Crônica de um domingo de impeachment
Crônica de um domingo de impeachment
No domingo do impeachment, dia 17 de abril de 2016, eu levantei tarde, comi algo e saí de casa para acompanhar a votação da Câmara dos Deputados na Praça da Matriz, no Centro da cidade, onde estava o público legalista, dito pró-governo (o público golpista, dito pró-impeachment estaria reunido no Parcão, reduto da alta classe média porto alegrense).
Ficar em casa não era uma boa opção por conta de um bom número de vizinhos reacionários, batedores de panelas, indignados com a corrupção do PT (mas aparentemente não com a corrupção do PMDB, PP, PSDB, PTB, DEM ou SD, por exemplo).
Este mês de abril tem feito um calor atípico. Então era um dia de outono que parecia verão.
Como eu disse, saí de casa, e peguei uma lotação. A lotação me deixou na Praça do Dom Feliciano. Dali, pela Avenida Duque de Caxias, é uma caminhada de uns 500 metros até a Praça Marechal Deodoro, popularmente chamada de Praça da Matriz. A Praça da Matriz é o coração político do Rio Grande do Sul, tendo ao seu redor o Palácio Piratini, sede do executivo estadual, o Palácio Farroupilha, sede da Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça, e, de quebra, a Catedral Metropolitana católica.
Ali foi instalado o Acampamento da Legalidade na semana anterior, como uma tentativa de resistência à tentativa de impedir a atual presidenta Dilma Rousseff, reeleita em 2014. O acampamento foi instalado por membros do MST e da CUT, e contou com a participação de diversos ativistas e simpatizantes.
Quando lá cheguei, havia um caminhão de som, com show musical, em frente à Catedral.
Já do outro lado da Praça, em frente ao Teatro São Pedro e ao prédio do Tribunal de Justiça, estavam dois telões com um palanque entre eles. Eram cerca de três e meia da tarde. Naquele momento os líderes partidários discursavam. A votação só iria começar por volta das cinco.
A escadaria que fica junto ao Monumento a Julio de Castilhos, servia como uma arquibancada, de onde o público podia assistir aos telões. O sol do outono fazia com que o consumo de bebidas, alcóolicas ou não, fosse grande.
De maneira geral, as pessoas ficavam em rodinhas de amigos, aguardando o momento da votação.
Que afinal começou depois das cinco, sob o comando do inefável deputado Eduardo Cunha, réu em dez processos no STF.
A expectativa era que o governo pudesse barrar o impeachment no plenário, por um placar apertado. A votação pelo impeachment precisaria de 342 votos, para que o processo de impeachment pudesse continuar.
Iniciada a votação, pelos parlamentares do Rio Grande do Sul, começou o show de horrores.
A bancada do PP do RS, toda ela citada na Operação Lava Jato, votou toda pelo impeachment. O deputado Giovani Cherini, do PDT de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, votou pelo impeachment. E isso foi um prenúncio de como seria a votação.
Por volta de onze e meia o prosseguimento do impeachment estava definido.
Deixei a praça para voltar para casa.
No caminho, Rua Duque de Caxias, havia alguns batedores de panela. Coitados. Devem estar passando fome. Devem estar felizes que o governo que lhes faz passar fome foi golpeado.
19, 21/04/2016, 28/06/2016.
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