Diário - leituras - Nós


Solidão é o sentimento que perpassa o leitor (ou, ao menos, este leitor) que se dedicar à leitura do livro "Nós", de Maria Avelina Führo Gastal. 

Começando por "Flores e samovar", onde uma mulher vive só em uma casa elegante e decadente, e um telefonema a tira de sua rotina. 

Passando pelo filho confrontado pelo falecimento de sua mãe, em "Aos seus pés". Pela mãe que narra o que vê o dia da família na praia em "Desapego". 

O provável médico que perde um paciente em "Cicatrizes". 

A intensa solidão (não há outra palavra) de Cassiano em sua epopeia particular em "Cheiro de lavanda". 

Ou "Amélia" (personagem título de outro conto) a procura de alguém. 

Ou Janete contemplando o vizinho em frente, no conto "Janelas". 

A perda da intimidade de um casal em "Um sorriso que chora". De fato, o conto pode fazer chorar a quem tenha passado por situação semelhante. 

Poderia falar ainda do menino, filho da empregada, que segue com ela para a casa de praia da família a qual ela serve, em "Expectativas Irreais".

Ou do pai alcóolatra ansioso por reconquistar o filho em "Doses de Afeto".

Veja. Não vou falar de todos os contos, embora já tenha falado de muitos. 

E nem tudo é solidão, no sentido que falei acima. 

Há o desencontro do casal em "Dia a dia". A paranoia em "A Lista". O medo em "Horas?", um conto com certa pegada de crônica. Ou a atmosfera fantástica no conto "Ponto de equilíbrio". 

E há o caso especial do conto "Paradise's Garden", sobre um condomínio de luxo em uma cidade (Porto Alegre? São Paulo? Rio de Janeiro? outra?) que tem sua rotina alterada por um estranho e persistente fenômeno climático, que impossibilita tanto as pessoas que estão no condomínio, moradores e empregados, de sair, quanto quem está fora de chegar. E situações vão sendo criadas por conta dessa anormalidade, numa história que, a seu modo, me remeteu a "A Auto-estrada do Sul", de Cortázar. É o conto mais longo e o que fecha o livro. Achei o final meio decepcionante, brasileiro demais, digamos, mas isso não importa. O livro já está publicado, e o conto é envolvente. 

Dito tudo isso, achei o livro a obra de uma autora madura, que poderia vender muitos livros, fosse o nosso um mercado mais maduro, e ela tivesse um agente literário e uma assessoria de imprensa. 

27/11/2019.

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