Postagens

Postagem em destaque

Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A

Então, pela primeira vez, é feriado no Dia da Consciência Negra em Porto Alegre

Então é Dia da Consciência Negra E o que você fez? Ontem um preto foi morto E hoje também E é Dia da Consciência Negra E o que você fez? Entrou na justiça para impedir a celebração E um juiz lhe concedeu E é Dia da Consciência Negra E o que você faz? Reclama que não há dia da consciência branca Impressiona do que você é capaz E é Dia da Consciência Negra E o que você faz? Não sei, mas sugiro: aproveite o feriado.* *Esse texto é uma paródia não muito comprometida ou fiel de Happy Christmas (War is Over) de John Lennon e Yoko Ono, aproveitando ainda a versão de Claudio Ferreira Rabello para o português do Brasil, interpretada por Simone.   16, 19/11/2024. 

Diário – leituras – Quem matou meu pai?

A mesma amiga que me emprestou A Vegetariana também me emprestou este pequeno livro, Quem matou meu pai?, do escritor francês Édouard Louis. O autor se tornou um certo tipo de sensação, sendo admirado pela escritora Tati Bernardi, e, bem, por essa amiga que me emprestou o exemplar.  Quem matou meu pai? parece uma espécie de acerto de contas do autor com seu pai e consigo mesmo. Difícil inclusive definir que tipo de livro é. É um depoimento? Uma reflexão? Quanto há de realidade ali? E quanto há de ficção?  Em todo caso, eis um livro que narra bastante sofrimento, como na questão do relacionamento entre pai e filho, ou nas consequências que o pai do autor sofre por conta de um acidente de trabalho.  Também é uma denúncia. Tanto que o livro abre com uma citação que reproduzo abaixo: “Quando lhe perguntam que significado a palavra ‘racismo’ tem para ela, a intelectual americana Ruth Gilmore responde que racismo é a exposição de algumas populações a uma morte prematura. Essa definição funci

Diário – leituras – A vegetariana

Com a premiação do Nobel de literatura à escritora sul-coreana Han Kang, e após uma conversa, uma amiga me emprestou esse livro. A vegetariana trata de uma mulher jovem adulta que resolve parar de comer carne após uma série de sonhos, ou, talvez, pesadelos. Ela não apenas para de consumir alimentos de origem animal, como também esvazia sua casa desse tipo de comida. O que gera sérios desentendimentos com seu marido. No decorrer do livro veremos que sua decisão de não mais consumir carne, ovos, leite e mel, nem artigos de couro, trará consequências drásticas sobre sua família materna, além de seu marido.  Uma curiosidade sobre essa vegetariana é que a história não é contada por ela mesma, mas por pessoas próximas. Os únicos flashes do pensamento da personagem é quando somos induzidos a pensar que ela exprime o que viu em seus pesadelos. Eu, pelo menos, me senti induzido a isso. Que eu me lembre, o livro não usa a palavra pesadelo, nessa tradução ao português brasileiro. Talvez seja uma

Fly me to the Moon

Imagem
Não foi bem um piquenique. Aliás, não foi nada um piquenique. A começar pelo treinamento. Ser submetido a forças centrífugas, ficar pendurado e rodando ao redor de um eixo, usar equipamento pesado dentro de uma piscina. Sempre sob o escrutínio do pessoal encarregado do tal treinamento. E a turma era irônica. Gostavam de tocar Rocket Man e Space Oditty nos momentos de folga. Adoro a canção do Bowie, mas certamente ela não era bom augúrio.  Nada era confortável. O espaço era apertado, a comida não era saborosa – de fato nem tenho certeza se dá para chamar de comida –, tivemos que usar fraldas e sondas urinárias.  O elevador até a cápsula parecia que não ia parar de subir.  Era dezembro, mas a temperatura até era amena na Flórida.  O baque da partida foi mais forte que qualquer turbulência que eu já tinha enfrentado.  A viagem foi relativamente equilibrada, uns quatro dias para ir, quase quatro dias por lá, no satélite, e outros quatro dias para voltar. Coletamos um monte de rochas, finca

Eu, a Oficina Santa Sede e a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre

Imagem
Sábado retrasado foi 2 de novembro de 2024. Segundo dia da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre e também Dia de Finados.  Começando à tarde, e se estendendo pela noite desse dia, a Oficina Literária Santa Sede, Crônicas de Botequim esteve lançando uma série de livros.  Às 16 horas, foram lançados os livros da chamada Safra, no caso a Safra 2024. Após o fim da pandemia de covid-19 se tornou comum que a Safra gerasse dois livros. Um livro produzido por uma turma de cronistas que se reúne no bar que hospeda a oficina. Outro livro produzido por uma turma virtual, que se reúne por teleconferência. Antes da pandemia não havia turma virtual. Pelo menos, pelo que eu me lembre.  O livro da turma do botequim se chama Outra vez, jamais, e foi escrito por Bete Flor, Carmen Gonzalez, Eladir Rodrigues, Elaine Rosner Silveira, Janice Dornelles de Castro, Jéssica Fontoura, Luciano Sclovsky, Nayara Monteiro Pinheiro e Tânia Mattos Veloso. Todos os oficineiros da turma presencial compareceram. O livro da

País do Atlântico, não pacífico

Imagem
Caro Emanuel Estava eu almoçando em um restaurante na esquina da Rua da Junqueira com a Calçada da Ajuda,  a poucos metros de distância da margem norte do Tejo, quando passou pela calçada, caminhando, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Estava acompanhado apenas de uma oficial militar. Imagino que essa militar deveria ser uma ajudante de ordens, e possivelmente também atuasse como guarda-costas. Acho que o palácio presidencial fica na região. Fiquei espantado, e pensei em ir atrás para pedir que pudesse tirar uma foto com ele. Como eu ainda não tinha terminado de comer, e sem ser essa pessoa extrovertida, desisti.  É fato que o presidente da república de Portugal manda muito menos que o presidente do Brasil. Em Portugal, o chefe de governo é o primeiro-ministro. Mas que diferença para o Brasil onde até governadores e prefeitos de capitais vivem cercados por um séquito de assessores e seguranças.  O fato do presidente da república andar a pé, acompanhado apenas por uma ajudante de ord

Sábado literário na Editora Metamorfose – outubro de 2024

Imagem
No dia 26 de outubro de 2024 eu estive no salão social do prédio onde fica a sede da Editora Metamorfose para o “sábado literário” dessa editora. Sim, era sábado.  Houve lançamento dos livros Crianças Pequenas, uma coletânea organizada pelo Marcelo Spalding; Gramática para a escrita, de Neiva Tebaldi Gomes; Viverindades, de Paula Regina Jancowski; Minicontos Periciais, de Ana Mello; e Viagens, Crônicas e Descobertas, de Marcelo Spalding.  Eu já havia adquirido Viagens, Crônicas e Descobertas remotamente, sem ter a perspectiva desse evento promocional. Adquiri os Minicontos Periciais de Ana Mello lá. Além disso adquiri outros seis livros da Editora Metamorfose, e ganhei um de bônus.  Agora é ter tempo para ler. Já tenho mais livros que anos de vida pela frente. Mas continuo comprando livros. É isso aí, vida breve, arte perene.  . Ana Mello autografando Marcelo Spalding autografando . 29/10/2024, 02/11/2024.