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Mostrando postagens de abril, 2020

Monotema

Epidemia Pandemia Quarentena 23/04/2020.

Diário da Peste (VI) - O Tédio e um Projeto Fotográfico

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Passam os dias e continua o confinamento, embora haja muita gente que esteja descumprindo a quarentena, ainda acho que não é a maioria, haja visto a desaceleração do contágio em Porto Alegre. Neste domingo, excepcionalmente eu acordei cedo, de fato, antes do sol nascer. Sem a responsabilidade do teletrabalho, e enfurnado em casa, resolvi me lançar em um projeto fotográfico que muita gente já deve ter pensado e executado. Fotografei a rua em frente, diversas vezes ao longo do dia. O resultado pode ser visto abaixo, com a ajuda do criador de animações do Google Photos.  Há pequenas alterações de ângulo porque eu peguei a câmera nas mãos, diversas vezes ao longo do dia.  Talvez em um próximo projeto, eu simplesmente posicione a câmera em cima de um tripé e vá fotografando ao longo do dia.  Seguimos em frente. Por enquanto. 19/04/2020.

Reação em cadeia

É noite. Chegada da visita semanal ao supermercado.  Colocar as compras sobre a bancada da cozinha (a cozinha é bem na entrada do apê). Tirar os tênis e largar na entrada. Tirar e pendurar o casaco (dia fresco de outono, quem quer pegar resfriado?). Tirar a camiseta, direto para o cesto de roupa suja. Idem para a calça.  Nesse meio tempo, os tomates recem chegados deixaram seu equilíbrio precário e rolaram pela bancada. Um copo próximo é lançado ao chão. Praguejo, coloco a calça do abrigo, outra camiseta, calço os chinelos e começo a juntar os cacos, por onde vejo.  Muitos cacos, que vou colocando em um saco plástico, que por sua vez é colocado em outro saco, que irá para um terceiro. Coloco os sacos junto à porta, para ser levado à lixeira no momento oportuno. Felizmente o condomínio faz coleta seletiva e há um conteiner especial para vidro.  Volto a cozinha, olho para um outro lado, e lá estão mais cacos de vidro. Recomeço o trabalho de coleta de cacos, e ensacamento. 

Necessidade

Estamos na quarentena, mas estou trabalhando. Preciso trabalhar.  Não é fácil para mim, que já tenho quase sessenta, encontrar emprego. Então, como tenho a oportunidade, estou me virando. Pra quem não foi dispensado, como eu, até que não está ruim. Mesmo sem regras rígidas de isolamento, o trânsito está muito melhor. Tem carro na rua, mas muito menos. Eu trabalho numa empresa de logística. Me pergunto até se o trabalho não aumentou. Com tanta gente encerrada em casa, as empresas só podem vender por telefone e pela internet. E nós entregamos.  É um trabalho pesado. Manipula pacotes, seleciona pacotes, carrega caixas que chegaram, leva caixas com pacotes para serem entregues aos compradores. Tudo precisa ser entregue certinho e não pode demorar. No fim de cada dia estou exausta e com dores pelo corpo. O analgésico é balinha pra mim. Nesse caso é que nem a piada com a imagem de um homem numa banheira com gelo, e um texto escrito, "o que eu penso, quando o médico diz para c

Diário - leituras - Dois livros de Luiz Alfredo Garcia-Roza

Já vai algum tempo que li dois livros de Luiz Alfredo Garcia-Roza. Ambos protagonizados por um herói improvável, o delegado Espinosa, titular de uma delegacia de Copacabana. O delegado Espinosa é um homem íntegro, fazendo parte da polícia civil, no Rio de Janeiro, deste Brasilzão.  Embora protagonista talvez não seja bem o caso. O delegado tenta desvendar os diversos casos que lhe cabem investigar.  Nos livros em li, o delegado está divorciado, apesar de estar nos seus quarenta e poucos, já é órfão, e vive no bairro do Peixoto, um recanto escondido colado ao bairro de Copacabana, e costuma ir a pé em seus trajeto de casa para o local de trabalho e vice-versa.  No primeiro livro que li, "Uma Janela em Copacabana", o delegado Espinosa precisa investigar o assassinato de um policial encontrado morto diante de seu pai senil (pai do policial assassinado). Uma investigação delicada porque parte da corporação, da polícia civil, se sente ameaçada.  O segundo livro, "Per

Diario da Peste (V) - Mês Lunar

Hoje é 17 de abril de 2020, o fim da quarta semana de trabalho a partir de casa, o tal "home office". Na próxima segunda começa a quinta semana. Se completa um mês lunar de quase confinamento.  O noticiário hoje fala em 33 mil infectados pelo covid-19, com mais de 3 mil mortos. O Rio Grande do Sul tem mais de 800 casos, com 24 falecimentos. Em Porto Alegre, são cerca pouco mais de 300 infectados, e nove falecidos.  Por sinal, o ritmo de contágio em Porto Alegre teve uma freada e tanto, em vista do ritmo da doença no início, antes das medidas de isolamento social, quando o número de infectados dobrava a cada quatro ou cinco dias. Naquele ritmo teríamos hoje mais de mil infectados apenas em Porto Alegre.  Mas a doença continua se espalhando.  O noticiário informa que no Amazonas, a demanda de doentes já é maior que a disponibilidade de leitos para tratamento.  O Ceará está no limite. E Rio de Janeiro e São Paulo parecem próximos do limite também.  Como as contamina

Andando no escuro

No dia 20 de março passado eu acordei resfriado. Nariz congestionado, muitos espirros. Foi na sexta-feira da semana que o governador resolveu interromper as atividades escolares.  Durante aquele dia, e nos seguintes, me tratei com um remédio que é popularmente chamado de antigripal, no caso uma mistura de dipirona e clorfeniramina (sim, estou relendo o rótulo). Depois de três ou quatro dias, os sintomas passaram.  O que eu tive? Um resfriado comum gerado por algum rinovírus desconhecido? Ou, por acaso, seria uma manifestação pouco maligna do coronavírus covid-19? O meu chute é pelo simples resfriado, mas como saber com certeza? Nunca saberei. Simplesmente o número de testes que o Brasil faz para verificar contaminação do covid-19 é menos que insuficiente.  E às cegas andamos. Não totalmente, mas quase.  Acreditando nos conselhos da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, entramos em quarentena. Comércio fechado, escolas e creches fechadas. Gente trabalhando em

Diário - leituras - Nós

Solidão é o sentimento que perpassa o leitor (ou, ao menos, este leitor) que se dedicar à leitura do livro "Nós", de Maria Avelina Führo Gastal.  Começando por "Flores e samovar", onde uma mulher vive só em uma casa elegante e decadente, e um telefonema a tira de sua rotina.  Passando pelo filho confrontado pelo falecimento de sua mãe, em "Aos seus pés". Pela mãe que narra o que vê o dia da família na praia em "Desapego".  O provável médico que perde um paciente em "Cicatrizes".  A intensa solidão (não há outra palavra) de Cassiano em sua epopeia particular em "Cheiro de lavanda".  Ou "Amélia" (personagem título de outro conto) a procura de alguém.  Ou Janete contemplando o vizinho em frente, no conto "Janelas".  A perda da intimidade de um casal em "Um sorriso que chora". De fato, o conto pode fazer chorar a quem tenha passado por situação semelhante.  Poderia falar ainda do meni

O Bar Que Não Estava Lá

Por volta das oito e meia entro no Apolinário.  Depois de passar pela porta que se arrasta no chão há uns quatro ou cinco anos, viro à direita, onde a junção de mesas está montada para a oficina literária que há anos se reúne ali (mais anos que tenho conhecimento da porta se arrastando). Nesse nicho há mais luz. O talento das escritoras oficineiras e do mediador, e a luminária que este traz de casa, tornam o ambiente mais iluminado que o restante do bar, que é permanentemente mergulhado em certo breu. Digo boa noite. Rubem responde, assim como Jane, Renata, Clarice e Vanessa. Pelo horário, Angela, Avelina e Gabriela já foram embora. Rubem me apresenta às mulheres da mesa que não conheço.  Nesse ano de 2020, todas são Clarices, e não há homens entre os cronistas.  Após essa breve parada, me dirijo ao salão principal do bar.  Em uma mesa, à direita, está sentado o Gian, para variar bebendo Heineken. Junto com ele, estão o Gabriel, o Tom e o Willy.  Se bem que, à medida que

Nossa memória e nós na história

Na tarde do dia 17 de abril de 2016, à tarde, eu fui à Praça Marechal Deodoro, mais conhecida como Praça da Matriz, aqui no centro de Porto Alegre. Era um dia quente de outono. Tão quente que parecia verão. Naquele dia, a Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Cunha, iria votar a aceitação do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Ali se reuniram os manifestante contra o impeachment. No Parque Moinhos de Vento, o Parcão, se reuniram os manifestantes a favor. Em maior número, segundo o noticiário. A maioria das pessoas deve ter acompanhado de suas casas, pela televisão. Já escrevi sobre isso .  Com alguma frequência temos pontos em que, com mais ou com menos precisão, a história nos invade, e mexe com nossas memórias.  Outro exemplo, na manhã de 11 de setembro de 2001, eu estava no meu trabalho, em uma reunião, cujo assunto agora me foge. A irmã da chefe, ligou dizendo que um avião havia se chocado com o World Trade Center. Achamos estranho, mas a reunião contin

Sabor Especial

Minha irmã, Hoje quando olhei para o prato do meu almoço, me lembrei de ti.  Um prato muito simples, de lasanha descongelada, que cobri com queijo parmesão ralado. Para acompanhar uma salada de tomates. Fiquei surpreso quando descobri no supermercado azeite de oliva em embalagem de spray; comprei e tenho usado.  Como talvez saibas, enfrentamos por aqui uma quarentena, por conta de uma peste, como há muito não se via. A peste em questão se chama sars-cov-2, causada por um certo vírus covid 19, mais conhecido como coronavírus. Este vírus tem grande poder de contágio, e pode causar uma crise respiratória aguda, que, no limite, leva à morte do doente, embora algumas pessoas possam ser contaminadas sem manifestar sintoma algum. Esta quarentena foi declarada para gerar isolamento social. As escolas fecharam, o comércio considerado não essencial, cinemas, bares e restaurantes, tudo foi fechado.  Fui enviado para trabalhar em casa, e não posso mais exercitar meu luxo pequeno burguês

Diário da Peste (IV) - Tele-entrega (II) - 06/04/2020

Hoje recebi um spam de um rede de restaurantes de certa tradição aqui no sul, entre a comida de verdade (como eles dizem em sua propaganda) e o "fast food". Eles servem pratos de comida, mas servem bem rápido, é fato.  Então, como eu ia dizendo, recebi um emeio com propaganda e cupom de desconto dessa rede. Quando chegou no final da tarde, fiz o pedido no saite.  Primeira surpresa (pensando na experiência anterior com tele-entrega): era possível agendar o horário da entrega. Agendei para entre 20 e 21 horas.  A segunda surpresa não chegou a ser uma surpresa: era possível acompanhar a evolução do pedido, em três fases; pedido realizado; pedido sendo produzido; pedido saiu para a entrega.  Quando havia passado pouco das oito da noite, o saite informou que o pedido saiu para a entrega.  Entre cético e crédulo, deixei meu apartamento e fui para a entrada do condomínio aguardar o pedido chegar.  Não devo ter esperado quinze minutos (confesso que não controlei o reló

Diário - filmes - A Linha Fria do Horizonte

O primeiro filme que realmente assisti nessa quarentena, foi "A Linha Fria do Horizonte", um documentário sobre a música que é feita no sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina. A direção é de Luciano Coelho.  Eu pensei que o filme fosse recente, talvez até seja possível dizer que é; é de 2011; tire sua conclusão se é ou não é recente.  Algo centrado na figura do músico gaúcho Vitor Ramil, o documentário é um pouco para iniciados, no sentido que não são todas as pessoas que gostam da música apresentada, pois mistura o pop, o rock, a MPB, com habanera, e, principalmente, milonga. Se é certo que essa mistura cativa uma certa audiência por aqui, não cativa multidões.  Mas, enfim, para quem gosta, vai ver na tela, além de Ramil, Jorge Drexler, Daniel Drexler, Kevin Johansen, Marcelo Delacroix, Artur de Faria e Fernando Pezão. Músicos gaúchos e da bacia do Prata.  E o documentário fala de conceitos interessantes, como periferia musical, ou um outro centro, de templadismo

Diário da Peste (II) - Tele-Entrega - 03/04/2020

Tenho lembrado muito a questão, que a pandemia me remete para as pestes que, desde a Antiguidade até o início do século XX, flagelavam a humanidade.  Devo dizer que o momento que atravessamos tem a peculiaridade de estar em sua própria circunstância. É meio redundante dizer isso, mas faço questão. Não sei se em outros momentos da história da humanidade, houve o serviço da tele-entrega. Bom levando em consideração que o telefone é uma invenção do século XIX, antes disso não deve ter havido tão literalmente a tele-entrega, parecida com a que conhecemos.  Mas uma situação única é esta que estamos vivendo na primeira metade do século XXI.  Acho que li, por alto, que cerca de metade, pouco mais, pouco menos, das pessoas economicamente ativas no Brasil no momento atual, são trabalhadores informais. Autônomos, biscateiros, micro-empreendedores sem CNPJ, e muitos entregadores de comida, em suas motos e bicicletas.  Pois bem, com a peste, e o isolamento social decorrente, os entregad

Diário da Peste (I) - 02/04/2020

Depois de mais de uma semana trabalhando remotamente, hoje tive assuntos para resolver "in loco", e precisei romper com o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus (covid-19).  O motorista de aplicativo que me trouxe, um senhor que deve estar aí ao redor dos seus setenta anos, usava uma máscara. Em tempos de epidemia, o ar condicionado do veículo estava desligado, e as janelas do carro totalmente abertas.  Diria que minha empresa está ciosamente cuidando do isolamento social. Tenho impressão que mais de 95% do quadro de funcionários trabalha remotamente.  No intervalo do almoço, ao caminhar pelo centro, o movimento de pessoas e veículos lembrava o de um domingo no centro de Porto Alegre. Talvez até menos gente que um domingo que chamaríamos normal. Me dá um pouco a impressão de estar dentro de um filme de ficção científica, mistura de "Eu Sou a Lenda" com "O Dia Depois de Amanhã".  No supermercado já havia álcool gel à venda. Comprei

Diário da Peste (III) - Jejum Nacional

Em meio à quarentena imposta pela peste (isto é, o coronavírus, o covid-19, enfim...) dois movimentos parece que se articulam para o próximo domingo, 5 de abril de 2020.  Um, algo subterrâneo, divulgado por meio de grupos de aplicativo de mensagem, chama pessoas a saírem de casa, um rompimento do isolamento social. É possível que seja estimulado pelo presidente da república, e alguns dos empresários que o apoiam.  O outro é um dia de Jejum Nacional. Imagino algo como um dia inteiro dedicado ao jejum e à oração.  O grande paradoxo é que esse chamado ao jejum e à oração seja convocado pelo presidente da república, sendo que supostamente o Brasil é uma república laica.  Não me oponho ao chamamento para dias nacionais de jejum e oração. Inclusive acho bom. É uma prática que vem desde a Antiguidade, quando a humanidade via as doenças como punição divina, e orações e jejuns e oferendas eram meios para a aplacar a ira divina.  Mas em uma república laica um chamamento desses deveria

A Inspiração Que Vem da Quarentena

Tenho lido e ouvido falar sobre o que fazer durante a quarentena, durante o isolamento social que nos está sendo imposto pelo novo coronavírus.  Ontem mesmo, um jornal informou que o rapper Baco Exu do Blues já havia composto algumas músicas durante este período. Também abundam sugestões de filmes e séries de TV a serem vistos. Livros a serem lidos. Neste caso, houve até quem sugerisse que, por conta da quarentena, poderíamos encarar aquelas obras imensas, que nos amedrontam pelo tempo que levaríamos para lê-las. No inventário, o onipresente Guerra e Paz, de Tolstoi; os volumes que compôem Em Busca do Tempo Perdido, de Proust; o complexo (para não dizer complicado) Ulisses, de James Joyce; o nacional Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa; e o recente Graça Infinita, de David Foster Wallace. Por tudo isso, talvez saíssemos de nossas tocas, para (mais) uma Renascença cultural, humanística.  Comigo não está rolando. Fui enviado para casa para trabalhar, e, bem, tenho que fazer

Um Sonho de Nova York

Esta noite eu tive um sonho bom Sonhei que estava em Nova York Em um apartamento Junto com minha irmã E junto com a Linda E era dezembro e era frio E era meu aniversário E pensar que hoje é março E estou em Porto Alegre Onde sempre vivi E é outono, mas faz calor E eu tinha vinte e poucos anos E Linda tinha vinte e poucos anos E todos éramos felizes E vivíamos juntos E em determinado momento Eu conversava com minha irmã à mesa E me lancei sobre ela Para abraçá-la E a abracei E ela estranhou  E me perguntou por quê E eu disse porque sim E sei que agora Somente em sonhos Posso abraçar minha irmã E procurávamos local para alugar Para morar em Nova York E no corredor do prédio em que estávamos Uma vizinha apareceu E comentou Que coincidência,  todos em Nova York juntos agora E cantaram parabéns a você para mim E fiquei constrangido E me empertiguei em meu casaco preto e longo E acordei Desse estranho sonho Tão enc