sonho de consumo de classe média, casa e carro próprios, já seja menos sonho para alguns.
Tempos de menos motoristas, talvez mais choferes.
06/10/2020.
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