Marcio pediu para sair



Ontem foi dia do “bota-fora” do Marcio. 

Em um lugar tão tradicional como o Amarelinho. 

Eu estava em home office, e peguei o metrô para o centro, desde a Tijuca. 

O pessoal que está “in office”, ou como diríamos em outro tempo, o pessoal “na firma” foi caminhando mesmo. 

Quando cheguei já estavam reunidos. Bebendo e petiscando. A onipresente batata frita. E mais algumas coisas, como pedaços de frango, carne picada, queijo, salame italiano. 

As bebidas se dividiam entre a maioria dos bebedores de chope, e, ao que me pareceu, alguns drinques que as mulheres bebiam. Talvez lagoa azul e spritz. 

Tudo detalhes. 

Marcio estava deixando a companhia estatal e conseguiu uma vaga em uma multinacional na área. 

Lembro que há alguns anos eu e ele havíamos conversado sobre isso. Na época ele sondava uma multinacional diferente. Mas como se passaram anos desde esse assunto, eu achava que ele tinha se moldado à cultura da estatal, e ali ficaria. Ele inclusive alcançou uma posição de supervisão. 

Eu sentei do lado do Bino (que mãe, mesmo há 50 anos, colocaria o nome de Setembrino em seu filho?), e Bino havia feito justamente o caminho contrário, saindo de uma empresa internacional de hardware e software para a companhia estatal. Em uma das poucas conversas com ele, comentou que cansara das constantes reuniões de avaliação com seu chefe, e a cobrança por “performar”. 

Ali naquela reunião no Amarelinho, ele falava que se ganhava mais em uma multinacional. Eu tenho minhas dúvidas. E, claro, ninguém fala abertamente sobre o quanto ganha. E ali também não se falou. 

De maneira geral, estatais pagam um pouco mais que iniciativa privada para funções semelhantes, desde que não estejamos falando de diretorias. E o fato das contratações serem por meio de concurso, muitas vezes faz com que o quadro de pessoal tenha mais gente com nível formal de estudos maior. 

Então, ficou subentendido que Marcio saía para ganhar mais. Mas eu acho que o impulsionou foi o sentimento de estagnação na carreira. 

Marcio é um cara focado. Dos mais focados que já conheci. Sério. Além da área que tocava na empresa, fazia mais de dez anos era instrutor em cursos técnicos profissionalizantes. 

E procurou soluções para as situações em que se sentia frustrado. Inclusive traçou, teoricamente, planos que seus superiores poderiam, talvez, implementar. 

Mas não rolou. 

Naquele entardecer fresco de primavera carioca, estávamos nos despedindo do Marcio, reunidos no Amarelinho. 

Fabiana recém entrou em um financiamento para comprar um apartamento. Expressei-lhe meu desejo de felicidades na casa nova. Fabiana é a substituta natural para a posição de Marcio na companhia. No meu íntimo lhe desejei sorte. 

Fizemos vários brindes. 

E nas despedidas, abraços. 

Continuaremos amigos, continuaremos mantendo contato. Mas lamentei baixinho que ele tenha ido. 

"Todos os dias é um vai e vem

A vida se repete na estação

Tem gente que chega pra ficar

Tem gente que vai pra nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar

Tem gente que vai e quer ficar

Tem gente que veio só olhar

Tem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partir

São só dois lados da mesma viagem

O trem que chega é o mesmo trem da partida

A hora do encontro é também despedida

A plataforma dessa estação

É a vida desse meu lugar"


06, 07/12/2021.

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