Hoje eu vi o Ivo
Hoje eu vi o Ivo
Hoje eu vi o Ivo.
Estava sentado num café, na Rua da praia, não muito longe da esquina da Caldas Júnior.
Hoje eu vi o Ivo, mas Ivo já não há.
Hoje eu vi o Ivo. E essa frase me lembrou frases de antigas cartilhas de alfabetização. "Ivo viu a uva". "A vaca do vovô está viva".
Hoje eu vi o Ivo.
Caminhava em sentido oposto ao meu pela General Câmara. Porte altivo, do homem alto que é Ivo. Caminhava no ritmo certo. Nem apressado, nem muito lento.
Na verdade, eu não vi o Ivo. Ivo morreu no final de 2011. Por conta daquela doença que não costuma ser nomeada. Ou não costumava. Hoje talvez nem tanto. Já atacou presidente, ex-presidente, vice-presidente e candidato a presidente. O que talvez tenha diminuído o estigma.
Mas não necessariamente a letalidade. No caso de Ivo, atacou-lhe o fígado. E dois meses após o diagnóstico levou-lhe a vida.
E talvez por isso Ivo me assombre.
Nas ruas de Porto Alegre não é difícil encontrar homens com o perfil de Ivo. Alto, alvo, olhos claros, barba grisalha, ascendência alemã. Idoso, mais de 70 anos, mas ainda jovial. Com projetos.
Foi um homem mais ou menos assim que vi sentado à mesa de um café na Rua da Praia. Foi um homem mais ou menos assim que vi na General Câmara.
Mas agora Ivo já não há.
Quando Ivo se aposentou, usou parte da indenização para comprar uma caminhonete movida a diesel. Juntou a mulher, a filha e o filho e foi fazer um giro pelo Cone Sul, Argentina e Chile. Como ele mesmo disse da viagem na volta: "uma bênção".
Mas agora Ivo já não há.
Não mais o trabalho voluntário.
Não mais os veraneios em São Lourenço do Sul.
Não mais o carinho de Giseh, sua mulher.
Como estará Giseh?
Que pensarão agora Cristina, sua filha, e Maurício, seu filho?
Hoje eu imaginei ter visto o Ivo. Mas Ivo já não há. Juntou-se a Deus na Glória. E tornou-se um reflexo de si mesmo nas nossas lembranças.
01/06/2012, 06/08/2012.
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