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Mostrando postagens de setembro, 2020

Ano Morto

Faz umas duas semanas, Rubem informou quem deve ser o homenageado na Masterclass Santa Sede 2021. No caso o Poetinha, Vinicius de Moraes.  A notícia me lançou em rosto a anormalidade deste ano que se encaminha para o final (logo inicia outubro, período em que o comércio lança suas campanhas de vendas para o Dia da Criança, quando passa o Dia da Criança, começa a publicidade do Natal. De quebra ainda incorporamos a Sexta-Feira Negra - "Black Friday" - ao nosso calendário de consumo. Aliás, com o novo hábito de compras de saites chineses, logo incorporaremos ao calendário de compras o Dia do Solteiro - 11 de novembro.).  Parece que realmente pulamos o ano.  A peste fechou o mundo. No Brasil são quatro milhões de contaminados e cento e quarenta mil mortos. Até agora.  Por conta da pandemia, em minha condição de pequeno burguês urbano, tive cancelada uma viagem, e, pelo menos, dois shows a que eu gostaria de assistir.  A peste fechou o mundo, mas congestionou a tela do computador

Desprazeres de um homem maduro

Ontem estive em consulta com meu urologista. Ele olhou meus exames. Níveis de PSA, ecografia abdominal. Disse que estava tudo bem. E basicamente encerrou a consulta. Ainda segundo ele, um ano era um bom prazo para uma nova consulta. Fiquei decepcionado. Esperava um exame de toque retal. 23/07/2020.

Leite

Leite. De caixinha, o Amor diz que gosta de leite fresco, tipo B, tipo A, mas já cansei de deixar leite estragar na geladeira. Yogurte. Pão integral. Bergamota, maçã, banana. Limão siciliano pro gin tônica. Batata, cebola, tomate, alface. Água mineral. Cerveja não precisa; já tem bastante e o Amor parou dizendo que causa barriga. Detergente pra louça, a louça não para nunca. Desinfetante de lavanda; não sei como banheiro suja tanto. Papel higiênico, folha dupla; como se gasta. Por fim, camisinha de textura fina. O amor reclamou que as últimas pareciam coisas maciças, apesar do sabor de morango. Vai entender.  Pronto. Agora só passar no caixa.  Descarrega tudo que foi carregado. Passa o carrinho vazio.  "Como o senhor vai pagar?"  "Cartão da Rede."  "CPF?"  "Não."  "Estacionamento?"  "Também não." Sacolas no carrinho, agora é só chamar o aplicativo.  Chegou. De volta pra casa.  Cidade vazia. Monte de loja fechada. Me dá a impre

Diário - leituras - Vila Sapo

"Vila Sapo" é o livro de estreia do escritor José Falero. São seis contos, de histórias acontecidas na, ou partir da, Vila Sapo do título, comunidade na Lomba do Pinheiro, na periferia de Porto Alegre.  Ali Falero compõe sua galeria de personagens, adolescentes ou jovens, que tentam sobreviver e se divertir, na medida do possível. E a violência joga ali um papel forte.  A violência à espreita dos adolescentes do conto Atotô, reunidos em uma noite fria na pracinha da vila. A violência dos jovens em fuga das humilhações de todo dia, em Dignidade-relâmpago.  Um possível acerto de contas em Encontro de Negócios.  A possibilidade de um linchamento em Rosa-Bebê. Mas também o amor adolescente em Aconteceu Amor.  Ou uma viagem pelo cotidiano em Um Otário com Sorte.  Este último conto, uma viagem por Porto Alegre, o que me fez me perguntar se esse otário com sorte não seria o próprio escritor. Nesse aspecto, me parece que Falero já se insere entre os escritores que tem a cidade como u

Covid em Quatro Estações

Nesse dia 22 de setembro de 2020 foi o equinócio da primavera no hemisfério sul.  Foi no final do verão que a ameaça da covid-19 se tornou uma ameaça plausível no Brasil. O primeiro caso que então se relatava teria sido no final de fevereiro, e a primeira morte em decorrência da doença teria sido na primeira quinzena de março.  E foi justamente no início do outono, que foi meu último dia de trabalho "in office". Dia 20 de março, uma sexta-feira. Desde então estou em teletrabalho.  Se as telas se tornaram tudo para nós, o cinema, o teatro, a reunião de trabalho, e até o happy hour, a janela do meu apartamento se tornou meu ponto de vista privilegiado.  Por ela pude acompanhar o bisnagueira, cujas flores cor de laranja, permaneceram por praticamente todo outono.  Pude acompanhar os passeios e as correrias dos gatos. Pisando na grama, às vezes distraídos, mas logo atentos.  Pude ouvir os chamados dos entregadores, que traziam de tudo, móveis, eletrônicos, livros, mas principalme

Vezes do João Bobo

Ontem me aconteceu de novo: gozei, desinflei, desmaiei. 21/07/2020. 

Registro de Lives - Ingrata

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Instigado por reportagem no Correio do Povo , assisti à esquete "Ingrata" , no Projeto Interpretando.com . No caso, o instigante foi que a atriz, Maia Maranhão também conhecida por Manu, me é conhecida, pois também tem emprego temporário em um boteco que eu frequentava antes da peste.  Ingrata é uma esquete em monólogo, de cerca de cinco minutos, em que a atriz discute sexualidade e relacionamentos, expondo a tal ingratidão do título. A performance cresce à medida em que os minutos vão se desenrolando.  Detalhe técnico: a captação de imagem talvez poderia ser melhor, com maior densidade de linhas, ja que hoje em dia e trivial cãmeras que captam em 1.080 linhas. O talvez vai porque pode ser que tudo tenha sido de propósito, como, por exemplo, a imagem em formato quadrado, em lugar do tradicional retangular.  Como isso poderia ser feito em teatro? Possivelmente enfileirando diversas esquetes dessas juntas.  Como eu disse, a performance cresce à medida em que os minutos vão pass

Registro de Lives - Olar Universo

Assisti faz cerca de um mês à performance da atriz Luciana Paes, em "Olar Universo!" .  Acho que seria um ótimo monólogo para ver em um teatro pela atuação bastante intensa de Luciana. O problema para um teatro é que o espetáculo dura apenas cerca de 35 minutos. O texto explora o paradoxo de estarmos aqui, vivos, juntos, nos comunicando (mais ou menos), uma vez que qualquer pequeno evento no passado poderia ter mudado isso que costumamos chamar de nossa realidade. Desde o Big Bang. Bom. 22/09/2020.

Entrevista com Giancarlo Carvalho sobre seu livro As Mitologias Roubadas - Os 12 Trabalhos (2007)

1. Eu li o livro em 2020, mas ele foi lançado em 2007? Como foi o lançamento na época? O lançamento foi organizado pela Editora Literalis, na Livraria Cultura. Autor desconhecido, recém chegado no RS, mas teve um comparecimento positivo e boa divulgação e venda na livraria, por um bom tempo. Foi no lançamento que conheci o Rubem Penz, inclusive.    2. O livro me pareceu direcionado ao público infanto-juvenil, apesar de conter cenas de violência. Era esse mesmo o propósito? Sim, o livro é uma aventura infanto-juvenil. Começou diferente disso, com um tom mais soturno e sério, voltado ao público adulto, par ao qual eu queria apresentar e atiçar a discussão sobre o respeito ao patrimônio histórico. Tentei emular os 12 trabalhos sem usar da ficção, mas percebi que não conseguiria aprofundar muito a lenda mitológica. E, inspirado no sucesso do Harry Potter e O Código Da Vinci, à época, decidi frear o "pé-no-chão", e soltei a imaginação. 3. Pelo início do livro, e pelo formato do tí

Quase inofensiva

Pablo morreu após dois policiais dispararem contra ele cinco cargas elétricas de um taser. Confrontado com a acusação de assassinato e abuso de autoridade, o chefe da polícia disse que seria aberta uma investigação. "O indivíduo podia estar ameaçando os oficiais e a arma não é letal." 11/09/2020.

Diário - leituras - Alana Dupin, sigilo e eficiência

"Alana Dupin, sigilo e eficiência" é uma novela policial que conta um caso da investigadora particular Alana.  É o livro de estreia de Adriana Maschmann, com quem participei de uma oficina de escrita criativa.  Neste caso, a detetive Alana é contratada a investigar um possível caso de traição. Durante a investigação ela vai se deparar com fantasmas do passado dela, e encarar problemas pessoais.  É uma novela que se lê rapidamente. O ritmo é ágil, e logo o leitor tem o caso resolvido diante de seus olhos. Justamente, a história é contada muito rápido. Eu gostaria de ler mais.  Bem, sempre há espaço para mais investigações da detetive Alana. MASCHMANN, Adriana. Alana Dupin, sigilo e eficiência. Porto Alegre: Metamorfose, 2018. 12/03/2019.

Quem lê tanto?

A notícia já tem mais de um mês , mas ficou na minha cabeça. A manchete diz que "Com tempo livre na pandemia, autores estreantes lotam editoras de autopublicação". E então vêm os dados. Segundo essa reportagem, muita gente "aproveitou" a pandemia para se autopublicar. A editora A teve sua demanda aumentada de 200 para 350 lançamentos. No caso da editora P, a elevação foi de 250 para 500, sim, dobrou. E a editora C informa que está publicando 1000 obras por mês, sem informar quanto publicava antes da covid-19.  A canção Alegria, Alegria de Caetano Veloso tem versos que dizem "O sol nas bancas de revista / Me enche de alegria e preguiça / Quem lê tanta notícia". Quando eu ouvia a música, sempre pensava nos raios solares em bancas de revistas mesmo; depois descobri que houve um jornal chamado O Sol , que circulou no final da década de 1960. Mas, enfim, como poderia dizer Caetano, quem lê tanto? O recentemente falecido escritor (também por causa da peste) Serg

Silêncio

  É o que nos resta Quando não há resposta, saúde, tempo, papo no bar,  Quando não há festa 10/09/2020.

Teoria Subjetiva da Relatividade

  Eu saio com meus amigos para fazer "happy hour" uma vez por mês. Normalmente na semana do pagamento do salário. Minha namorada reclama que parece que estou saindo com os amigos toda semana. Minha impressão é que esses encontros demoram três meses para acontecer. 21/11/2019.

Metaminicontos, declaração de boa intenção

  Decidi que vou tentar me disciplinar para publicar um miniconto a cada quinta-feira.  Como pode ser que entre meus três leitores haja algum purista que diga que o que eu escrevo não são minicontos, já me adianto, dizendo que eventualmente os minicontos serão apenas mininarrativas, minirrelatos, mini-histórias, minicrônicas. Embora alguém posse dizer também que minicrônica não existe.  Enfim. Que quem tiver interesse, abertura e paciência aguarde.  08/09/2020. 

Diário - leituras - Greve de Sexo

Por esses dias terminei de ler o livro "Greve de Sexo", uma antologia de crônicas, de Rubem Penz, publicada em 2016. Me parece que o livro é uma seleção de crônicas, de sua colaboração com o jornal Metro de Porto Alegre.  Nesse aspecto, ele tenta escapar da temporalidade das notícias de jornal, o que faz relativamente bem. Se há crônicas ligadas ao noticiário, elas mantém certo frescor.  O livro tem seu inconveniente também. Isto é, a crônica eleita para batizar o livro, como se pode constatar, se chama "Greve de Sexo", e para completar a capa é ilustrada com o corpo de uma mulher nua, o que suscita, à primeira vista, uma grande carga erótica, além de constrangimento para algum leitor tímido (posso imaginar alguém improvisando uma sobrecapa de papel pardo para o livro). Tremendo estelionato! A crônica comenta uma greve de sexo feita por mulheres no Togo, o que evoca, claro a antiga comédia Lisístrata. Mas não, a crônica não tem muito de erótico. Tem bastante de conv

Perdas

Chamam de maturidade. Deve ser porque fica maduro antes de apodrecer.  Faz uns anos perdi o pai, velhice.  Depois a possibilidade de gerar mais uma filha.  Ano passado se foi a mãe, agravamento do Alzheimer.  Ontem morreu o gato. A veterinária falou em AIDS felina. Eu nem sabia que existia isso.  28/08/2020.

Laila - ??/??/???? - 27/08/2020

Se foi uma gata da Linda. Em 27 de agosto de 2020.  R.I.P. 

Desabafo Impotente e Alegre

Quero ser eterno Para ler os livros de meus amigos Ler todos os livros que acumulei Porque hoje, todos meus amigos são escritores Hoje, há mais escritores que leitores Alguns são sempre melhores que outros Assim como sou um escritor sem talento E também sem leitores A arte viceja ao meu redor E há mais livros sendo publicados  Que sou capaz de ler Salve Mario poeta, Salve Caco repórter, Falero, Dalva, Ana, Barbara E tantos, tantos mais que escrevem! 01, 02/09/2020.