Sabor especial (II)

Faz mais de três meses escrevi uma crônica, onde eu dialogava com minha irmã, comentando sobre minha alimentação naquele início de quarentena da pandemia. Por aqueles dias, fazia apenas três semanas que estávamos confinados. 


Relatava a sofisticação possível para os pratos que então eu comia, relembrando os relatos feitos pela mana. Em todo caso, mesmo com o acréscimo de salada de tomates e queijo parmesão ralado por cima, ali eu comentava que comia basicamente massas descongeladas em micro-ondas. 


Como eu disse, desde então, três meses se passaram. A prefeitura de porto alegre permitiu a abertura de bares e restaurantes, com capacidade de atendimento reduzida, e, diante do rápido aumento de contaminação pela peste, determinou novo fechamento desses estabelecimentos. 


Diante disso, resolvi comprar alguns apetrechos novos para a cozinha. 


O primeiro foi uma fritadeira elétrica por fluxo de ar quente. O parâmetro para esse equipamento é chamado de "air fryer", cuja propaganda mostrava batatas fritas "sequinhas", feitas com apenas "uma gota de óleo", em contraposição ao modo tradicional de fazer batatas fritas, no qual se pode despejar até meio litro de óleo em uma frigideira. Quem me chamou a atenção para o equipamento foram as embalagens de frango empanado congelado, com indicações para o preparo em "air fryer". Eu me arriscava a aquecer esses pedaços de frango empanado no micro-ondas. Ficava meio borrachudo, mas deglutível, com sabor razoável. Ainda não me arrisquei com as batatas fritas no aparelho; batatas fritas são altamente glicêmicas. 


Depois veio a panela de pressão elétrica. A vontade de adquirir esse outro dispositivo veio de algum vídeo visto na internet, sobre a facilidade de cozinhar feijão, e, adivinhem, arroz, nessa, bem, panela. Sim, já cozinhei feijão e arroz com ela. Recentemente cozinhei uma sobrecoxa de frango. 


Também comprei uma outra panela, simplesmente chamada de panela elétrica. De fato, uma imensa frigideira que usei até agora para fritar ovos. 


Com tudo isso, eu poderia dizer que agora estou cozinhando. É uma interpretação possível. 


Prefiro pensar que esses aparelhos estão para a cozinha como a máquina de lavar roupa está para a lavanderia. Ou seja, para mim são "máquinas de fazer comida". Coloca-se os ingredientes dentro, programa-se o tempo, no caso do air fryer a temperatura, e logo temos a comida pronta. Ou quase, às vezes o feijão endurecido requer mais tempo que o programado, ou frango ainda está meio cru. Nada que um acréscimo de água, uma virada de lado, e mais alguns minutos no dispositivo não resolvam. 


As massas congeladas se tornaram raras.


Minha dieta ficou mais rica e saborosa. Minha gratidão interior se tornou maior. A quarentena um tantinho menos tediosa. 


24/07/2020.

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