Um sobrenome Ginzburg


Na primeira década deste século XXI eu cursava História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Naquela época, durante a graduação, uma das primeiras atividades extracurriculares de que participei foi um simpósio de História Medieval, cuja grande estrela seria o historiador italiano Carlo Ginzburg. 

Carlo Ginzburg era relativamente conhecido no Brasil, pois alguns de seus livros foram publicados por aqui. O livro mais famoso se chamava O Queijo e os Vermes, em que o autor faz uma pesquisa sobre um moleiro que tinha ideias consideradas heréticas pela Igreja Católica, e por esse motivo foi perseguido. Ginzburg fez sua análise justamente a partir dos arquivos da Inquisição. Seus estudos acabaram gerando um ramo da historiografia chamado Micro-história, em que o historiador se debruça sobre um período de tempo e um espaço geográfico muito restrito. No caso em questão, o estudo era sobre o comportamento da Inquisição, em meados do século XVI, ne região do Friuli, na Península Itálica (lembremos que no século XVI não havia propriamente um país Itália. Itália era dividida entre reinos, cidades-estados e em boa parte da península reinava o Vaticano). 

Além de O Queijo e os Vermes, outros livros de Carlo Ginzburg publicados no Brasil são O fio e os rastros; Os andarilhos do bem; História Noturna; Olhos de Madeira; etc. 

Durante sua palestra no simpósio de história, Carlo Ginzburg surpreendeu a muitos (certamente surpreendeu a mim) ao se debruçar sobre os possíveis significados  de uma gravação em uma antiga tigela de prata, então recentemente encontrada em escavações. Lá estava um historiador italiano falando inglês e sendo traduzido a respeito desse artefato recém descoberto. Eu, e acredito que muitas das pessoas da plateia de professores e alunos, ficaram meio desapontados. Certamente achávamos que o historiador italiano podia falar mais sobre outros assuntos, já que sua produção escrita indicava vasto conhecimento. 

Mas foi o que houve naqueles dias. Após a palestra ele se mostrou simpático, e aberto à tietagem. Eu devia ter pedido para tirar uma foto com ele, mas acho que naquela época não estávamos acostumados com isso, as câmeras fotográficas digitais ainda não eram populares, e não havia a profusão de celulares com câmera que há hoje. 

Obviamente, minha memória está editando o que posso me lembrar daquele evento. De fato me lembro de muito pouco, quase nada. 

Já por esses dias mais recentes, depois de conhecer algo a respeito, decidi ler o romance Caro Michele, de Natalia Ginzburg (1916-1991), como já registrei. Gostei bastante do romance.

E desde que lia resenhas sobre os livros de Natalia me perguntava sobre se havia relação familiar entre ela e o historiador Carlo Ginzburg. 

Com a leitura de Caro Michele, finalmente decidi fazer aquela consulta básica na internet. 

Bem... Básica também é a relação entre eles. A falecida escritora, jornalista e política é mãe do historiador. O historiador, nascido em 1939, já está com 84 anos. Devia ter pouco mais de sessenta quando travei contato com ele. 


“(…) Peço-te o prazer legítimo

E o movimento preciso

Tempo, tempo, tempo, tempo

Quando o tempo for propício

Tempo, tempo, tempo, tempo

De modo que o meu espírito

Ganhe um brilho definido

Tempo, tempo, tempo, tempo

E eu espalhe benefícios

Tempo, tempo, tempo, tempo (...)”


18/03/2024, 22/04/2024.

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