Formatura de Gabinete - III

Formatura de Gabinete – III

Formatura de gabinete é aquela em que o aluno faz sua colação de grau sem a pompa e a circunstância da formatura, digamos, tradicional, realizada em salão de atos, e que hoje em dia assume cada vez mais ares de superprodução. Meu filho, corrosivo, afirma que a formatura de gabinete é “formatura de pobre”. Eu escrevi isso em janeiro de 2008. Não concordo com meu filho quando ele diz que a formatura de gabinete é “formatura de pobre”. Pode até acontecer que alguém não tenha condições de arcar com os custos de uma formatura tradicional, mas devem ser pouquíssimos tais casos.

Acho que a opção pela formatura tradicional, de palco, em salão de atos, tem a ver com três fatores, que podem ser alternativos, ou adicionais: o rito de passagem, ou o desejo de celebração, ou a pura preguiça. Este último fator, a preguiça, é para evitar a formatura de palco, afinal a formatura de palco é muito mais trabalhosa, pois é preciso contratar a produtora, levantar fundos para pagar esta produtora, posar para fotos e outros procedimentos. O rito de passagem se estabelece porque possivelmente, após completar seus estudos superiores, a pessoa deixa de ser estudante e vai entrar numa nova fase da vida, como profissional, como trabalhador. O desejo de celebração é auto-explicativo; uma formatura de palco é muito mais uma celebração que uma formatura de gabinete.

Dito isso, em 12 de janeiro passado eu enfrentei uma formatura de gabinete pela segunda vez. Estava colando grau de bacharel em História.

Apesar da Formatura de Gabinete ser uma formatura mais informal, a deste ano foi mais formal que a de 2 anos atrás. A mesa possuía uma toalha, e sobre a toalha havia uma pilha de papéis enrolados que faziam o papel de simulacro de diplomas. Dirigiam a cerimônia o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, auxiliado pelo professor encarregado da comissão de graduação, e uma outra professora que chamava os formandos pelo nome. O presidente da cerimônia dirigiu algumas palavras ao auditório, comentando que a formatura deveria ter sido em outro auditório, maior, mas que esse estava fechado para reformas, e a cerimônia seria numa sala pequena, onde não cabiam todos os formandos e seus acompanhantes. A mesma sala de dois anos atrás.

Mesmo sendo uma formatura de gabinete não faltaram amigos, pais, mães, avós, irmãos, maridos e esposas, e namorados e namoradas para acompanhar os formandos. Alguns vestidos mais formalmente, alguns tão informais que calçavam chinelos de dedos, bermudas e camisetas sem manga. Mas entre os mais formais, foi possível distinguir, ou destacar, uma menina com um vestido branco curto. Ela chamava a atenção. Certamente sairia dali para comemorar com seus possíveis amigos e familiares em algum lugar sofisticado, ou caro, ou ambas as coisas.

Após as palavras iniciais do diretor do Instituto, um aluno, o primeiro da lista de formandos, foi chamado a fazer um juramento, no qual os graduandos se comprometiam a trabalhar para o bem da humanidade (ou coisa que o valha). O formando ficou meio desconcertado, protestou por ter sido pego de surpresa, mas tomou a si o ofício; convidou os formandos presentes a se levantarem e levantarem suas mãos para acompanharem a leitura do juramento.

Feito isso, os alunos começaram a ser chamados, e lhes era entregue o simulacro de diploma, e o diretor do Instituto declarava ao formando que lhe era “conferido o grau”. Ao contrário de dois anos atrás, todos ficaram até o fim da cerimônia.

Houve o destaque para um aluno do curso de Filosofia que concluiu o curso com láurea. Para isso tinha recebido mais 80% de conceitos “A” nas disciplinas que cursara.

O diretor do Instituto ainda ofereceu um momento para os graduandos dizerem uma palavra a respeito de seu tempo na Universidade. Pegos de surpresa, nenhum formando aceitou a oferta.

Concluída a cerimônia, o grupo se dispersou.

Um ciclo terminava, novas portas estavam abertas àqueles que haviam recebido seus graus de estudos superiores.

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