Postagens

Mostrando postagens de abril, 2024

Um sobrenome Ginzburg

Na primeira década deste século XXI eu cursava História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Naquela época, durante a graduação, uma das primeiras atividades extracurriculares de que participei foi um simpósio de História Medieval, cuja grande estrela seria o historiador italiano Carlo Ginzburg.  Carlo Ginzburg era relativamente conhecido no Brasil, pois alguns de seus livros foram publicados por aqui. O livro mais famoso se chamava O Queijo e os Vermes, em que o autor faz uma pesquisa sobre um moleiro que tinha ideias consideradas heréticas pela Igreja Católica, e por esse motivo foi perseguido. Ginzburg fez sua análise justamente a partir dos arquivos da Inquisição. Seus estudos acabaram gerando um ramo da historiografia chamado Micro-história, em que o historiador se debruça sobre um período de tempo e um espaço geográfico muito restrito. No caso em questão, o estudo era sobre o comportamento da Inquisição, em meados do século XVI, ne região do Friuli, na Península Itálica

Mãe, faz um ano que estou aposentado

Mãe, Faz um ano que estou aposentado. De fato na data em que escrevo, faz um ano e um dia.  Tudo passou muito rápido, mãe. Como rápida parece a vida quando olhamos para trás.  1980. No final daquele ano a Lúcia informou que havia uma vaga para office-boy na empresa em que ela trabalhava. Sim, houve nepotismo. Eu tinha quatorze anos. Meu primeiro contrato de trabalho foi assinado em janeiro de 1981. 1981. Aquele seria o ano em que o pai se aposentaria e eu começaria a trabalhar. Office-boy, como já disse.  E a frase que ficou na minha cabeça foi o teu comentário, ou recomendação, que, começando cedo assim, antes dos cinquenta anos eu poderia ter uma aposentadoria e garantir um salário mínimo por mês. Era algo significativo porque o pai sempre teve contratos precários, mesmo sendo um bom profissional pedreiro. Havia aquelas histórias que contavas, que na primeira metade do século XX, quando houve as primeiras leis concedendo férias ao trabalhador que trabalhasse por um ano inteiro, os pa

Cara Maria – XVI – Um tour por alguns escritores de Porto Alegre

Cara Maria, Viajei em teu texto sobre Porto Alegre . Pensei em te copiar, mais ou menos como fiz quando escreveste sobre a Rua Duque de Caxias, mas depois desisti. Pensar que esses textos da Duque, o teu  e o meu , já têm mais de dois anos... Nunca morei no centro da cidade, mas trabalhei ali por 42 anos. Na minha infância o centro era uma espécie de jornada mágica, uma viagem para onde minha mãe me levava, acompanhando-a a resolver algum problema, em geral alguma conta a pagar, ou algum artigo a comprar. Às vezes consultas médicas ou dentárias, dela e minhas. Quando comecei a trabalhar, o centro se tornou uma espécie de território meu. Ainda mais que nos meus primeiros quatro empregos minhas atividades eram total ou parcialmente as atividades de um office-boy, caminhando pelas ruas centrais, para lá e para cá.  Mas como eu te disse, desisti de desenvolver essas ideais.  Mais ou menos na mesma época em que escreveste tua crônica homenageando o mais recente aniversário de Porto Alegre,

Caras Carol, Gian e Rubem: quem tem amigos tem tudo – lembranças da sessão de autógrafos de Confinado um diário da peste

Imagem
Minhas caras, Escrevo na terça-feira. Queria ter escrevido antes, mas não consegui. Se tivesse escrevido antes, teria registrado tudo mais a quente.  Lembrando novamente a Ana Luíza Rizzo, segundo a qual “um livro não é obra de uma só pessoa”, ou algo assim, lembro do incentivo inicial do Gian, quando soube da existência do, digamos, manuscrito digital, “vamu lá”. A notícia logo se espalhou e o Rubem liberou a possibilidade da edição pela Editora Santa Sede, e a Carol aceitou fazer a revisão do texto. Coerente consigo mesmo, o Gian diagramou o livro.  Também a Carol foi a pessoa que disse que o livro não poderia ser publicado sem um lançamento e sessão de autógrafos, como era desejo do autor. Sim, a princípio o autor queria publicar o livro muito discretamente. Carol achou que não fazia sentido. Assim, ela viabilizou uma data conveniente e marcou essa data no Bar Apolinário. O Gian fez as artes da divulgação.  Então, no dia 5 de abril de 2024 lançamos o livro “Confinado, um diário da p

Feliz Páscoa em 2024

A conversa por videochamada ia terminando. Então houve o desejo de “Feliz Páscoa”.  "Embora eu não entenda como se possa desejar Feliz Páscoa pela morte de alguém." Eu acabei por responder que na Páscoa não se celebrava a morte de ninguém, mas, pelo contrário, a ressurreição de alguém, no caso a ressurreição de Jesus, o Cristo. Ainda tive oportunidade de dizer que a lembrança da morte do Messias acontecia na chamada Sexta-Feira Santa. O dia em que, depois de celebrar a Páscoa Judaica com seus discípulos, no que conhecemos por Última Ceia, Jesus, o Cristo, foi preso, julgado e condenado à morte em um dia.  Talvez para a racionalidade do século XXI da era cristã (sim, da era cristã. É isso que vivemos, o Ano do Senhor de 2024, em latim de almanaque, ou algo assim, Anno Domini) a ressurreição seja algo demasiado. Melhor pensar em vida espiritual ou reencarnação (enfim, nos dias de hoje, quem poderia nos dizer o que é correto? Fato é que o Novo Testamento fala em ressurreição há