Bizarrices de uma instituição financeira


Recebi uma fatura de cartão de crédito. O cartão de crédito da fatura estava cancelado já havia alguns anos. O valor da fatura era negativo.

Ou seja, a fatura não precisava ser paga. 

Contudo a situação esdrúxula me fez entrar em contato com a instituição financeira emissora do cartão.

Como sabemos, os bancos vivem da usura. E os problemas que causam aos clientes costumam ser recorrentes e conhecidos. Emissão de cartões de crédito não solicitados; débitos indevidos e de históricos desconhecidos em conta; venda de produtos que já temos ou não precisamos, em especial seguros ou títulos de capitalização. 

Minha história com essa instituição aconteceu há uns quatro ou cinco anos e foi de alguns desgostos. 

Começa com a solicitação de um cartão de crédito que oferecia “cashback” quando isso era novidade (“cashback” significa “dinheiro de volta”, mas falar “cashback” parece soar melhor para nós que “dinheiro de volta”. “Cashback também soa melhor que “desconto”). Ou, pelo menos, era novidade para mim. Além disso, abri uma conta na tal instituição através de aplicativo. Na época abrir conta por aplicativo também era novidade. 

Usei o cartão por algum tempo até que comecei a ter o lançamento de compras indevidas. Isso foi logo após uma compra em um saite. Provavelmente um dos funcionários desse saite era pilantra copiou os dados do cartão, e passou a usá-lo para suas próprias compras, inclusive em um aplicativo de transporte. Não sei o que aconteceu com o meliante. Seria fácil rastreá-lo e fichá-lo. Fiz a reclamação, as compras indevidas foram estornadas. O cartão foi cancelado por essa época, não sem algum percalço para encontrar o canal para comunicar a fraude e pedir o cancelamento. 

A conta foi mantida até um outro evento. 

Uma tarde eu estava trabalhando e recebi uma ligação. Naquele tempo eu ainda atendia o telefone. Era alguém dessa instituição, identificando-se como da área de auditoria, e me perguntando se eu havia pedido algum empréstimo e sacado parte desse empréstimo. Eu não havia solicitado empréstimo, nem sacado dinheiro. Aí, a pessoa, uma mulher, me solicitou que abrisse um boletim de ocorrência na Polícia Civil por conta de fraude. Sim, acessaram minha conta, solicitaram empréstimo e sacaram parte do dinheiro (hoje em dia é comum que instituições financeiras mantenham empréstimos pré-aprovados à disposição dos clientes, basta ter disposição de pagar os juros cobrados. Relembremos que bancos e correlatos vivem da usura). Essa funcionária da instituição ainda insinuou que eu teria caído em algum golpe do tipo de linque malicioso em aplicativo de mensagem, ou arquivo falso em correio eletrônico, coisa que eu não havia feito. Assim lá fui eu à delegacia da minha região solicitar o B.O. da fraude. Mais de uma vez. 

Coisa triste a desonestidade e a violência desta capital, deste país. Enquanto eu aguardava atendimento, em uma das vezes apareceram duas mulheres, mãe e filha, para fazer B.O. de fraude em empréstimo consignado. Na outra apareceu uma moça que teve o veículo roubado à mão armada. 

Enfim. Sigo… 

Enviei cópia do boletim de ocorrência à instituição financeira. 

Esperei semanas até que a tal instituição regularizasse a situação e eu pudesse encerrar a conta. Durante essa espera fiz diversas ligações a eles porque o aplicativo indicava que meus dados cadastrais iam sendo alterados. Os golpistas seguiam agindo.

Por fim, afinal, por fim mesmo, regularizaram os lançamentos da conta corrente. Pude retirar os centavos que haviam ficado na conta e encerrá-la. 

Poucas semanas após esse meu tormento saíram notícias de vazamento de dados dessa instituição na imprensa. Possivelmente parte de uma equipe de tecnologia terceirizada estaria fraudando o banco. Não posso comprovar que havia relação com o meu caso, mas que parece que havia, parece que havia. 

Foi um alívio encerrar a conta. Eis uma instituição financeira que soube funcionar mal. 

Retornando ao início deste texto, tive que voltar a entrar em contato com essa instituição, para entender o significado daquilo. Após as idas e vindas no atendimento telefônico eletrônico, falei com um atendente, e ele me disse que havia esse saldo e eles precisavam me devolver. Informei uma conta que uso. E pensei, “que situação bizarra”.

Incrivelmente a tal instituição de fato me fez um pagamento com o valor equivalente ao da fatura do cartão com valor negativo. 

Após tudo isso, a tal instituição financeira me enviou mensagens por SMS, aplicativo e correio eletrônico, me pedindo para avaliar o atendimento e perguntando se eu recomendaria a instituição a amigos. 

Como diria o Juca Kfouri, o que você, rara leitora, raro leitor, depois de histórias como essas, diria a essa instituição financeira? 


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Imagem gerada pela IA Whisk


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15, 16/12/2025. 

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