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Mostrando postagens de outubro, 2023

A palavra escrita e seus poderes terapêuticos

Domingo passado, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem sobre os poderes terapêuticos da palavra escrita . No parágrafo de abertura está escrito que “uma pesquisa do psicólogo americano James Pennebaker demostrou que a palavra escrita tem poderes terapêuticos: quem escreve durante alguns dias sobre eventos traumáticos da vida tende a sentir benefícios muito claros em sua saúde física e mental.” Acredito. Tanto que escrevo. Comecei a escrever publicamente comentando em blogues, no início deste século. Depois abri meus próprios blogues.  Falo em publicar, mas, segundo a reportagem não é necessário que o que escrevemos seja publicado. Basta que seja escrito. Como no clássico e secular diário. Talvez seja comum associá-los a adolescentes, mas esse tipo de registro já foi usado, e nesses casos publicado, por, pelo menos, dois presidentes do Brasil, Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardoso.  Pensando nessa reportagem, me parece que os textos escritos funcionam mesmo como as pensei

20 de outubro de 2023

Recentemente Ruy Castro publicou uma crônica  pesarosa, saudosa, rememorando os amigos que morreram em decorrência da pandemia de covid-19, durante o (des)governo do inominável. Essa crônica foi publicada com data de 18 de outubro passado. Ele comenta que ter morrido em um momento como aquele, da pandemia e do desgoverno, depois de passarem boa parte do século XX lutando por progresso, democracia e justiça social, foi como uma desilusão com a própria vida, como se tivessem vivido e morrido em vão. Muito triste. Tendo chegado a uma idade provecta como ele mesmo diz, é como se Ruy estivesse fazendo um pequeno balanço. Tendo passado pelo fechamento da ditadura militar brasileira, tendo estado em Portugal durante a Revolução dos Cravos, Ruy declara ainda que viu iniciarem e terminarem muitas guerras durante a sua vida.  Como ele diz, “que nenhum desses atos extremos resolveu os problemas que os causaram, e que a vitória ou derrota de qualquer dos lados não trouxe seus mortos de volta. Não

Diário – filmes antigos – Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari)

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Talvez, aos poucos, eu esteja vencendo minhas próprias resistências e voltando a assistir filmes.  Sexta-feira, 8 de setembro, acompanhei meu filho para assistir Contos da Lua Vaga, filme japonês de 1953, na Sala Redenção, no Campus Central da UFRGS. A exibição se deu dentro de um Ciclo de Cinema Japonês que começou dia 4 passado indo até o dia 22 de setembro. Algumas das exibições foram comentadas por críticos de cinema.  Contos da Lua Vaga inicia mostrando duas famílias. Dois irmãos e suas respectivas esposas. Genjuro (Masayuki Mori), casado com Miyagi (Kinuyo Tanaka), quer enriquecer vendendo as peças de cerâmica artesanal que ele produz junto com a esposa. Tôbei (Eitarô Ozawa), casado com Ohama (Mitsuko Mito), sonha em se tornar um guerreiro samurai famoso. O Japão passa por uma guerra civil, que assola a região em que eles vivem.  Eles conseguem escapar do saque à aldeia em que habitam e vão a uma cidade mais ou menos afastada. Lá Tôbei irá delirar com seu desejo de se tornar samu

Perplexidade na primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023

Em uma noite da primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023, um homem acha que precisa escrever.  Contudo, ele não sabe o que escrever.  Ou até sabe, mas não acha que tenha algo a dizer.  Poderia comentar que a primavera chuvosa de Porto Alegre evoca um ar de inverno ou de outono. Comentar que tanta chuva dificulta caminhar para admirar as flores.  Mas o homem está paralisado pela tristeza que vem do noticiário.  Triste pelas centenas de mortes em atentados terroristas. Triste pelas outras centenas de mortes em bombardeios de retaliação.  Triste porque milhares de vozes nas redes telemáticas só se solidarizam com as mortes de um lado dos que guerreiam.  Triste porque não parece haver solução para esse conflito.  Solução teórica há. Solução prática não.  Triste porque essa mais recente guerra, domina as manchetes. E outras guerras continuam ao redor do planeta.  A guerra esquecida no sul da Arábia, com crianças morrendo de fome. A guerra no sul da Arábia dura mais de oito anos. A guerra c

Cara Maria – VIII

Cara Maria, Espero que me desculpes por tantas mensagens. Serei mais breve nesta aqui. É que além do ódio, comentado na mensagem anterior, outras coisas aconteceram e continuam acontecendo.  A privatização da Carris, por exemplo, a até então empresa municipal de transporte de Porto Alegre. Eis que o prefeito Sebastião Melnick, digo, Sebastião Melo se desfez de uma companhia centenária. Com isso se desfaz de uma empresa que poderia ser estratégica para que o transporte coletivo de Porto Alegre possa  ser mantido em momentos de crise. Alguém ainda se lembra de greve de 2014? De fato não tenho certeza se foi em 2014, mas deve ter sido por aí. Alguém lembra, mais longínquo ainda, o locaute que o então prefeito Olívio Dutra enfrentou lá por 1989, mais ou menos? Quem trata dessa privatização em longa coluna no Matinal é o Juremir Machado . Ele, que informa muito ter andado em ônibus, afirma que a melhor companhia a prestar o serviço, na opinião dele, era a Carris. Com base no novo concession

Cara Maria – VII

Cara Maria, Foi, ou tem sido, uma semana de ódio.  Começo por mim. Ódio de secadores lançando fogos de artifício diante da eliminação do S.C. Internacional diante do Fluminense, na Copa Libertadores da América 2023. Digamos que piadinhas sejam okay. As tais corneteadas. Mas foguetes?  Embriagado, tive desejos de morte e aniquilação, destruição em massa. Felizmente a tagarelice ficou restrita a aplicativos de mensagens, sem grande amplitude. Talvez se eu fosse civilizado como um inglês… Ódio é algo que se aprende. Me lembro que quando eu era criança e o Inter venceu o Campeonato Brasileiro de Futebol pela primeira vez, lá por 1975, na Vila Cefer 2, mesmo alguns amiguinhos gremistas comemoraram. Infelizmente perdi o contato com todo mundo. Inclusive o meu amigo que era o paradigma de gremista entre nós morreu em um acidente de moto há vários anos. Assim, as memórias que registro aqui não podem ser validadas por mais ninguém. Mas me lembro assim. Ainda por conta dessas memórias, fui encon

De táxi de Congonhas ao Centro Histórico

Bem que eu gostaria de saber algo da história dos táxis. Seu surgimento e regulamentações ao redor do mundo.  Há muitas anedotas sobre eles.  Por exemplo, aquela do passageiro que chega a uma cidade pouco conhecida e, do aeroporto (ou da estação de trens ou da rodoviária) pede ao motorista para ir ao hotel onde fez reserva. E lá se vai. Quando chega ao destino, percebe que gastou boa parte do dinheiro que tinha para usar durante a viagem nesse primeiro deslocamento.  E também aquela, clássica, recorrente, do motorista que aumenta o trajeto para ganhar uns trocados a mais. Esta última é muito contada. Seja em que cidade for, seja em que país ou continente. Acredito que para algumas pessoas, ter o trajeto alongado pelo motorista era mais uma história para contar aos amigos sobre a viagem.  Nesses últimos anos, a tecnologia veio mudar isso. Fazer a disrupção.  Os tais aplicativos de carona paga se lançaram ao mercado oferecendo corridas mais baratas, com a garantia de que o algoritmo iria

Cara Maria – VI

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Cara Maria, Como falei contigo, quando tivemos oportunidade de nos encontrar por conta do teu mais recente lançamento, estive viajando semana passada. Como te disse até encontrei o Eduardo no aeroporto. Ele partia para Brasília, enquanto eu retornava.  Por conta da viagem acabei por não publicar nada no blogue na semana passada, a não ser um aviso que não haveria publicação. O que me parece francamente contraditório isso de publicar um aviso que não haverá publicação.  Ainda sobre o lançamento, sim gostei, e teu conto me trouxe algum desconforto. Digo aqui o que eu devo ter dito no lançamento: parabéns! Ou eu não disse? Bom se não disse, acabo de dizer. Se já tinha dito, acabo de repetir. Pois então… Parabéns!  Sabes? Eu bem gostaria que os contos atuais fossem mais longos. Sei que há recomendações para que esses contos sejam baseados em apenas uma cena, e essa cena precisa ser impactante o suficiente para nocautear o leitor (nocautear repetindo a célebre metáfora de São Cortázar). Mas