Diário - leituras - Os Anos Dourados na Praça da Alfândega - volumes 1 e 2


Comigo, a história destes livros começa na Feira do Livro do ano passado (2019 - 65ª edição), em um balaio de saldos na barraca da editora. Lá estava o volume dois de "Os Anos Dourados na Praça da Alfândega". Como gosto de ter e ler livros sobre a história da aldeia, isto é, de Porto Alegre, peguei o livro, olhei a contracapa, as orelhas, o início, e quis comprá-lo, como de fato o fiz. Os textos iniciais falavam de causos do falecido cronista Paulo Sant'Ana.


Perguntei ao atendente da banca se eles tinham o volume um, mas ele disse que estava esgotado.


Decidi então procurar o volume um em revendas na internet, onde o encontrei e adquiri.


Mas o volume dois me enganou bem.


Esses anos dourados da Praça da Alfândega, são de fato os anos de juventude do autor, entre as décadas de 1950 e 1960, talvez um pouco mais.


Para quem não conhece Porto Alegre, é bom situar: a Praça da Alfândega fica no centro da cidade, hoje chamado de Centro Histórico, distante duas quadras de onde hoje está a margem leste do Lago Rio Guaíba, e uma quadra a sudoeste do Paço Municipal e do Mercado Público, no quadrilátero formado pelas ruas dos Andradas (também conhecida como Rua da Praia), General Câmara(antiga Rua da Ladeira), Siqueira Campos e Caldas Júnior. Nesses anos era local de lazer das classes alta e média alta de Porto Alegre. Ali ficavam os cinemas Imperial e Guarani e o Clube do Comércio, onde se realizavam bailes.


É nessa região que José Coiro narra seus causos. Não só aí. Ele expande sua geografia para a Reitoria da UFRGS, locais da zona sul, Cidade Baixa e Moinhos de Vento. No fim, não é a história da Praça da Alfândega, mas os relatos da memória do autor.


E esse é o problema dos livros. Coiro inventaria (não de inventar, mas de inventariar) um sem número de personagens e causos que talvez pouco falem aos dias de hoje (embora eu deva reconhecer que esses livros foram publicados há vinte anos e devem ter sido melhor acolhidos então).


Entre os causos relatados, há muitas molecagens, que hoje poderiam ser nomeadas como vandalismo. Consigo lembrar de dois roubos de bondes, espalhar excrementos na entrada do apartamento de uma jornalista famosa na época, o lançamento de um gambá sobre a plateia de um dos cinemas da praça, e um abigeato para conseguir carne para um churrasco. Mas, claro, naquele tempo eram apenas travessuras da "jeunesse dorée" de Porto Alegre. Coisas dos politicamente incorretos anos 1990. Deve haver quem ache divertido.


O quadro melhora um pouco no volume dois, que como eu disse, me fisgou no início, com uma melhor contextualização das histórias narradas, e com personagens mais conhecidos, pessoas públicas, como o já citado Paulo Sant'Ana, ou outros comunicadores como Tatata Pimentel e Roberto Gigante, mas ainda assim, há o momentos de empilhamento de causos.


Contextualização foi o que senti falta nos livros de Coiro, o que tornaria esses livros muito mais ricos para a história da cidade.


COIRO, José Rafael Rosito. Os Anos Dourados na Praça da Alfândega. Porto Alegre: Artes & Ofícios, 1994.


COIRO, José Rafael Rosito. Os Anos Dourados na Praça da Alfândega 2. Porto Alegre: Artes & Ofícios, 1995.



22/01/2020.



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