Diário – leituras – Dora, Dorinha
Dora Dorinha é uma antologia de textos escritos por Dora Marize Bittencourt Almeida, mais conhecida como Dora Almeida; Dorinha para os íntimos. Se trata de uma mulher nascida em Dom Pedrito, próximo à fronteira com o Uruguai, e que resolveu se aplicar à arte da escrita depois de ter lecionado Matemática por cerca de quarenta anos.
Este livro é uma homenagem a Dora Almeida, editado por conta de seu recente falecimento, acontecido, se não me engano, no final de setembro de 2024. Se tratam de crônicas e contos que estavam espalhados por livros de coletâneas e mesmo online, e que agora foram compilados neste volume, com curadoria de Giancarlo Carvalho e Dóris Almeida. Dóris é professora e filha de Dora. Giancarlo foi colega de Dora em oficinas literárias e se tornou um admirador do trabalho dela.
Os textos nos trazem uma escritora talentosa. Se tivéssemos um mercado de literatura mais maduro, mais desenvolvido, os escritos de Dora Almeida bem poderiam ser divulgados como escritora profissional, tal o talento manifestado pelas histórias no livro.
Seguem alguns destaques.
A primavera acaba é uma crônica que evoca outra crônica, do cronista Paulo Mendes Campos, chamada O amor acaba. Mas o texto de Dora Almeida tem mais leveza que a melancolia do mineiro. De quebra também se coloca na cidade de Porto Alegre, onde Dora viveu muitos de seus anos.
Lembranças do tempo e do vento é uma crônica que chama Érico Veríssimo já no título. Narra em vai vem as lembranças de uma avó, em vivência com o neto.
Rondó de mulher só é um conto, em que a personagem vive um dia, e lembra de outros tempos.
Histórias para não esquecer é um conto, ou uma crônica conto, sobre dois namorados vivendo os dias tensos, no Rio Grande do Sul, durante a campanha da Legalidade.
Carpe diem é também um conto ou crônica conto, muito breve, sobre a manifestação de amor entre um neto e sua avó.
De chuteiras e sapatilhas é um conto sobre um rapaz que precisa tomar uma decisão importante sobre caminhos a seguir na vida.
Fumaça na enchente é um conto sobre chuvas e inundações. E os dramas que daí decorrem.
Mate amargo y tortas fritas é uma crônica conto com lembranças que a narradora tem de sua avó. Lembranças da hospitalidade e seus rituais.
Setenta e nove prazeres é uma crônica em que a autora trata com certa galhardia a passagem do tempo e o peso dos anos sobre o corpo.
De sonhos e de sombras é um conto, com a tensão de um relacionamento, o ciúme, a ira. Com todo um suspense narrativo.
Paisagens conta como uma viagem de férias vai acabar com a chegada de uma pandemia.
Aqui só falo de uma pequena fração de tudo que há no livro. Ou seja, há bem mais, mais de sessenta textos. Além disso há uma série de pequenos depoimentos de pessoas que admiravam Dora Almeida, tivessem essas pessoas convivido com ela ou não.
Dora se foi no seu tempo. Quando a gente gosta, a gente sempre queria que a pessoa ficasse mais. Não foi possível ficar mais. Esse livro é uma homenagem a Dora Almeida, e uma lembrança dela. Um sinal da presença de alguém que se foi.
ALMEIDA, Dora. Dora Dorinha | Dora Almeida. Porto Alegre: Santa Sede, 2024.
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27/02/2025, 04/03/2025.
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