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Mostrando postagens de maio, 2020

Diário da peste (XI) - Happy Hour Virtual II

Se a gente acha a experiência boa, a gente quer repetir. É uma explicação possível. Pois dia 22 de maio passado, novamente uma sexta-feira, próximo de receber o salário, meus colegas e eu nos reunimos novamente, virtualmente, através de nossos portáteis, computadores e telefones.  Os mesmos que não quiseram comparecer na vez anterior (no evento anterior?) não compareceram desta vez. Um outro, teve um compromisso diferente, eclesiástico, nos horários que colidiam, também não apareceu.  Em compensação, uma colega que está afastada por motivos de saúde apareceu.  E quem também veio foi um colega que nem pertence à área, mas tudo bem, somos generosos. :) Cada um em sua casa, cada um com o seu trago: cervejas, vinhos, espumantes, até mesmo refrigerantes. Sim, refrigerantes! Vejam só. Os assuntos? Os mesmos. Com a diferença que nesse dia, era revelado o vídeo de certa reunião ministerial do Governo Federal nas TV's por assinatura. Então se falou mal dos políticos e quase não

Chuva de Quinta-Feira

Hoje é quinta-feira O dia amanheceu nublado Prenúncio da chuva anunciada Pela meteorologia Às duas da tarde vieram os relâmpagos As trovoadas Logo começou a chover Uma chuva vertical Sem vento Para paz de guarda-chuvas e sombrinhas A chuva caindo no solo  Traz sempre aquele cheiro de terra molhada Um cheiro tão característico Depois de tantos dias de sol É como se eu cheirasse pela primeira vez O odor da terra molhada Às quatro o dia já estava escuro Como no inverno nas cidades próximas do polo Galway ao norte Ushuaia ao sul Mais cidades boreais Que austrais Apenas outono de chuva em Porto Alegre Ouço o novo disco de Milton Associado a Criolo Existe Amor Quem nem disco é Apenas o fluxo musical em ondas eletromagnéticas Não existe amor em S P Existe em P o A? O céu em nuvens As gotas caindo sobre as flores laranjas  da árvore no pátio do condomínio As bisnaguinhas da bisnagueira Não são transparentes,  Translúc

A Liberdade dos Gatos

Vamos atravessando a pandemia A quarentena já tem bem mais que quarenta dias O isolamento social é a solução Para a redução de danos Diminuir o número de contágios Não sobrecarregar o sistema de saúde Ficar em casa, confinado Escondido do vírus  Que faz campana lá fora, Em qualquer esquina,  Em qualquer praça,  Em qualquer parque Mesmo na mercearia,  No supermercado As grades do condomínio  Reforçam a sensação de aprisionamento Cá estamos, trancados Aqui dentro A amenizar o confinamento Os raios solares, muitos Que se renovam a cada dia As flores laranjas da bisnagueira Que filtram a luz do sol E parecem brilhar aos meus olhos Os gatos,  Que fazem do condomínio seu território Onde se aquecem sob o astro rei, Trepam em árvores Correm, brincam, se escondem Pelas nossas janelas, Apenas os observamos. 10/05/2020.

Diário - séries - O Homem do Castelo Alto

Recentemente terminei de ver as duas primeiras temporadas da série "O Homem do Castelo Alto" ("The Man in the High Castle", 2015, 2016, Estados Unidos). Uma produção da Amazon, baseada no livro homônimo de Philip K. Dick.  Nessa realidade alternativa, os Estados Unidos foram derrotados na Segunda Guerra Mundial. A costa leste e o meio oeste do país foram ocupados e passam a fazer parte do "Maior Reich Nazista", ou "Greater Nazi Reich" conforme o original. A costa oeste faz parte dos "Estados do Pacífico" ("Pacific States") e fazem parte do Império Japonês. As Montanhas Rochosas e seus arredores formam a fronteira entre os dois impérios, e ali também há uma zona neutra, que não pertence a nenhum deles. A zona neutra é uma espécie de terra sem lei.  A série se passa no ano "alternativo" de 1962. Hitler ainda está vivo, e Nova York é a sede administrativa do Reich na América. Lá o Obergruppenführer John Smith (Rufu

A Quarentena Acabou

Ou não. Ou talvez sim. O que quero dizer? Vamos começar pelo paradoxo do sucesso, ou "o sucesso que cultiva o fracasso", nas palavras do biólogo Átila Iamarino.  Porto Alegre, e mesmo o Rio Grande do Sul, ao contrário de outras regiões do Brasil, têm mantido a epidemia sob relativo controle. Controle significa que nossas UTI's e emergências não estão superlotadas com doentes da covid-19. Infelizmente, sim, pessoas têm morrido, mas com o colapso do atendimento médico a situação seria muito pior, porque muito mais pessoas morreriam simplesmente porque não haveria condições de serem atendidas, como pode estar acontecendo no Amazonas, e aconteceu, certamente, em Guayaquil, Equador.  As iniciativas precoces do governador Eduardo Leite, e do prefeito Nelson Marchezan, de suspender aulas, fechar comércio, e enviar o que fosse possível para tele-trabalho ("home office"), conseguiu fazer com que a taxa de contágio diminuísse muito.  O sucesso dessa iniciativa fa

Diário da Peste (X) - Mortes, Muitas Mortes

Há seis anos, um título de entrada no meu blogue era "A morte se destaca nas manchetes dos portais" . Na ocasião eu comentava as mortes do ator Philip Seymour Hoffmann, e do cineasta Eduardo Coutinho, em meio ao calor do verão de Porto Alegre na época (era fevereiro, e a temperatura tinha batido em 38ºC). E eu ficava chateado com essas mortes. Nunca esperaria chegar onde estamos agora, que cruzamos a linha de dez mil brasileiros mortos pela covid-19, pelo novo coronavírus, na semana que recém terminou (em 09/05/2020). E infelizmente não é possivel dizer que o pior já passou. Temos uma capital colapsada, Manaus, e outras, Fortaleza, São Luis, Rio de Janeiro, no limite, à beira desse colapso.  E temos outros brasileiros e brasileiras fazendo pouco caso da doença, querendo que tudo volte "ao normal", se expondo e expondo a outrem aos riscos da contaminação, dos sintomas, e, no limite, expondo à morte.  Quando todas essas enfermidades passarão? 10/05/2020.

Diario da Peste (IX) - Perdemos Aldir Blanc

A minha primeira notificação veio pelo Willy. Seu amigo, colega e músico, Felipe Azevedo, aparecia em um vídeo em homenagem a Aldir Blanc, com uma performance de "Corsário".  Depois o mesmo Willy enviou um vídeo do jornalista Rodrigo Vianna, comentando a obra de Aldir Blanc, durante sua internação. Ainda era um desejo de recuperação.  Sim, infelizmente aquilo tudo só podia significar o que realmente significava, o grande letrista, poeta, Aldir Blanc havia sucumbido à covid-19, doença que o levara a ser internado há alguns dias.  Então foi meu momento de pegar duas doses, e dizer ao Willy que estava bebendo, e fazendo de conta que estava com ele, e com outros, no boteco na esquina da José do Patrocínio com a República.  Mas estamos assim, isolados. Não podemos nos encontrar, não podemos beber juntos. Alguns de nós, inclusive, e infelizmente, quase não podem prantear seus mortos. São velórios para poucas pessoas, feitos afobadamente, muitas vezes com caixões lacrados. 

Diário da Peste (VIII) - 1º de maio em confinamento

As notícias da epidemia da covid-19 na China, se não me engano, surgiram lá por janeiro. Não era a primeira nova doença surgida por lá, provavelmente não será a última. Poucas tiveram repercussão por aqui, como aconteceu com a gripe H1N1.  Mas chegou, como um tsunami.  Na segunda semana de março de 2020, as aulas foram interrompidas no Rio Grande do Sul. No início da terceira semana, eu fui enviado para trabalhar em casa, em "home office". Acho que foi nessa mesma terceira semana que os shopping centers de Porto Alegre foram fechados.  Dia 20 de março começou o outono no hemisfério sul (a primavera no hemisfério norte).  E, de maneira geral, temos tido dias bons. Foram poucos dias com chuva. A maioria são dias de sol, com temperaturas agradáveis. Quando chega a fazer algum frio, não é nada desesperador. O astro rei sempre tem vindo aquecer nossos dias.  Compreensível, embora não justificável, que pessoas estejam quebrando o isolamento para desfrutar do sol, das tem

Diário da Peste (VII) - Happy Hour Virtual

Tudo começou com uma conversa no aplicativo de mensagens que a empresa usa.  Comentávamos como parecia longe a data em que alguns de nós havíamos feito um "happy hour", e como não havia expectativa rápida para uma reabertura de bares, para que o próxima pudesse ocorrer. Então uma das participantes da conversa disse, mais de uma vez, que o happy hour podia ser feito virtualmente. Parece que foi necessária a reafirmação da ideia para que a pudéssemos aceitar. O chefe, então, ficou de organizar o tal happy hour virtual para o final daquela semana. Organizar seria convidar os que não participavam daquela conversa virtual, e acertar o horário - meia hora após o fim do expediente do trabalho em home office.  No dia e hora marcados, sexta-feira, 24 de abril de 2020, por volta de seis da tarde, acho que fui o primeiro a logar no aplicativo para o ewncontro virtual. Ao meu lado, o copo com Jack Daniel's.  O chefe foi o segundo a logar, com um copo de cerveja. A terceira

Poema para uma abelha à luz do sol

A abelhinha entrou pela janela Veio inspecionar a minúscula quitinete Cruzou o limiar Banhando-se na luz do sol Voou pelo quarto-sala Supervisionou o banheiro Em outros tempos eu teria pavor Pânico do ferrão Hoje apenas observo Entre comovido e desconfiado O sobrevoo do pequeno inseto Na quarentena da pandemia Do mesmo jeito que eu A abelhinha é uma sobrevivente Eu, da peste que cerca Ela, do veneno que minha vizinha lança no ar Para reservar a água doce  que oferece aos pequenos beija-flores 23/04/2020.