Diário - leituras na piauí - setembro/2018 - O Nome do Cão de Manuel Antonio Pina
Na edição 144 da revista Piauí, de setembro de 2018, são apresentados alguns poemas do português Manuel Antonio Pina (1943-2012). Uma antologia do poeta deve ser lançada em breve aqui no Brasil pela Editora 34, conforme a revista.
Dentre os poemas, me chamou a atenção o poema "O Nome do Cão", que reproduzo abaixo. Talvez porque eu tenha um cão. Talvez porque o poeta tenha sabido captar os sentimentos que envolvem o dono de um cão, quiçá tenha compreendido o viver do próprio cão.
O Nome do Cão
O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,
mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.
Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconhecia
de algum modo essencial
que nos escapava
ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
o cão ia.
E aí adormecia
dum sono sem remorsos
e sem malancolia
Então sonhava
o sonho sólido em que existia
E não compreendia.
Um dia chamámos pelo cão e ele não estava
onde sempre estivera:
na sua exclusiva vida.
Alguém o chamara por outro nome,
um absoluto nome,
de muito longe.
E o cão partira
ao encontro desse nome
como chegara: só.
E a minha mãe enterrou-o
sob a buganvília
dizendo: "É a vida..."
11/10/2018.
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