Sob o Sol de Verão de Porto Alegre
Sob o Sol de Verão de Porto Alegre
Acho que foi numa antiga crônica do Luís Fernando Veríssimo que eu li sobre ninguém se aventurar no sol do meio-dia nos trópicos, a não ser cachorros loucos e os ingleses. Não me lembro de muito mais, mas parece que ele usou isso como ponto de partida de explicação para os ingleses terem construído seu império onde o sol nunca se põe durante o século XIX, tendo o tal império durado até a metade do século XX. Os ingleses se lançaram às conquistas além mar para fugir do clima frio e úmido das Ilhas Britânicas.
Quando pesquisei sobre o assunto, cheguei a uma canção de Noel Coward que fala nisso, "Mad Dogs and Englishmen" ("Cachorros Loucos e Ingleses"). Possivelmente a inspiração para aquela crônica de LFV que mal me lembro.
Tudo isso para referir um passeio por Porto Alegre num domingo de janeiro, pleno verão, temperatura de aproximados 38 graus, céu sem nuvens, baixa umidade relativa, alta radiação ultravioleta. Para sair de casa é fundamental o uso de filtro solar, tanto mais alto o fator de proteção quanto mais clara for a sua pele.
A questão é: por que motivo alguém inventaria de sair, se não tivesse a obrigação? Uma vizinha, por exemplo, técnica de enfermagem, saiu para o plantão de que estava encarregada. Saiu com roupas leves, e não deixou de se proteger sob uma sombrinha, e nesses dias, uma sombrinha se torna mesmo uma sombrinha, e não um guarda-chuva.
Enfim, meio por estupidez, meio por vontade de sair de casa, saí, em direção à Redenção. Meus pés e um ônibus foram usados no trajeto.
E lá chegando era fácil constatar. As barracas do brique ficam sob a sombra. E quem caminhava no brique, caminhava junto às barracas, sob a sombra das árvores da José Bonifácio. O leito da José Bonifácio estava vazio. Mesmo os vendedores ambulantes, de bebidas, pipoca ou sorvetes, ficavam sob a sombra das árvores, deixando os carrinhos aparentemente abandonados. Do outro lado da rua, as poucas pessoas que se animaram a deixar suas casas, se escondiam do sol, sob a vegetação ali.
Certo é que os espaços onde o sol predominava estavam vazios. Ninguém se expunha, ninguém se bronzeava. Era como se a alameda central do Parque Farroupilha ou o Monumento ao Expedicionário vivessem um dia útil, como uma segunda-feira. Quase vazios. Todos abrigados à sombra.
Naquela tarde de domingo ensolarada, verão de Porto Alegre, parecia não haver por ali nenhum "Englishman", nem algum cachorro louco.
31/01/2016, referente a 24/01/2016.
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