Postagens

Postagem em destaque

Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A...

Sem lugar tranquilo

Imagem
José chegou ao bar desacorçoado.  Quando ele chegou,  eu e Marcos já estávamos ali.  Ele havia nos enviado mensagem informando a questão. Seu carro foi arrombado enquanto ele precisou ir na farmácia. Muitos remédios, farmácia cheia, talvez 45 minutos lá.  “É, João. Uns 45 minutos foi o suficiente para algum vagabundo quebrar um vidro, abrir a porta, invadir o carro, roubar o estepe e ir embora. Em uma travessa da Protásio, no bairro Santa Cecília. Área nobre e residencial. Início de noite de primavera. Até então era um início de noite agradável.” “Sim, sei. Já aconteceu comigo. Já te falei daquela vez que roubaram dois pneus do meu carro e o deixaram apoiado em tijolos, né?” Marcos olhou para um e para o outro de nós e retornou sua atenção para o celular.  “É, João. Sim, tu contou. Também não foi a primeira vez que aconteceu comigo. Já tinham roubado um estepe meu lá perto de casa. Mas é uma região mais afastada. E era tarde da noite. Outra vez invadiram uma vel...

Diário – show – Guto Leite, O Escafandrista: Poesia e Canção

Imagem
No dia 14 de outubro de 2025, uma terça-feira, eu estive no Teatro Túlio Piva, ali na Rua da República, na Cidade Baixa, aqui em Porto Alegre, para assistir o show O Escafandrista: Poesia e Canção, de Guto Leite.  O espetáculo consistiu em Guto cantar canções de sua autoria, entreameado pela declamação de poesias, também de sua autoria. A notável exceção de obra de outro compositor no repertório foi a música Futuros Amantes, de Chico Buarque. Futuros Amantes, que em sua letra fala em escafandristas. Muito afim com a temática do show. Sim era um show temático, e o título dá uma dica do tema.  Thomás Werner acompanhou Guto Leite com guitarras, violões e dispositivos eletrônicos com repetições e ritmo.  Foi um bom show, de artistas talentosos. Bem estruturado. Diria que serviria a produzir um álbum, com a exata ordem de canções e poemas apresentados. Se é que isso já não está disponível nos serviços de áudio sob demanda, ou como se diz em bom português brasileiro, streamings...

Outubro antigamente era assim

Antigamente outubro era assim. Antigamente era nos anos 1990.  Começava com o aniversário do Lucas, o filho de um casal de amigos nossos, no dia 5.  Dia 11 era o aniversário do Emanuel, meu filho. Que por uma bela coincidência nasceu no mesmo dia que o bisavô dele. Com 94 anos de diferença entre eles. Emanuel só sabe de seu bisavô por vagas memórias e umas poucas fotos.  Depois, dia 16, era o aniversário da minha cunhada Siloni. Melhor que chamar cunhada é o termo em inglês, sister-in-law, isto é, irmã na lei.  Dia 17 era o aniversário da Sula, a mãe do Lucas.  E dia 20 era o aniversário da Lúcia, a minha irmã. De sangue. Em grande parte também uma espécie de mãe.  Eu sempre pensei essa profusão de aniversários em outubro como um determinismo biológico. Esses primatas gerando suas crias para nascerem na primavera.  Também não descarto que haja uma confluência astral para que haja um monte de gente nascida sob o signo de libra.  Quando comentei ess...

Diário – leituras – Embarque imediato

Imagem
Tenho o costume de ler um livro e, depois, comentar sobre a leitura, fazer um registro. Também tenho o costume de demorar algum tempo entre o final da leitura e escrever o registro. No caso deste livro é ainda um pouco mais complicado.  Este livro, Embarque imediato, é uma coletânea de seis relatos de viagem, feitos pelos autores, após participarem de uma oficina literária para criar relatos de viagem. A oficina foi organizada por Zizo Asnis. As autoras e autores são Cris Ribeiro Marques, Isabella Guerra, Lígia Rosso, Marcel Souza, Sônia Friedrich Maus e Wesley Faraó Klimpel.  Adquiri o livro do meu colega de inúmeras oficinas literárias de crônicas, e amigo, Marcel Souza. E isso foi lá por fins de 2022. Logo que comprei o livro, li o relato que ele escreveu sobre suas andanças pela Rússia durante a Copa do Mundo de Futebol de 2018.  Depois o livro ficou encostado na pilha de livros a serem lidos.  Acho que resolvi retomar a leitura e ler os outros relatos, impulsion...

Mais alguns de nossos mortos – setembro e outubro de 2025

Eu era criança na década de 1970 e tinha a percepção de meu pai em estado taciturno. Abatido.  Penso nos dias em que ele soube da morte de Lupicínio Rodrigues (1914-1974) e, tempos depois, de Orlando Silva (1915-1978). Dou-me conta agora que esses artistas nasceram pouco antes do meu pai. O velho é de 1916.  O que pensava o meu pai? Não sei. Agora posso ver o que sinto. Sempre me dá uma tristeza, pequena ou grande, quando algum grande artista ou alguma personalidade que marcou época se vai. Têm sido tantos. E parece que cada vez mais.  Robert Redford foi O Galã, se podemos simplificar muito. Parceiro de Paul Newman em Butch Cassidy & Sundance Kid; e de Dustin Hoffman em Todos os Homens do Presidente; filmes que, curiosamente, ou não vi ou não lembro se vi, o que dá no mesmo. Mas lembro que marcou minha adolescência um filme que ele dirigiu, Gente como a gente. Uma das primeiras vezes na minha vida em que eu havia lido o livro que deu origem ao filme. E, claro, o vi em...

Notas de um final de semana movimentado em fins de setembro de 2025 (III): diário – show – No Te Vá Gustar

Imagem
Na noite de 27 de setembro de 2025 eu estive no Auditório Araújo Vianna, aqui em Porto Alegre, para assistir o show da banda de pop rock uruguaia No Te Vá Gustar.  Não estava frio como estivera na noite anterior, mas a previsão era de chuva para aquela noite.  No Te Vá Gustar é uma banda liderada por Emiliano Brancciari, que está em atividade desde os anos 1990. Eles têm carreira consolidada na bacia do Prata, me parece, e têm vindo com certa regularidade a Porto Alegre. Lembro de um show há dois ou três anos, no Bar Opinião. Não fui a esse show porque cheguei a uma idade em que não quero mais passar duas horas em pé na pista.  Não sei se a banda veio por conta de algum álbum novo. Acompanhei nos softwares de áudio sob demanda um show gravado em Buenos Aires em 2025, mas não me vejo em condições de dizer que esta apresentação porto-alegrense espelhou a gravação portenha.  O Araújo esteve cheio, embora não lotado. Muitas bandeiras uruguaias entre o público. Imagino qu...

Notas de um final de semana movimentado em fins de setembro de 2025 (II): sessão de autógrafos – Hospitalares, de Edgar Aristimunho

Imagem
No final da tarde de sábado, 27 de setembro de 2025, eu estive no espaço Mosaico Cultural, ali na Travessa Octávio Corrêa, 39, na Cidade Baixa, aqui em Porto Alegre, para o lançamento do livro Hospitalares, de Edgar Aristimunho. Aristimunho recebeu seus leitores, autografou uns quantos exemplares do livro e posou para fotos várias.  O livro nasceu após problemas de saúde levarem Aristimunho a uma internação de alguns (vários?) dias em um hospital porto-alegrense. São registros, divagações, reflexões, talvez até pirações de um homem que enfrenta uma situação limite.  Infelizmente não pude ficar muito tempo, mas valeu ter ido. Um Mosaico Cultural cheio já indica o sucesso da iniciativa.   . Edgar Aristimunho autografando o meu exemplar de Hospitalares . 04, 09/10/2025.