Diário da Peste (XLIII) - 7 de setembro de 2021



Curiosamente, pela rotina, esta crônica deve ser publicada no dia 7 de setembro. Feriado. Dia da Pátria. 

Na minha caminhada habitual, no início da tarde de sábado, dia 4 passado, percebi em diversas residências o pavilhão nacional emoldurado em janelas e sacadas. Demorei a perceber que era um fenômeno ligado à Semana da Pátria. 

Quando eu era criança, cursando o ensino primário em escola pública, ali pela metade da década de 1970, nessa Semana, nós crianças éramos levadas ao pátio para cantar o hino nacional e hastear a bandeira. Minha memória se confunde com manhãs de dias frios. Como a Semana da Pátria é sempre quando o inverno está se despedindo e a primavera começa a dar o ar de sua graça, minha memória deve estar misturando lembranças. 

Uma vez coube a mim o ritual de hasteamento da bandeira. Motivo: eu estava com o uniforme completo que costumava ser usado por aqueles dias. Calça azul marinho, camisa branca, a gravatinha, também azul marinho, com o logotipo da escola. Provavelmente eu calçava kichutes. 

Tímido que sou, tremi como vara verde, e hasteei a bandeira em dois segundos. Depois fiquei fingindo que continuava hasteando enquanto esperava que o hino terminasse. E como é longo o Hino Nacional Brasileiro! 

Depois veio a abertura, o fim dos governos militares, e eu cresci. Aquele ritual ficou para trás. 

Eu fui descobrindo o país em que eu vivia. Um país de miseráveis, analfabetos, desdentados. 

Mas era o meu país. 

E com a tal redemocratização, e a sucessão de eleições, eu esperava que o país chegaria a ser quase uma Suécia, em umas duas ou três gerações. 

Mas aí vieram as jornadas de junho de 2013. 

Aí veio o 17 de abril de 2016. Meu 7 a 1 pessoal. Esse que ainda não superei. 

E ao ver tantas bandeiras expostas, fiquei pensando se todas essas residências abrigavam fascistas, haja visto que hoje parece que são os fascistas os que mais têm orgulho de ostentar o pavilhão nacional. 

Depois vi fotos de amigos de redes sociais com situação semelhante. Uma bandeira nacional à janela. 

Então, talvez, muitas dessas casas, sobrados e apartamentos com bandeiras não abriguem fascistas.

Apenas pessoas que gostam de manifestar certo orgulho do país em que vivem. 

Hoje com um tantinho menos de miseráveis, analfabetos, desdentados. Embora ainda demasiados

Pessoas que gostam de manifestar certo orgulho do país em que vivem. 

Porque afinal é o seu país. 

Pessoas que gostam de manifestar certo orgulho do país em que vivem. 

Apesar de tudo


05,07/09/2021. 

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