Cara Maria – XIV



Cara Maria,


Faz três semanas que não escrevo crônicas para o meu blogue. 

A cada semana estão lá as palavras que usei para me referir a mim mesmo nesses dias: na primeira semana confuso; na segunda semana atrapalhado; por fim, na terceira semana bloqueado. 

O último texto publicado, em 13 de fevereiro passado, era sobre um velho relógio que pertenceu ao meu pai. Meu pai falecido há 34 anos. 

Naquele texto eu tive vontade de falar ao fantasma do meu pai sobre a floração das extremosas. Em fevereiro ainda havia uma floração exuberante nessas arvorezinhas. Mas acabei não falando das plantas com flores cor de rosa, por mais que eu quisesse. Não parecia fazer muito sentido naquele texto.

E agora as extremosas estão perdendo suas florezinhas. O outono vem chegando. 

Acho que a minha confusão, a minha atrapalhação, e o meu bloqueio acontecem porque estou prestando atenção demais ao ataque de retaliação de Israel à Faixa de Gaza. Trinta mil mortos (e contando) é gente demais. É 1,3% da população que ocupava aquela região antes do ataque israelense. A maioria mulheres, idosos e crianças. Imagine uma invasão que matasse 117 mil gaúchos, ou 2,7 milhões de brasileiros, para compararmos percentuais da população. 

Parece genocídio, embora muita gente vá argumentar que não se pode usar essa palavra, que teria um contexto jurídico. Aliás, o jornalista Sergio Rodrigues publicou recentemente um texto em que diz que isso não é um genocídio, e busca palavras que possam descrever o que está acontecendo. Ele tenta: banho de sangue; carnificina; chacina; hecatombe; açougue; razia; carnagem; morticínio. Ele também usa a palavra massacre. 

E talvez meu principal problema é que eu visse Israel com muita simpatia. Como podes lembrar, logo no início dessa crise, me excedi em uma discussão, e naquela discussão eu estava justamente defendendo Israel. Ver as forças armadas de Israel promoverem esse massacre me deixa triste, triste. 

É um assunto que pode se alongar muito, muitíssimo. 

Melhor parar por aqui. E repetir tuas palavras a respeito: “ninguém pode aceitar, em nenhum momento da história, em nenhum lugar do mundo, um massacre da população civil como está acontecendo em Gaza. (...) Tem que parar.”

E por aqui eu paro. Espero que o morticínio pare também. 


09, 12/03/2024.

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