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Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A

Mãe, faz um ano que estou aposentado

Mãe, Faz um ano que estou aposentado. De fato na data em que escrevo, faz um ano e um dia.  Tudo passou muito rápido, mãe. Como rápida parece a vida quando olhamos para trás.  1980. No final daquele ano a Lúcia informou que havia uma vaga para office-boy na empresa em que ela trabalhava. Sim, houve nepotismo. Eu tinha quatorze anos. Meu primeiro contrato de trabalho foi assinado em janeiro de 1981. 1981. Aquele seria o ano em que o pai se aposentaria e eu começaria a trabalhar. Office-boy, como já disse.  E a frase que ficou na minha cabeça foi o teu comentário, ou recomendação, que, começando cedo assim, antes dos cinquenta anos eu poderia ter uma aposentadoria e garantir um salário mínimo por mês. Era algo significativo porque o pai sempre teve contratos precários, mesmo sendo um bom profissional pedreiro. Havia aquelas histórias que contavas, que na primeira metade do século XX, quando houve as primeiras leis concedendo férias ao trabalhador que trabalhasse por um ano inteiro, os pa

Cara Maria – XVI – Um tour por alguns escritores de Porto Alegre

Cara Maria, Viajei em teu texto sobre Porto Alegre . Pensei em te copiar, mais ou menos como fiz quando escreveste sobre a Rua Duque de Caxias, mas depois desisti. Pensar que esses textos da Duque, o teu  e o meu , já têm mais de dois anos... Nunca morei no centro da cidade, mas trabalhei ali por 42 anos. Na minha infância o centro era uma espécie de jornada mágica, uma viagem para onde minha mãe me levava, acompanhando-a a resolver algum problema, em geral alguma conta a pagar, ou algum artigo a comprar. Às vezes consultas médicas ou dentárias, dela e minhas. Quando comecei a trabalhar, o centro se tornou uma espécie de território meu. Ainda mais que nos meus primeiros quatro empregos minhas atividades eram total ou parcialmente as atividades de um office-boy, caminhando pelas ruas centrais, para lá e para cá.  Mas como eu te disse, desisti de desenvolver essas ideais.  Mais ou menos na mesma época em que escreveste tua crônica homenageando o mais recente aniversário de Porto Alegre,

Caras Carol, Gian e Rubem: quem tem amigos tem tudo – lembranças da sessão de autógrafos de Confinado um diário da peste

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Minhas caras, Escrevo na terça-feira. Queria ter escrevido antes, mas não consegui. Se tivesse escrevido antes, teria registrado tudo mais a quente.  Lembrando novamente a Ana Luíza Rizzo, segundo a qual “um livro não é obra de uma só pessoa”, ou algo assim, lembro do incentivo inicial do Gian, quando soube da existência do, digamos, manuscrito digital, “vamu lá”. A notícia logo se espalhou e o Rubem liberou a possibilidade da edição pela Editora Santa Sede, e a Carol aceitou fazer a revisão do texto. Coerente consigo mesmo, o Gian diagramou o livro.  Também a Carol foi a pessoa que disse que o livro não poderia ser publicado sem um lançamento e sessão de autógrafos, como era desejo do autor. Sim, a princípio o autor queria publicar o livro muito discretamente. Carol achou que não fazia sentido. Assim, ela viabilizou uma data conveniente e marcou essa data no Bar Apolinário. O Gian fez as artes da divulgação.  Então, no dia 5 de abril de 2024 lançamos o livro “Confinado, um diário da p

Feliz Páscoa em 2024

A conversa por videochamada ia terminando. Então houve o desejo de “Feliz Páscoa”.  "Embora eu não entenda como se possa desejar Feliz Páscoa pela morte de alguém." Eu acabei por responder que na Páscoa não se celebrava a morte de ninguém, mas, pelo contrário, a ressurreição de alguém, no caso a ressurreição de Jesus, o Cristo. Ainda tive oportunidade de dizer que a lembrança da morte do Messias acontecia na chamada Sexta-Feira Santa. O dia em que, depois de celebrar a Páscoa Judaica com seus discípulos, no que conhecemos por Última Ceia, Jesus, o Cristo, foi preso, julgado e condenado à morte em um dia.  Talvez para a racionalidade do século XXI da era cristã (sim, da era cristã. É isso que vivemos, o Ano do Senhor de 2024, em latim de almanaque, ou algo assim, Anno Domini) a ressurreição seja algo demasiado. Melhor pensar em vida espiritual ou reencarnação (enfim, nos dias de hoje, quem poderia nos dizer o que é correto? Fato é que o Novo Testamento fala em ressurreição há

Cara Maria – XV – Gracias por tu vida

Cara Maria, Melhor usar meu macarrônico espanhol para agradecer por tua vida. Nesse caso acho melhor dizer  “ gracias ” , que  “ obrigado ” , que carrega obrigação junto de si. Se fosses uma crente cristã eu diria graças a Deus pela tua vida, como acho que não és, vale ser grato por estares aqui e por aí, sem proselitismos.  Desde que te escrevi há duas semanas, passou o bloqueio. Foi como se uma rolha ou uma tampa fosse retirada dos pensamentos, para que eles pudessem fluir e voltar a formar textos.  Continuo acompanhando teus textos.  No anterior , se tudo der certo, mais atividades físicas no próximo verão, sem a atrapalhação de lesões.  No de hoje , por que se pensa pouco nas vítimas da violência sexual? Em especial se o violador é famoso?  E seguimos acompanhando a tensa situação da invasão da Faixa de Gaza.  Recentemente li um artigo do jornalista Thomas Friedman cujo título é “Netanyahu tornou Israel radioativo pelo modo como conduz guerra em Gaza”. É um longo texto relembrando

Cara doutora, eventualmente algum dia vai mal

Cara doutora, Hoje o dia começou mal. Pelo aplicativo de mensagens no celular enviei para minha ex-mulher uma mensagem que deveria ter enviado para meu filho. Se Freud estivesse vivo, ele explicaria se o que fiz foi um ato falho, ou uma simples distração que virou uma imbecilidade. Como resultado, recebi uma cascata de mensagens sobre um amor que morreu, mas que não devia ter morrido. Sobre um luto em vida que não se realizou (de fato, parece esse luto que não se realiza).  Hoje seria dia de encontrar a namorada.  Ela também não estava de bom humor. Ontem tivemos um desentendimento a respeito do que deveríamos fazer hoje, do tipo viajar a uma cidade mais ou menos próxima ou não. Não gosto de rompantes. Eu não queria viajar com base em decisão tomada na véspera da viagem. Ela queria. Houve uma discussão e apesar da tensão inerente, achei que havíamos chegado a algum consenso. Iríamos viajar, mesmo que eu não achasse uma boa opção. Contudo, hoje ela decidiu não viajar. Pensei que ela tiv

Cara Carol – III

Cara Carol, Espero que tenhas visto que recentemente acabei de ler o livro Caro Michele da Natalia Ginzburg. Por conta disso, publiquei o registro da leitura no blogue . Agora já posso dizer que li o livro com o título que inspira o título desses textos. Eu poderia inclusive colocar aqui um emoticon, ou emoji, com um sorrisinho de satisfação.  Continuo lendo a revista Piauí. As leituras continuam atrasadas. A leitura mais recente que foi concluída foi a edição de junho de 2023 (edição 201). Neste caso, me chamou a atenção uma reportagem chamada A Fraude Titânica, em que a repórter Consuelo Dieguez relata o escândalo (ou a fraude) contábil das Lojas Americanas. O maior escândalo (ou fraude) do capitalismo brasileiro. Que começa, como talvez lembres, com o anúncio dos tais problemas contábeis pelo então novo e recém empossado CEO das Americanas, Sergio Rial. Então foi anunciado que a dívida real da empresa era de cerca do dobro do que se pensava anteriormente.  Por conta disso, Dieguez f