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Mostrando postagens de 2024

Um sobrenome Ginzburg

Na primeira década deste século XXI eu cursava História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Naquela época, durante a graduação, uma das primeiras atividades extracurriculares de que participei foi um simpósio de História Medieval, cuja grande estrela seria o historiador italiano Carlo Ginzburg.  Carlo Ginzburg era relativamente conhecido no Brasil, pois alguns de seus livros foram publicados por aqui. O livro mais famoso se chamava O Queijo e os Vermes, em que o autor faz uma pesquisa sobre um moleiro que tinha ideias consideradas heréticas pela Igreja Católica, e por esse motivo foi perseguido. Ginzburg fez sua análise justamente a partir dos arquivos da Inquisição. Seus estudos acabaram gerando um ramo da historiografia chamado Micro-história, em que o historiador se debruça sobre um período de tempo e um espaço geográfico muito restrito. No caso em questão, o estudo era sobre o comportamento da Inquisição, em meados do século XVI, ne região do Friuli, na Península Itálica

Mãe, faz um ano que estou aposentado

Mãe, Faz um ano que estou aposentado. De fato na data em que escrevo, faz um ano e um dia.  Tudo passou muito rápido, mãe. Como rápida parece a vida quando olhamos para trás.  1980. No final daquele ano a Lúcia informou que havia uma vaga para office-boy na empresa em que ela trabalhava. Sim, houve nepotismo. Eu tinha quatorze anos. Meu primeiro contrato de trabalho foi assinado em janeiro de 1981. 1981. Aquele seria o ano em que o pai se aposentaria e eu começaria a trabalhar. Office-boy, como já disse.  E a frase que ficou na minha cabeça foi o teu comentário, ou recomendação, que, começando cedo assim, antes dos cinquenta anos eu poderia ter uma aposentadoria e garantir um salário mínimo por mês. Era algo significativo porque o pai sempre teve contratos precários, mesmo sendo um bom profissional pedreiro. Havia aquelas histórias que contavas, que na primeira metade do século XX, quando houve as primeiras leis concedendo férias ao trabalhador que trabalhasse por um ano inteiro, os pa

Cara Maria – XVI – Um tour por alguns escritores de Porto Alegre

Cara Maria, Viajei em teu texto sobre Porto Alegre . Pensei em te copiar, mais ou menos como fiz quando escreveste sobre a Rua Duque de Caxias, mas depois desisti. Pensar que esses textos da Duque, o teu  e o meu , já têm mais de dois anos... Nunca morei no centro da cidade, mas trabalhei ali por 42 anos. Na minha infância o centro era uma espécie de jornada mágica, uma viagem para onde minha mãe me levava, acompanhando-a a resolver algum problema, em geral alguma conta a pagar, ou algum artigo a comprar. Às vezes consultas médicas ou dentárias, dela e minhas. Quando comecei a trabalhar, o centro se tornou uma espécie de território meu. Ainda mais que nos meus primeiros quatro empregos minhas atividades eram total ou parcialmente as atividades de um office-boy, caminhando pelas ruas centrais, para lá e para cá.  Mas como eu te disse, desisti de desenvolver essas ideais.  Mais ou menos na mesma época em que escreveste tua crônica homenageando o mais recente aniversário de Porto Alegre,

Caras Carol, Gian e Rubem: quem tem amigos tem tudo – lembranças da sessão de autógrafos de Confinado um diário da peste

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Minhas caras, Escrevo na terça-feira. Queria ter escrevido antes, mas não consegui. Se tivesse escrevido antes, teria registrado tudo mais a quente.  Lembrando novamente a Ana Luíza Rizzo, segundo a qual “um livro não é obra de uma só pessoa”, ou algo assim, lembro do incentivo inicial do Gian, quando soube da existência do, digamos, manuscrito digital, “vamu lá”. A notícia logo se espalhou e o Rubem liberou a possibilidade da edição pela Editora Santa Sede, e a Carol aceitou fazer a revisão do texto. Coerente consigo mesmo, o Gian diagramou o livro.  Também a Carol foi a pessoa que disse que o livro não poderia ser publicado sem um lançamento e sessão de autógrafos, como era desejo do autor. Sim, a princípio o autor queria publicar o livro muito discretamente. Carol achou que não fazia sentido. Assim, ela viabilizou uma data conveniente e marcou essa data no Bar Apolinário. O Gian fez as artes da divulgação.  Então, no dia 5 de abril de 2024 lançamos o livro “Confinado, um diário da p

Feliz Páscoa em 2024

A conversa por videochamada ia terminando. Então houve o desejo de “Feliz Páscoa”.  "Embora eu não entenda como se possa desejar Feliz Páscoa pela morte de alguém." Eu acabei por responder que na Páscoa não se celebrava a morte de ninguém, mas, pelo contrário, a ressurreição de alguém, no caso a ressurreição de Jesus, o Cristo. Ainda tive oportunidade de dizer que a lembrança da morte do Messias acontecia na chamada Sexta-Feira Santa. O dia em que, depois de celebrar a Páscoa Judaica com seus discípulos, no que conhecemos por Última Ceia, Jesus, o Cristo, foi preso, julgado e condenado à morte em um dia.  Talvez para a racionalidade do século XXI da era cristã (sim, da era cristã. É isso que vivemos, o Ano do Senhor de 2024, em latim de almanaque, ou algo assim, Anno Domini) a ressurreição seja algo demasiado. Melhor pensar em vida espiritual ou reencarnação (enfim, nos dias de hoje, quem poderia nos dizer o que é correto? Fato é que o Novo Testamento fala em ressurreição há

Cara Maria – XV – Gracias por tu vida

Cara Maria, Melhor usar meu macarrônico espanhol para agradecer por tua vida. Nesse caso acho melhor dizer  “ gracias ” , que  “ obrigado ” , que carrega obrigação junto de si. Se fosses uma crente cristã eu diria graças a Deus pela tua vida, como acho que não és, vale ser grato por estares aqui e por aí, sem proselitismos.  Desde que te escrevi há duas semanas, passou o bloqueio. Foi como se uma rolha ou uma tampa fosse retirada dos pensamentos, para que eles pudessem fluir e voltar a formar textos.  Continuo acompanhando teus textos.  No anterior , se tudo der certo, mais atividades físicas no próximo verão, sem a atrapalhação de lesões.  No de hoje , por que se pensa pouco nas vítimas da violência sexual? Em especial se o violador é famoso?  E seguimos acompanhando a tensa situação da invasão da Faixa de Gaza.  Recentemente li um artigo do jornalista Thomas Friedman cujo título é “Netanyahu tornou Israel radioativo pelo modo como conduz guerra em Gaza”. É um longo texto relembrando

Cara doutora, eventualmente algum dia vai mal

Cara doutora, Hoje o dia começou mal. Pelo aplicativo de mensagens no celular enviei para minha ex-mulher uma mensagem que deveria ter enviado para meu filho. Se Freud estivesse vivo, ele explicaria se o que fiz foi um ato falho, ou uma simples distração que virou uma imbecilidade. Como resultado, recebi uma cascata de mensagens sobre um amor que morreu, mas que não devia ter morrido. Sobre um luto em vida que não se realizou (de fato, parece esse luto que não se realiza).  Hoje seria dia de encontrar a namorada.  Ela também não estava de bom humor. Ontem tivemos um desentendimento a respeito do que deveríamos fazer hoje, do tipo viajar a uma cidade mais ou menos próxima ou não. Não gosto de rompantes. Eu não queria viajar com base em decisão tomada na véspera da viagem. Ela queria. Houve uma discussão e apesar da tensão inerente, achei que havíamos chegado a algum consenso. Iríamos viajar, mesmo que eu não achasse uma boa opção. Contudo, hoje ela decidiu não viajar. Pensei que ela tiv

Cara Carol – III

Cara Carol, Espero que tenhas visto que recentemente acabei de ler o livro Caro Michele da Natalia Ginzburg. Por conta disso, publiquei o registro da leitura no blogue . Agora já posso dizer que li o livro com o título que inspira o título desses textos. Eu poderia inclusive colocar aqui um emoticon, ou emoji, com um sorrisinho de satisfação.  Continuo lendo a revista Piauí. As leituras continuam atrasadas. A leitura mais recente que foi concluída foi a edição de junho de 2023 (edição 201). Neste caso, me chamou a atenção uma reportagem chamada A Fraude Titânica, em que a repórter Consuelo Dieguez relata o escândalo (ou a fraude) contábil das Lojas Americanas. O maior escândalo (ou fraude) do capitalismo brasileiro. Que começa, como talvez lembres, com o anúncio dos tais problemas contábeis pelo então novo e recém empossado CEO das Americanas, Sergio Rial. Então foi anunciado que a dívida real da empresa era de cerca do dobro do que se pensava anteriormente.  Por conta disso, Dieguez f

Diário – cinema – Duna 2

Após mais de dois anos, pude assistir a continuação de Duna , essa saga de ficção científica, baseada nos livros de Frank Herbert.  De fato, o filme é um pouco mais do mesmo, isto é, do filme anterior, com suas viagens espaciais, suas ordens religiosas, sua estrutura que me lembra o medievo europeu. Um pouco de jornada do herói para o protagonista Paul Atreides, um pouco de papel de messias indeciso também para ele – a religião tem papel importante naquela sociedade. E neste filme, com um pouco mais de ação.  Paul Atreides é totalmente incorporado ao exército fremen em sua resistência à exploração que a casa de Harkonen faz da mineração da especiaria, que está no solo do planeta Arrakis. E ali vai assumindo um papel de liderança.  Sobre a especiaria e outra substância que aparece no filme, fiquei pensando que essa humanidade imaginada por Herbert, Jon Spaihts e Denis Villeneuve, centenas de anos no futuro ainda precisa de drogas para viver.  Apesar de longo, com quase três horas de dur

Cara Maria – XIV

Cara Maria, Faz três semanas que não escrevo crônicas para o meu blogue.  A cada semana estão lá as palavras que usei para me referir a mim mesmo nesses dias: na primeira semana confuso; na segunda semana atrapalhado; por fim, na terceira semana bloqueado.  O último texto publicado, em 13 de fevereiro passado , era sobre um velho relógio que pertenceu ao meu pai. Meu pai falecido há 34 anos.  Naquele texto eu tive vontade de falar ao fantasma do meu pai sobre a floração das extremosas. Em fevereiro ainda havia uma floração exuberante nessas arvorezinhas. Mas acabei não falando das plantas com flores cor de rosa, por mais que eu quisesse. Não parecia fazer muito sentido naquele texto. E agora as extremosas estão perdendo suas florezinhas. O outono vem chegando.  Acho que a minha confusão, a minha atrapalhação, e o meu bloqueio acontecem porque estou prestando atenção demais ao ataque de retaliação de Israel à Faixa de Gaza. Trinta mil mortos (e contando) é gente demais. É 1,3% da popula

Diário – cinema – Ferrari

No domingo, 25 de fevereiro de 2024, estive em um cinema para assistir ao filme Ferrari.  É até engraçado que um nome tão forte, em relação ao automobilismo – podemos pensar na equipe de Fórmula 1, ou nos automóveis de luxo da marca – aborde um pequeno período de uma parte do ano de 1957 na vida no criador da marca, o “commendatore” Enzo Ferrari. Junto com ele, sua esposa Laura, sua amante Lina, e seu filho, fruto do relacionamento com Lina, Piero.  Nesse momento, 1957, a marca de automóveis esportivos de luxo passava por dificuldades financeiras. Para tentar superar os problemas Enzo Ferrari pensa em vender parte da empresa para uma montadora de automóveis maior, e também em vencer a “Mille Miglia”, tradicional competição automobilística pelas ruas e estradas da Itália.  Os papéis de Enzo e Lina são muito bem interpretados por Adam Driver e Shailene Woodley. Penélope Cruz se sai bem com sua Laura, mas me deu a impressão de uma personagem caricatural, sempre de cara amarrada, olheiras,

Diário – leituras – Caro Michele

Caro Michele é um curto romance de Natalia Ginzburg, escritora italiana nascida em 1916 e falecida em 1991. Foi publicado originalmente em 1973. A edição brasileira que li é da Editora Paz e Terra, de 1986, com tradução de Federico Mengozzi. Há edições brasileiras mais recentes.  Resolvi ler este livro porque o título me inspirou a escrever crônicas mensagens. Primeiro para minha amiga Maria, a quem já dediquei treze textos. Depois para minha amiga Carol, com dois textos.  Nos últimos tempos tenho lido mais de um livro simultaneamente. No momento, leio as memórias de Bono, do U2 (Surrender); o romance Saraminda, de José Sarney; a coletânea de contos de Nelson Ribas, chamada Arrabaldes; e um volume da coletânea de crônicas de viagens, de Cecília Meireles, cujo nome é, bem, Crônicas de Viagem 1. Conforme a justificativa do parágrafo anterior, Caro Michele acabou entrando na frente dos outros livros, e a prosa de Ginzburg me envolveu. Foi difícil largar o livro antes de chegar ao seu fina

05/03/2024: sem publicação de crônica

O blogueiro metido a cronista está se sentindo bloqueado.  Ele tem esperanças de, se tudo der certo, publicar uma nova crônica  em 12 de março de 2024.

Diário – leituras – Horas íntimas: Master Class Santa Sede para Vinicius de Moraes

A gente lê uma obra e diz para si mesmo que daqui a pouco vai escrever alguma anotação a respeito. Quando vê, já se passou quase meio ano desde o final da leitura. Foi o que aconteceu comigo com o livro Horas íntimas: Master Class Santa Sede para Vinicius de Moraes. Eu adquiri o livro no seu lançamento, perto do final de 2021. Terminei de lê-lo perto do final de 2023 (e aqui um esclarecimento: eu não comecei a lê-lo imediatamente após a aquisição. Houve um bom espaço de tempo em que ele ficou na fila à espera de leitura). Estou escrevendo no final de fevereiro de 2024.  Horas íntimas é mais um livro produzido pela Oficina Literária Santa Sede, em suas masterclasses (e me dou conta aqui que costumo escrever “masterclass” assim, tudo junto, e aqui no título está “Master Class”, separado e com maiúsculas), que anualmente homenageiam cronistas.  Horas íntimas tem certas peculiaridades.  Como Vinicius é muito mais conhecido como poeta, inclusive tinha o apelido de Poetinha, este livro tem p

Diário – cinema – Nosso Lar 2: Os Mensageiros

No início deste mês de fevereiro de 2024 que vai findando, estive em uma sala de cinema para assistir ao filme Nosso Lar 2: Os Mensageiros. Trata-se de uma obra de temática religiosa espírita kardecista, na qual alguns espíritos liderados por Aniceto, interpretado por Edson Celulari, engajam-se em projetos para melhorar o mundo e fazer o bem. Aniceto é um espírito evoluído já alcançou tal grau de maturidade espiritual que não necessita mais reencarnar.  O filme não me parece ter um enredo propriamente dito, mas um sequência de esquetes que podem, ou não, mostrar aspectos da doutrina espírita kardecista para os espectadores. Há momentos para exaltação de obras de caridade, há momentos para valorizar o poder do perdão, momentos para mostrar força na crença da evolução das pessoas, ou seja dos espíritos, etc.  Além disso, na minha opinião, há um outro problema, relacionado à religião: em muitas cenas, os atores parecem estar mais discursando que atuando, sendo que, sempre na minha opinião

27/02/2024: sem publicação

O blogueiro metido a cronista está atrapalhado.  Tão atrapalhado que não conseguiu novamente se organizar para publicar uma crônica hoje. Se tudo der certo, uma nova crônica deve ser publicada em 5 de março de 2024.

20/02/2024: sem publicação

O blogueiro metido a cronista está confuso.  Se tudo der certo, uma nova crônica deve ser publicada em 27 de fevereiro de 2024.

A estranha situação de estar enviando uma mensagem ao meu pai morto sobre um velho relógio às vésperas do Carnaval de 2024

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Pai, Fiquei pensando em ti esta semana. Uma reflexão da semana passada  relembrou que neste dia 4 de fevereiro se completaram 34 anos da tua morte. Uma morte que senti muito, muito.  Estou escrevendo numa quarta-feira. No sábado será Carnaval. Possivelmente eu publique esse texto na Terça-Feira Gorda.  Não herdei muita coisa. Um pijama. Um roupão. Um par de sapatos. Tem um colega de trabalho que ficou com esse item de herança fixado na cabeça dele. Ele achou surpreendente que eu pudesse herdar um par de sapatos do meu pai.  Um relógio.  Esta semana usei este relógio. Aquele mesmo relógio comprado provavelmente em 1965. Teria sido na antiga Casa Masson? Um relógio que, para ti, era tão caro à época, que precisaste do apoio do salário de minha irmã para, como se dizia, abrir um crediário, e poder comprar esse relógio em não sei quantas vezes. Um dos relógios que sempre davas corda antes de deitar para dormir (o outro era o despertador que, às vésperas de conseguires te aposentar, chamava

Diário – leituras – Santas de Casa

Já se vão dois meses e alguns dias desde que li o livro Santas de Casa, de Fátima Farias.  Poderia de se chamar “contos, crônicas e memórias de uma menina de Bagé e de Porto Alegre”, pois nele estão entrelaçadas as lembranças da infância e juventude no município do sul do Rio Grande do Sul e de tempos posteriores na capital.  E são muitas lembranças. Das árvores frutíferas no pátio de casa. Das caminhadas para a escola (e depois a reflexão sobre a geografia alterada no reencontro desse caminho). Das conversas e dos silêncios das mulheres da família (mãe, vó, tias… as santas que dão nome ao livro). Do racismo sofrido pelo pai (ele era um dos músicos que animavam bailes em sociedades em Bagé, mas não podia frequentar essas mesmas sociedades – lembra do filme Green Book?).  Sendo que, me parece, a partir dessas memórias podemos generalizar o tipo de vida que levavam pessoas semelhantes em Bagé, no sul do Rio Grande do Sul, e em Porto Alegre, sua capital, na periferia do Brasil.  Um livro

3 de fevereiro de 2024. Se isso fosse um diário…

Não é um diário. É só um momento de recordações e comentários. Mas bem poderia ser uma entrada em um diário.  Em 3 de fevereiro de 1925 nasceu minha mãe. Portanto hoje é aniversário dela. Se estivesse neste mundo dos vivos, faria 99 anos.  Em 3 de fevereiro nasceu meu novo, recente, amigo, Carlos Leão. De fato, não me lembro que idade ele tem, mas, de qualquer forma, parabéns para ele por mais um ano de vida. Sempre é tempo de celebrar a vida.  Ontem, 2 de fevereiro, foi feriado municipal em Porto Alegre. Feriado religioso, católico: Dia da Senhora dos Navegantes. Também foi aniversário do amigo de longa data, Claudio Machado. Quantos anos? Eu chutaria 63, mas não tenho certeza. Amigo, provavelmente desde 1982, ou seja, há mais de quarenta anos. Se bem que houve aí um longo período sem nos comunicarmos. Não foi briga, são aqueles afastamentos que a vida gera vez por outra. Tudo bem. Hoje voltamos a nos comunicar.  E assim o tempo passa. 22 de janeiro passado se completaram seis anos de

A morte do velho erudito

O velho erudito morreu hoje. Recebi a notícia por emeio.  Nem era tão velho. Estava com menos de sessenta anos, o que é mais de uma década em relação à idade média da população masculina brasileira.  No último encontro que tivemos, o velho erudito celebrava a aposentadoria. Entre tantas questões econômicas, ele lembrava que a imprensa corporativa vivia sempre pregando a postergação dessas aposentadorias. O velho erudito dizia que havia começado a trabalhar sendo ainda menor de idade. Por conta disso, poderia se aposentar antes dos cinquenta anos, mas, por causa das tantas reformas previdenciárias havidas nos últimos trinta anos, foi obrigado a aguardar até quase os sessenta. Reclamava que se fosse em um país civilizado, as tais reformas previdenciárias deveriam valer para quem estivesse iniciando no mercado de trabalho, não para ele que já trabalhava há quinze anos quando a primeira reforma jogou a aposentadoria dele para uns cinco anos após o previsto. Não tinha certeza sobre qual paí

Cara Carol – II

Cara Carol, Estive pensando que esse tipo de título, “Cara Carol” (segundo capítulo) ou “Cara Maria” (décimo-terceiro capítulo) não devem ser muito bons para “caçar cliques”. Talvez “O artigo X que li na Piauí”, ou “O Clima em Porto Alegre na terceira semana de 2024” fossem melhores para isso. Contudo, como o número dos meus leitores, minhas leitoras, mxs leitorxs é próximo de zero (não se trata de um zero absoluto, mas, colocando nos termos da série de livros “Guia do Mochileiro das Galáxias”, se montássemos uma fração com o número de leitores deste blogue, digamos dez pessoas como numerador, e com o número de pessoas alfabetizadas no estado do Rio Grande do Sul, talvez seis milhões de pessoas [ou mais] como denominador, o número dos leitores deste blogue tenderia a zero, em termos matemáticos), reproduzo no título a evocação  destas crônicas mensagens. Também procuro, de alguma forma me manter fiel à minha inspiração, isto é, o livro “Caro Michele”, de Natalia Ginzburg. Por sinal, ac

Cara Maria – XIII

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Cara Maria, 2024 chegou e nós estamos como? Escrevendo, claro.  E eu vou escrevendo sobre aquele assunto mais ou menos conhecido, e mais ou menos repetido: tempo; clima.  Deves ter visto a manchete do início deste ano, informando que 2023 foi o ano mais quente da história , desde que as medições têm sido feitas. E temos tido cada vez mais tempestades cataclísmicas.  Vamos sobrevivendo.  E eu nem queria escrever sobre catástrofes.  É que em um dia desses, do início de janeiro, me vi pensando em Porto Alegre. Aqueles momentos epifânicos, momentos eureca. Acho que já deve ter acontecido antes. Aconteceu de novo.  Era um dia de desses de calor insuportável (se bem que suportamos) do verão na cidade. Aqueles dias em que chamamos carinhosamente esta praça de Forno Alegre. Nesse dia, por conta desse calor terrível, saí para a minha caminhada de saúde após as dezessete horas. Momento em que a temperatura ia lentamente diminuindo (não que diminuísse muito, mas enfim…). E nesse horário, pouco de

Caros marqueteiros, acho que vocês estão fazendo isso errado

A primeira vez que viajei em avião na minha vida foi em 2008, a Buenos Aires, partindo de minha Porto Alegre natal. Eu já era um senhor de mais de quarenta anos então. Depois mais umas poucas viagens, até 2012. Não sei se as passagens aéreas ficaram mais caras ou se meu salário encurtou, ou ambas as coisas.  Isso, até esse ano de 2023, quando voltei a embarcar em um avião para viajar. As viagens aéreas têm seu fascínio, e acho que comecei a prestar mais atenção aos emeios recebidos das companhias que operam no Brasil, a partir dessa mais recente viagem.  São muitas mensagens com promoções para viagens pagas com poucas centenas de reais, ou poucos milhares de pontos/milhas. A maioria dos trechos partindo de… São Paulo! Aí, eu clico no linque que fala em “outros trechos” (isto é, outros destinos), e esse linque me leva para mais viagens partindo de São Paulo. Às vezes de Brasília. Às vezes de Belo Horizonte.  Senhores marqueteiros, tendo acesso ao meu cadastro, sabendo da minha localizaç

Diário – leituras – Rosamundo e os outros

Terminei de ler na metade de outubro passado o livro Rosamundo e os outros, uma compilação de crônicas de Stanislaw Ponte Preta, alter ego do jornalista Sérgio Porto.  São crônicas divertidas, escritas provavelmente ao longo dos anos 1950 e 1960. Divertidas, as crônicas tem as marcas do seu tempo, a marca mais clara é o machismo. De notar que ainda nos anos 1980, provável data desta edição, o machismo ainda não incomodava a ponto de suprimir textos.  Esta obra é parecida com Tia Zulmira e Eu, que registrei por aqui anteriormente . Mas talvez as crônicas deste livro sejam mais engraçadas. Ri de uma no início do livro chamada L’incroyable Monsieur Colellê sobre capacidade de um homem, o tal Colellê do título, de se comunicar durante uma excursão pela Europa de que participou o autor.  A propósito, essa turnê europeia gerou diversas crônicas no livro.  Li o livro porque participei da Masterclass da Oficina Santa Sede, que em 2023 homenageou Stanislaw Ponte Preta. 2023 marcou o centenário

A jurista Carol Proner e o jornalismo machista caça-cliques

Vi a manchete no blogue O Sul :  “Lula nomeia esposa de Chico Buarque para Comissão de Ética”. Pela manchete eu fiquei pensando, como talvez pensasse o humorista José Simão (ou não), “sensacional. Lula nomeia uma mulher sem nome, apêndice do artista Chico Buarque, para Comissão de Ética”.  Parece um sintoma dessas duas coisas, o jornalismo caça-cliques (ou, como dizem em inglês, “clickbait”), que apenas quer atrair atenção em manchetes para vender a publicidade abaixo ou ao lado da “notícia”; e o machismo que atravessa relações no Brasil, e se manifesta em manchetes como essa.  A princípio eu diria que os membros constituintes da Comissão de Ética da Presidência da República pouco interessam ao público de maneira geral. Como diria o Juca Kfouri, eu pergunto à rara leitora, ao raro leitor: “você sabe quem são as pessoas que fazem parte da  Comissão de Ética da Presidência da República? Aliás, você sabe para que serve essa Comissão de Ética?” Acho que quase ninguém conhece a resposta par

Presidente Lula sanciona o Dia da Nacional da Consciência Negra no país dos mestiços

A notícia saiu curtinha no blogue O Sul :  "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta quinta-feira (21) o projeto de lei que declara o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra como feriado em todo o País. O texto havia sido aprovado pelo Congresso Nacional no fim do mês passado. Celebrada em 20 de novembro, a data remete ao marco da morte do líder do Quilombo dos Palmares, um dos maiores do Brasil durante o período colonial, de resistência contra a escravização negra no País. Atualmente, a data é feriado apenas em seis estados – Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo – e em mais de 1,2 mil cidades por meio de leis municipais e estaduais, mas a partir de 2024 deverá ser observada em todo o território nacional. Desde 2003, as escolas passaram a ser obrigadas a incluir o ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo. Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciênc