A palavra escrita e seus poderes terapêuticos


Domingo passado, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem sobre os poderes terapêuticos da palavra escrita. No parágrafo de abertura está escrito que “uma pesquisa do psicólogo americano James Pennebaker demostrou que a palavra escrita tem poderes terapêuticos: quem escreve durante alguns dias sobre eventos traumáticos da vida tende a sentir benefícios muito claros em sua saúde física e mental.”

Acredito. Tanto que escrevo. Comecei a escrever publicamente comentando em blogues, no início deste século. Depois abri meus próprios blogues. 

Falo em publicar, mas, segundo a reportagem não é necessário que o que escrevemos seja publicado. Basta que seja escrito. Como no clássico e secular diário. Talvez seja comum associá-los a adolescentes, mas esse tipo de registro já foi usado, e nesses casos publicado, por, pelo menos, dois presidentes do Brasil, Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardoso. 

Pensando nessa reportagem, me parece que os textos escritos funcionam mesmo como as penseiras da série Harry Potter. No caso, as penseiras eram um objeto em que o magos protagonistas da série podiam depositar pensamentos problemáticos que estivessem em suas cabeças. 

Pois é. Eu mesmo muitas vezes digo que escrevo para tirar da cabeça alguns bichinhos, digamos vermes, que ficam lá, incomodando. De fato, me parece que  os pensamentos estão pedindo para sair. 

Talvez a escritora, amplamente publicada, que mais expresse questões com as quais está lidando a cada momento seja Tati Bernardi. Em uma das suas crônicas mais recentes ela fica narrando seu cotidiano de trabalho e preocupações, enquanto busca encontrar seus sentimentos sobre a mais recente guerra no Oriente Médio (há uma guerra ocorrendo na margem oriental do Mediterrâneo, no Oriente Médio, que está em todas as manchetes. Há uma guerra ocorrendo no noroeste do Oceano Índico, no Oriente Médio, relativamente mais antiga, da qual pouco se ouve falar). 

E ela, Tati, se expressa de uma maneira que a maioria das pessoas teria vergonha de se expressar, eu incluído. E esse é seu mérito, tanto que ela oferece, ou oferecia, um curso de escrita criativa cujo título era algo como “Fale mal mas fale de você”. 

Pois é. Nesta semana que passou, tive uma altercação com uma pessoa. Coisa que me marcou muito. A conversa começou amena, e era em um ambiente agradável. Em geral não conversamos sobre política, mas nesse caso falamos. Sim, falamos na mais recente guerra no Oriente Médio. A pessoa colocou seu argumento, e eu fiz algum reparo. Logo a discussão cresceu, ficou acalorada e agressiva, acredito que para ambos os lados. Em um momento de bastante tensão, acabei por bater na mesa, o que sempre é um gesto algo violento. Um certo silêncio constrangido tomou conta do ambiente. Talvez o pior seja que bater à mesa não é nem um argumento, no limite é uma tergiversação. Bom, também foi um desabafo da tensão emocional que desenvolvi por conta da discussão. No dia seguinte, após exame de consciência e aconselhamento, pedi desculpas às pessoas envolvidas. 

Pedir desculpas deveria resolver ou amenizar a questão e a situação. Mas não foi o que aconteceu. Continuei pensando no incidente. 

Talvez escrever sobre isso ajude. Mesmo que seja através de elipses. 

Veremos. 


30, 31/10/2023.

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