Diário – leituras – O Estrangeiro e A Peste


Não sei se a rara leitora ou raro leitor é como eu, capaz de ver um livro em uma livraria e comprá-lo sem pensar em quantos livros já há em casa, ou quando haverá tempo para lê-lo. No caso dessas duas obras que vieram ajuntadas em apenas um tomo foi um caso típico. 

Passei pela Livraria Saraiva que existia no calçadão da Rua dos Andradas em 2012. Não sei com que objetivo fui lá. Certo é que devo ter achado tentadora a oferta dessas duas obras clássicas da literatura francesa e mundial. E depois da compra, o volume ficou doze anos aguardando para ser lido. O que finalmente aconteceu. 

Albert Camus era um cidadão francês, nascido onde hoje é a Argélia. Durante todo o período da vida dele – de 1913 a 1960 – a Argélia era uma colônia francesa. Escritor, ele se tornou um paradigma do existencialismo francês, junto com Jean Paul Sartre, em meados do século XX. 

Por conta dessa sua origem talvez não deva ser estranho que ambas as histórias se passem na então Argélia francesa. 

Nesses livros, O Estrangeiro e A Peste, talvez possamos encontrar rastros desse existencialismo. 

Comecei a leitura por O Estrangeiro, que poderia ser chamada de “o calor de Argel”. Nesse caso, o protagonista se chama Meursault, um homem que vai vivendo sua vida aleatoriamente, apenas respondendo aos eventos que lhe cercam, começando pela morte da mãe em uma casa de repouso, até o assassinato de “um árabe”, por conta de uma desavença entre esse árabe e um amigo de Meursault. Uma vida sem grandes reflexões, sem grandes convicções, apenas reações. Atirar contra alguém na praia por conta de uma discussão foi uma reação. 

Já em A Peste, que poderia ser chamada “Orã e os ratos”, o protagonista é o Dr. Rieux, um médico que se torna um líder na luta sanitária contra a peste do título do livro. Um livro impactante que começa com esses ratos aparecendo mortos ou agonizantes pelas ruas e casas da cidade de Orã. Mas aqui também Rieux é posto a agir ou reagir à evolução da peste na cidade. 

Comentário curioso, talvez: encontrei paralelos entre essa história da peste em Orã e a recente pandemia de covid-19. 

Eis os dois livros em um tomo, e em um registro de leitura.

Essa literatura de Albert Camus é chamada de literatura do absurdo. Pode ser chamada assim. Em todo caso é difícil ler essas obras com indiferença. Pelo menos eu não fiquei indiferente. Acho que valeu a pena.


CAMUS, Albert. O Estrangeiro. Rio de Janeiro: Edições BestBolso, 2011. Tradução de Valerie Rumjanek. 

CAMUS, Albert. A Peste. Rio de Janeiro: Edições BestBolso, 2011. Tradução de Valerie Rumjanek. 


15/11/2024, 02/12/2024.

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