Já Podemos Esquecer Os Malditos 7 a 1?
O Brasil foi eliminado pela Bélgica da Copa do Mundo de 2018. Méritos para a turma de Courtois, Kompany, De Bruyne e Lukaku, que conseguiram ser mais efetivos, tanto para fazer gols quanto para se defender. Azar nosso.
O time brasileiro foi dedicado e honrou a tradição do futebol brasileiro.
Como são coisas do futebol, sempre vale lembrar que o resultado poderia ser outro, se, por exemplo, aos sete minutos, Thiago Silva tivesse mandado a bola para o fundo das redes, em lugar da trave. O jogo então estava zero a zero. Como disse o comentarista Paulo Vinicius Coelho, especializado em citar estatísticas, o Brasil finalizou vinte tres vezes contra o gol belga, e sofreu oito finalizações.
Quem gosta de caçar culpados reclama das atuações fracas de Paulinho e Fernandinho, fala que Neymar não deslanchou, e que Tite errou em insistir com Gabriel Jesus - um goleador que passou pelo campo sem marcar gols.
Mas isso não me convence. Para mim, a derrota do Brasil passa mais pelos erros do ataque, e pela atuação de Courtois, o goleiro belga, que o erro de Fernandinho, ou a atuação fraca de Paulinho. Neymar não deslanchou, mas não comprometeu. Jogou com o time e obrigou Courtois a defesa difícil no final da segunda etapa.
E isso é futebol. O futebol faz com que o Internacional de Porto Alegre tenha encontrado duas vezes o Barcelona, e vencido as duas vezes, embora provavelmente, se os times jogarem dez vezes nos próximos anos o Barcelona vencerá nas dez vezes.
Vamos voltar aos incômodos sete a um de quatro anos atrás. Aquele placar surpreendente foi tomado por muitos brasileiros, provavelmente pela esmagadora maioria como metáfora da vida. Nós éramos um país fadado à eterna derrota. O Antonio Prata nas vésperas da derrota para a Bélgica relembrava a semifinal de 2014, e fazia comparações entre os gols da Alemanha e notórios maus políticos brasileiros. “Todo dia é um sete a um”, como costumava (costuma?) dizer uma amiga nas redes sociais da internet. Será?
Quanta gente prefere esquecer que aquela seleção brasileira de 2014 era desorganizada, vacilante e Neymardependente, apesar do técnico penta-campeão de 2002? Que depois da fase inicial, o Brasil passou aos trancos e barrancos por Chile, nos pênaltis, e pela Colômbia, pelo placar apertado de dois a um?
Neste último jogo, contra a Colômbia, houve aquela falta criminosa do Zuniga que tirou Neymar da Copa. De quebra, o zagueiro Thiago Silva, capitão da equipe recebeu o segundo amarelo e não poderia participar do próximo jogo.
Então tínhamos o seguinte, naquela semifinal em que o Brasil enfrentaria a Alemanha: o Brasil perdeu seu principal atacante e armador, e um dos principais defensores. Até então a Alemanha vinha em melhor campanha, embora sem um grande destaque. Lembro bem que comentei antes do jogo, que, pelas apresentações até então, para mim a Alemanha era favorita. Eu não estava otimista. Lembro de também ter comentado que eu esperava e torcia para que o Brasil não perdesse por placar mais elástico que dois a zero, e isso antes do início da partida.
Aí o resultado foi o que se viu. Uma paulada no ufanismo brasileiro. A depressão de nosso psiquismo.
Mas eu achei que foi um jogo de futebol. Uma derrota humilhante. Um placar estranho e que dificilmente se repetirá em qualquer momento no futuro. Venceu a melhor equipe, e, sim, a mais organizada.
Mas, sempre, o tempo passa.
Em 2016, a equipe olímpica do Brasil venceu a da Alemanha, na decisão da medalha de ouro nos Jogos de 2016.
Nesta Copa de 2018, os organizados alemães não conseguiram passar da primeira fase da competição, derrotados, vejam só, por México e Coreia do Sul.
Longe de mim, querer dizer que o Brasil é um país melhor que a Alemanha. Ou a Suíça, ou mesmo a Costa Rica, ou a fatal Bélgica, para pensar em adversários que tivemos nesta edição. Mas não é de países que estamos falando. É de futebol. E o futebol é explicado mais facilmente pelo que acontece entre as quatro linhas mesmo. Felipão não conseguiu montar um time em 2014. Tite conseguiu montar um para 2018, mas mesmo assim não conseguimos vencer. Faz parte. A ironia é que o time de 2014 ficou em quarto lugar. O de 2018 está em algum ponto entre a quinta e a oitava colocação.
Quanto às nossas idiossincrasias, Mariana, se devem a nós mesmos. Desde que o Brasil é Brasil. O país com o maior número de assassinatos do mundo, com níveis absurdos de acidentes de trânsito, com a maior desigualdade do mundo entre países de desenvolvimento econômico equivalente. Isso tudo é coisa nossa. E ninguém se importa.
Já faz tempo que acho que o sete a um é apenas o resultado de um jogo anormal. Acho que você já pode pensar o mesmo também!
08, 09/07/2018.
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