Parecia sábado
Era uma segunda-feira, que parecia sábado.
Eu ainda na ativa, em ritmo de aposentado.
Meio-dia de verão, calor de fevereiro.
Aguardo o busu, na sombra sob o abrigo
O compromisso é de almoço, num shopping
O ônibus aparece, vai lentamente,
Na cidade ainda preguiçosa, silente.
Vou lendo as notícias, na paisagem conhecida
A viagem demora um tanto, o veículo vai preguiçoso,
Nada, nada buliçoso
De repente, já perto do destino
Uma surpresa, momento supino
No banco a meu lado, vinda do fundo do bus
Senta, ágil, uma menina
Pele muito branca, quase transparente
Sainha abaixo da metade da coxa
Em cima um bustiê
Tenis brancos,
Com brancas meias,
Só até os tornozelos
Não sei se alta de tão magra,
Ou se magra de tão alta,
Será eterna vítima de bullying, uma saracura?
Ou se tornará como la Bündchen, uma belezura?
A idade eu não soube identificar
Adolescente ou pré-adolescente
De relance, ao olhar seu rosto
Eis marcante maquiagem,
Sombras nos olhos,
Nas faces traços em vermelho e azul
Então me dei conta da tal
Era alguém a pular Carnaval
Pela hora, difícil dizer
Se ia para casa
Ou encontrar os amigos a seguir o bloco
Com base na jovem foliã
Parece que tem futuro a festa pagã
Desceu na Cidade Baixa
Segui no bus, na faixa
26022020.
P.S. Publicada antes do "Enterro dos Ossos", isto é, antes de sábado, 29 de fevereiro de 2020.
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