Diário - leituras - O Brasil holandês


Diário - leituras - O Brasil holandês



Como o próprio nome diz, é um livro sobre a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil (1630-1654).

O diferencial deste livro é que nele Evaldo Cabral de Mello é um organizador a mostrar todo o período da invasão holandesa aos domínios portugueses na margem oeste do Atlântico Sul através de textos do século XVII, ou seja contemporâneos ao período abrangido. São crônicas, relatos, correspondências e relatórios militares que o autor selecionou para falar daquele período.


Evaldo Cabral de Mello é um especialista no assunto, tendo publicado alguns livros a respeito do assunto, entre os quais “O Negócio do Brasil” e “Olinda Restaurada”.


Assim por meio destes textos do século XVII, ele fala da invasão holandesa. Fala do período de impasse do início da ocupação (1630-1632), a consolidação da ocupação holandesa (1632-1637), o período do governo de Maurício de Nassau, considerado o apogeu da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro (1637-1644), e a rebelião luso-brasileira (1644-1654).


A abordagem de Evaldo Cabral relembra aqueles personagens que são relativamente conhecidos para quem estudou História do Brasil no ensino fundamental ou no secundário: Fernandes Vieira, Henrique Dias, e Felipe Camarão (que nós, portoalegrenses, gostamos de dizer que acabaram batizando uma série de ruas do Bom Fim, o antigo bairro judeu da cidade) . O próprio Maurício de Nassau é personagem importante, e conseguiu conter quaisquer ímpetos rebeldes nos luso-brasileiros durante seu governo. Além disso, fala dos nomes menos conhecidos, aqueles da Holanda, como, por exemplo, o general von Schkoppe, que acabou derrotado nas duas famosas batalhas de Guararapes.


Mas é interessante também por colocar a invasão à colônia portuguesa no contexto dos problemas europeus. Por exemplo, os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro durante o período da União Ibérica, quando o Felipe II, rei de Castela, isto é, da Espanha, tomou a coroa do Reino de Portugal, após uma crise sucessória neste país. E é pouco depois da restauração da autonomia portuguesa que a rebelião contra os batavos inicia.


Evaldo Cabral relembra que a invasão do Nordeste se dá sob a égide de uma companhia de cotas de capitais, uma espécie muito particular de empresa privada, capaz de, sob autoridade dos Países Baixos, controlar uma grande extensão de territórios, monopolizar áreas de comércio, exercer poder militar e fiscal. Assim era a Companhia das Índias Ocidentais, responsável pela ocupação do Nordeste, e pela possível exploração de seus recursos, no caso, principalmente o açúcar.


O livro conta com bilbiografia selecionada. Até porque o autor informa que uma bibliografia relativamente completa, poderia chegar a dois volumes (ele toma por base uma bibliografia compilada por José Honório Rodrigues, em 1949, sobre o assunto, que gerou um livro. Segundo Mello, uma atualização geraria um segundo volume).


Não é a obra mais completa sobre o assunto, nem a melhor síntese, mas é uma bela obra. Digna de ser lida.





MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O Brasil holandês. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.



19/03/2012.

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