20 de outubro de 2023


Recentemente Ruy Castro publicou uma crônica pesarosa, saudosa, rememorando os amigos que morreram em decorrência da pandemia de covid-19, durante o (des)governo do inominável. Essa crônica foi publicada com data de 18 de outubro passado. Ele comenta que ter morrido em um momento como aquele, da pandemia e do desgoverno, depois de passarem boa parte do século XX lutando por progresso, democracia e justiça social, foi como uma desilusão com a própria vida, como se tivessem vivido e morrido em vão. Muito triste.

Tendo chegado a uma idade provecta como ele mesmo diz, é como se Ruy estivesse fazendo um pequeno balanço. Tendo passado pelo fechamento da ditadura militar brasileira, tendo estado em Portugal durante a Revolução dos Cravos, Ruy declara ainda que viu iniciarem e terminarem muitas guerras durante a sua vida. 

Como ele diz, “que nenhum desses atos extremos resolveu os problemas que os causaram, e que a vitória ou derrota de qualquer dos lados não trouxe seus mortos de volta. Não estou dizendo que se deva ficar neutro ou indiferente, mas, hoje, mais do que a ideologia, o que me move é o martírio dos inocentes, sob qualquer bandeira, ao alcance dos tiros, mísseis, explosões, soterramentos, ferimentos, doenças, sede e fome”. 

“Como de regra, esta guerra no Oriente Médio começou como sendo de vida ou morte para os dois lados. Mas ambos já perderam.”

Pois é. No momento, sábado, 21 de outubro de 2023, como em um placar macabro, o conflito já causou a morte de cerca de 5.800 pessoas. Cerca de 1.400 israelenses e 4.400 palestinos. Além da Faixa de Gaza, palestinos também têm sido mortos pelo exército de Israel na Cisjordânia, mais de 70 até agora. Pelo que andei lendo, historicamente a superioridade bélica israelense produz cinco palestinos mortos para cada pessoa de Israel. 

Em todo caso, me parece que mesmo que Israel consiga matar todos os atuais milicianos do Hamas, e transforme a Faixa de Gaza em uma terra arrasada, como já está fazendo, isso não vai tornar Israel mais seguro. 

E mais em todo caso, nenhuma vida será recuperada. 

Esta semana foi peculiar para mim. Segunda-feira foi 16 de outubro. Sexta-feira foi 20 de outubro. 16 de outubro é aniversário da Siloni, minha cunhada, “sister-in-law” – irmã na lei como dizem os anglófonos, falecida parece que foi ontem. Pela minha conta, faria 59 anos. 20 de outubro é aniversário da minha irmã. Falecida em 2018, faria 76 anos. A cada aniversário me lembro delas, agradeço a Deus pela vida delas e sinto saudades. É sempre assim em outubro.

Imagino que em Israel e na Palestina muitas pessoas estejam enlutadas. 

Estamos no final de outubro, e, pelo jeito, a matança está longe de terminar. 


21, 23, 24/10/2023.

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