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Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A

Cara Maria – XV – Gracias por tu vida

Cara Maria, Melhor usar meu macarrônico espanhol para agradecer por tua vida. Nesse caso acho melhor dizer  “ gracias ” , que  “ obrigado ” , que carrega obrigação junto de si. Se fosses uma crente cristã eu diria graças a Deus pela tua vida, como acho que não és, vale ser grato por estares aqui e por aí, sem proselitismos.  Desde que te escrevi há duas semanas, passou o bloqueio. Foi como se uma rolha ou uma tampa fosse retirada dos pensamentos, para que eles pudessem fluir e voltar a formar textos.  Continuo acompanhando teus textos.  No anterior , se tudo der certo, mais atividades físicas no próximo verão, sem a atrapalhação de lesões.  No de hoje , por que se pensa pouco nas vítimas da violência sexual? Em especial se o violador é famoso?  E seguimos acompanhando a tensa situação da invasão da Faixa de Gaza.  Recentemente li um artigo do jornalista Thomas Friedman cujo título é “Netanyahu tornou Israel radioativo pelo modo como conduz guerra em Gaza”. É um longo texto relembrando

Cara doutora, eventualmente algum dia vai mal

Cara doutora, Hoje o dia começou mal. Pelo aplicativo de mensagens no celular enviei para minha ex-mulher uma mensagem que deveria ter enviado para meu filho. Se Freud estivesse vivo, ele explicaria se o que fiz foi um ato falho, ou uma simples distração que virou uma imbecilidade. Como resultado, recebi uma cascata de mensagens sobre um amor que morreu, mas que não devia ter morrido. Sobre um luto em vida que não se realizou (de fato, parece esse luto que não se realiza).  Hoje seria dia de encontrar a namorada.  Ela também não estava de bom humor. Ontem tivemos um desentendimento a respeito do que deveríamos fazer hoje, do tipo viajar a uma cidade mais ou menos próxima ou não. Não gosto de rompantes. Eu não queria viajar com base em decisão tomada na véspera da viagem. Ela queria. Houve uma discussão e apesar da tensão inerente, achei que havíamos chegado a algum consenso. Iríamos viajar, mesmo que eu não achasse uma boa opção. Contudo, hoje ela decidiu não viajar. Pensei que ela tiv

Cara Carol – III

Cara Carol, Espero que tenhas visto que recentemente acabei de ler o livro Caro Michele da Natalia Ginzburg. Por conta disso, publiquei o registro da leitura no blogue . Agora já posso dizer que li o livro com o título que inspira o título desses textos. Eu poderia inclusive colocar aqui um emoticon, ou emoji, com um sorrisinho de satisfação.  Continuo lendo a revista Piauí. As leituras continuam atrasadas. A leitura mais recente que foi concluída foi a edição de junho de 2023 (edição 201). Neste caso, me chamou a atenção uma reportagem chamada A Fraude Titânica, em que a repórter Consuelo Dieguez relata o escândalo (ou a fraude) contábil das Lojas Americanas. O maior escândalo (ou fraude) do capitalismo brasileiro. Que começa, como talvez lembres, com o anúncio dos tais problemas contábeis pelo então novo e recém empossado CEO das Americanas, Sergio Rial. Então foi anunciado que a dívida real da empresa era de cerca do dobro do que se pensava anteriormente.  Por conta disso, Dieguez f

Diário – cinema – Duna 2

Após mais de dois anos, pude assistir a continuação de Duna , essa saga de ficção científica, baseada nos livros de Frank Herbert.  De fato, o filme é um pouco mais do mesmo, isto é, do filme anterior, com suas viagens espaciais, suas ordens religiosas, sua estrutura que me lembra o medievo europeu. Um pouco de jornada do herói para o protagonista Paul Atreides, um pouco de papel de messias indeciso também para ele – a religião tem papel importante naquela sociedade. E neste filme, com um pouco mais de ação.  Paul Atreides é totalmente incorporado ao exército fremen em sua resistência à exploração que a casa de Harkonen faz da mineração da especiaria, que está no solo do planeta Arrakis. E ali vai assumindo um papel de liderança.  Sobre a especiaria e outra substância que aparece no filme, fiquei pensando que essa humanidade imaginada por Herbert, Jon Spaihts e Denis Villeneuve, centenas de anos no futuro ainda precisa de drogas para viver.  Apesar de longo, com quase três horas de dur

Cara Maria – XIV

Cara Maria, Faz três semanas que não escrevo crônicas para o meu blogue.  A cada semana estão lá as palavras que usei para me referir a mim mesmo nesses dias: na primeira semana confuso; na segunda semana atrapalhado; por fim, na terceira semana bloqueado.  O último texto publicado, em 13 de fevereiro passado , era sobre um velho relógio que pertenceu ao meu pai. Meu pai falecido há 34 anos.  Naquele texto eu tive vontade de falar ao fantasma do meu pai sobre a floração das extremosas. Em fevereiro ainda havia uma floração exuberante nessas arvorezinhas. Mas acabei não falando das plantas com flores cor de rosa, por mais que eu quisesse. Não parecia fazer muito sentido naquele texto. E agora as extremosas estão perdendo suas florezinhas. O outono vem chegando.  Acho que a minha confusão, a minha atrapalhação, e o meu bloqueio acontecem porque estou prestando atenção demais ao ataque de retaliação de Israel à Faixa de Gaza. Trinta mil mortos (e contando) é gente demais. É 1,3% da popula

Diário – cinema – Ferrari

No domingo, 25 de fevereiro de 2024, estive em um cinema para assistir ao filme Ferrari.  É até engraçado que um nome tão forte, em relação ao automobilismo – podemos pensar na equipe de Fórmula 1, ou nos automóveis de luxo da marca – aborde um pequeno período de uma parte do ano de 1957 na vida no criador da marca, o “commendatore” Enzo Ferrari. Junto com ele, sua esposa Laura, sua amante Lina, e seu filho, fruto do relacionamento com Lina, Piero.  Nesse momento, 1957, a marca de automóveis esportivos de luxo passava por dificuldades financeiras. Para tentar superar os problemas Enzo Ferrari pensa em vender parte da empresa para uma montadora de automóveis maior, e também em vencer a “Mille Miglia”, tradicional competição automobilística pelas ruas e estradas da Itália.  Os papéis de Enzo e Lina são muito bem interpretados por Adam Driver e Shailene Woodley. Penélope Cruz se sai bem com sua Laura, mas me deu a impressão de uma personagem caricatural, sempre de cara amarrada, olheiras,

Diário – leituras – Caro Michele

Caro Michele é um curto romance de Natalia Ginzburg, escritora italiana nascida em 1916 e falecida em 1991. Foi publicado originalmente em 1973. A edição brasileira que li é da Editora Paz e Terra, de 1986, com tradução de Federico Mengozzi. Há edições brasileiras mais recentes.  Resolvi ler este livro porque o título me inspirou a escrever crônicas mensagens. Primeiro para minha amiga Maria, a quem já dediquei treze textos. Depois para minha amiga Carol, com dois textos.  Nos últimos tempos tenho lido mais de um livro simultaneamente. No momento, leio as memórias de Bono, do U2 (Surrender); o romance Saraminda, de José Sarney; a coletânea de contos de Nelson Ribas, chamada Arrabaldes; e um volume da coletânea de crônicas de viagens, de Cecília Meireles, cujo nome é, bem, Crônicas de Viagem 1. Conforme a justificativa do parágrafo anterior, Caro Michele acabou entrando na frente dos outros livros, e a prosa de Ginzburg me envolveu. Foi difícil largar o livro antes de chegar ao seu fina