Da Cor dos Táxis de Porto Alegre



Um dia desses vi um táxi com a nova pintura proposta pela prefeitura de Porto Alegre. Estava parado em um ponto, próximo do meu trabalho. Agora é branco. A cor atual e tradicional, aquele vermelho-alaranjado, oficialmente chamado de vermelho ibérico, foi para uma faixa nas laterais dos carros. 

Pensei com os meus botões, "Nossa! Eis uma tradição que some!".

Desde que me conheço por gente, os táxis de Porto Alegre são desse tom de encarnado. Pelo menos é o que indica minha memória. E dos meus tempos de me conhecer por gente, até não muito tempo atrás eles eram fuscas. Fuscas que não tinham o banco da frente do carona, e, portanto, podiam transportar no máximo três passageiros. Tinham um taxímetro mecânico, parecia uma capelinha, e, inclusive, acho que era chamado de capelinha mesmo. Houve uma vez que presenciei o taxista dar corda no tal taxímetro, tal qual um relógio. 

Quem viveu naquele tempo, há de lembrar também que o taxista usava uma corda para puxar a porta do passageiro, a fim de fechá-la. Na minha cabeça essa corda é de fios de nylon azul.

Não era trivial andar de táxi para a minha família. Basicamente se usava em caso de doença. Muito raramente meus familiares iam a festas tarde da noite, de onde tivessem que voltar de táxi. E na casa na minha infância não havia automóvel. 

Era um tempo em que o bairro, Chácara das Pedras, era um bairro de pobres e remediados.  Era escuro. O movimento à noite era praticamente morto, e não havia telefone em casa. Nessas emergências, era preciso caminhar até a Avenida Protásio Alves, uma caminhada de umas sete quadras, e "achar" um táxi por lá. 

Com a aproximação do final do século XX, os fuscas começaram a ser aposentados do ofício, substituídos por veículos mais confortáveis, normalmente com quatro portas, podendo transportar quatro passageiros. Mas continuavam com a mesma cor característica.

Deve fazer uns dois ou três anos os táxis começaram a receber a concorrência dos carros particulares por aplicativos de celular, que fazem um serviço parecido por um preço muito menor. E com isso, às vezes, o próprio futuro da existência do serviço de táxis é questionado. A ver.

O certo é que nos próximos três ou quatro anos, todos os táxis que ainda existirem em Porto Alegre serão brancos. 

Os veículos vermelhos, tão característicos, por um tempo continuarão existindo na memória daqueles que os viram e usaram. Depois, talvez, ficarão no registro de algum almanaque de histórias da cidade. 

E imagino daqui a cinquenta anos, um outro homem de meia idade, saindo de seu trabalho e vendo os táxis com outra cor, digamos amarelo, estipulada por algum futuro novo prefeito. O que ele pensará?

18/11/2018.

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