A Quarentena Acabou


Ou não. Ou talvez sim.

O que quero dizer? Vamos começar pelo paradoxo do sucesso, ou "o sucesso que cultiva o fracasso", nas palavras do biólogo Átila Iamarino. 

Porto Alegre, e mesmo o Rio Grande do Sul, ao contrário de outras regiões do Brasil, têm mantido a epidemia sob relativo controle. Controle significa que nossas UTI's e emergências não estão superlotadas com doentes da covid-19. Infelizmente, sim, pessoas têm morrido, mas com o colapso do atendimento médico a situação seria muito pior, porque muito mais pessoas morreriam simplesmente porque não haveria condições de serem atendidas, como pode estar acontecendo no Amazonas, e aconteceu, certamente, em Guayaquil, Equador. 

As iniciativas precoces do governador Eduardo Leite, e do prefeito Nelson Marchezan, de suspender aulas, fechar comércio, e enviar o que fosse possível para tele-trabalho ("home office"), conseguiu fazer com que a taxa de contágio diminuísse muito. 

O sucesso dessa iniciativa faz parecer que não haja necessidade de quarentena, pois as taxas de contaminação em Porto Alegre, e no Rio Grande do Sul em geral, parecem estar sob controle. 

Ora, se não parece haver crise sanitária, para quê a quarentena? Eis o sucesso que cultiva o fracasso. 

A quarentena acabou porque estamos vivendo um, digamos, "novo normal". Esse novo normal consiste no uso generalizado de máscaras pela população (sim, há quem não use, mas esses já podem ser considerados rebeldes, transgressores, antissociais), no distanciamento social, que nos municípios da Grande Porto Alegre já consiste em reabrir comércio, incluindo bares e restaurantes, com afastamento de mesas e redução do atendimento a 30 a 50 por cento da capacidade dos estabelecimentos, antes da pandemia. 

E creio que a situação só tende a relaxar mais. A menos, claro, que a peste resolva recrudescer. Neste caso será previsível que as restrições voltem a aumentar. 

E os idosos? Os portadores de comorbidades? Esses deverão continuar se resguardando, pois o coronavírus (Sars-Cov-2) continua por aí, à volta, o inimigo invisível a espreitar-nos todos. O risco vai aumentar porque o virus deve começar a circular e contaminar mais.

A ver como ficaremos, enquanto aguardamos a vacina ou o tratamento eficaz.

19/05/2020.

Comentários

  1. Penso que voltaremos a fechar, com o custo de mais mortes. E ainda nos falta senso de coletividade, basta ver os parques nos finais de semana. Teremos um longo período pela frente. Sair em segurança não está no horizonte, seja pelo vírus ou pelo aumento da fome e acirramento das desigualdades.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Jussara Fösch partiu em 16 de abril de 2024

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

16 de outubro de 2024