Sobre pênis, vaginas e talento literário


Primeiramente a gente começa advertindo que assuntos delicados precisam de explicações e prevenções. Este texto é escrito por um homem velho, cis e heterossexual. Assim esse será o ponto de vista aqui. Esse texto contém palavras chulas. Assim, tirem as crianças da sala. Ou evitem mostrar esse texto a elas. Ou, no limite, só mostrem com supervisão e explicação. Por fim, pênis aparece antes de vagina no título por conta da ordem alfabética.

Após as advertências e explicações iniciais, seguimos. 

Possivelmente tudo comece com uma crônica antiga da Tati Bernardi chamada Colocando a vagina na mesa, onde, em uma série de expressões, ela troca a palavra pau pela palavra vagina. Assim na crônica temos que “Vagina chutou a vagina da barraca e colocou a vagina na mesa”. 

Pois é. Nessas expressões todas pau é tanto um pedaço de madeira quanto uma metáfora do órgão sexual masculino, o pênis. E uma questão no texto de Tati Bernardi é que vagina é praticamente um termo científico. Em relação a pau, vagina é neutra. Falar em vagina é como falar em pênis. Neutro. Quase asséptico. 

E não consigo encontrar uma palavra equivalente a pau para o órgão reprodutor feminino. Pensei em racha, mas acho que as meninas não usam essa palavra. Quando eu era adolescente meninos usavam. E meninos são e serão meninos. 

E atenção: a partir daqui baixarei um pouco mais o nível das palavras. 

Conto uma historinha. Já vai tempos. Talvez meses, possivelmente anos. Uma amiga com algum infortúnio, ou algo caiu no chão, ou bateu o joelho na quina da mesa, falou alto, quase gritou,  “caralho!”. Talvez pensando na crônica da Tati, perguntei à pessoa, mulher feminista, se em lugar de praguejar caralho, ela não deveria praguejar buceta. E então tivemos uma discussão teórico-filosófica a respeito. Essas discussões se tornam mais e mais estendidas quando regadas a álcool, como acontecia. Não lembro que tenhamos chegado a alguma conclusão. 

Pois outra noite, mais recente, estávamos em um grupo de amigos bebendo e conversando. Foi então que um dos convivas folheando um livro, viu um texto da Maria, e disse que “Maria escreve bem pra caralho, meu”, significando que Maria escrevia muito bem, era muito talentosa (não a Maria a quem já enviei algumas crônicas mensagens, mas, de qualquer maneira, esta também uma escritora talentosa). Eu questionei se não seria o caso de dizer que Maria escreve bem pra buceta, sendo ela uma mulher. Houve algum questionamento, mas mais sorrisos constrangidos (sorrisos constrangidos?). O papo seguiu. Novamente inconclusivo em relação à questão. 

Dias depois estávamos em outro grupo de amigos bebendo e conversando. Perguntei a um amigo escritor, que não estava no encontro anterior, se ele achava melhor dizer que Maria escrevia bem pra caralho, ou que Maria escrevia bem pra buceta. Pego de surpresa, talvez perplexo, o amigo pensou, pensou, e depois declarou que não se sentia capaz de opinar. 

E você, rara leitora, raro leitor, é capaz de opinar a respeito disso? 


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14, 15/07/2025. 

Comentários

  1. Acho que mulheres heteros deveriam usar mesmo caralho e homens héteros buceta.Pq aí vai da preferência, né? Quem gosta de caralho, usa caralho.

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  2. No cú que vou opinar sobre palavras chulas!

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  3. Ordem alfabética... Ahã, seu machista enrustido. Se vacilar, vai eleger o nome xana só para deixar a vagina depois.

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  4. Não acho que haja equivalência. Se agride, causa dor, tem que ser associado ao órgão masculino, já nos basta a humilhação moral contida no puta que o pariu.

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