Diário - Leituras na Piauí - Junho/2015 - Doce Remédio


Diário - Leituras na Piauí - Junho/2015 - Doce Remédio



Doce Remédio é uma das longas reportagens da revista Piauí, na edição 105, de junho de 2015, onde o jornalista Michael Polan aborda a experiência com drogas psicodélicas como terapias para lidar com a angústia humana.


Michael Polan é professor na Universidade da Califórnia, Berkeley, e o artigo foi originalmente escrito para a revista New Yorker.


Ele começa seu relato falando de Patrick Mettes, um jornalista de 54 anos, com câncer nas vias biliares, e com a expectativa cada vez mais presente e angustiante da morte. Mettes leu um artigo no The New York Times, sobre experiências em diversas universidades com alucinógenos. A New York University, NYU, era uma delas, e ele se candidatou a participar do programa. A droga utilizada era a psilocibina, o princípio ativo dos chamados "cogumelos mágicos".


A partir daí, Polan faz toda um inventário do uso das drogas psicodélicas, começando pelos anos 1950, passando pela mais famosa destas drogas, o LSD. O governo dos Estados Unidos financiou mais de quatro milhões de dólares em pesquisas nessa área, até que a abordagem mudasse, e se passasse ao proibicionismo que passou a vigorar a partir do início dos anos 1970. A pesquisa foi descontinuada, e esse conhecimento praticamente perdido.


O que parece que os cientistas estão redescobrindo é que estas drogas tem potencial para serem usadas como antídoto para o estresse pós-traumático, e podem ser usadas contra a angústia existencial que afeta todos os seres humanos. Essa angústia afeta de forma mais acentuada uns do que outros. Logo no segundo parágrafo, há uma frase definidora do potencial destas drogas: sob a influência delas, "o indivíduo transcende sua identificação primária com o próprio corpo, liberando-se de seu ego e voltando [da viagem alucinatória] com uma nova perspectiva, e uma profunda aceitação", das limitações existenciais, presumo eu.


Então ele passa a inventariar todos os estudos que ele conseguiu mapear a respeito de tais pesquisas, como na própria NYU, ou em Londres.


Narra a "viagem" de Mettes com a psilocibina, viagem esta guiada por uma pessoa querida e já falecida, e mostra como aquilo de fato, mudou a forma dele ver o mundo, e aliviou sua angústia diante da morte iminente.


Como se poderia esperar, na reportagem ele informa pesquisas para tentar descobrir o motivo da possibilidade terapêutica com as drogas psicodélicas, com pesquisas sobre a fisiologia cerebral. Supostamente essas drogas agiriam sobre a "rede neural em modo padrão", ou "Default Mode Network" - DMN, em inglês, diminuindo sua atividade.


Enfim, uma reportagem muito interessante sobre psicologia, psiquiatria, e neurologia.


Patrick Mettes, por fim, morreu em uma clínica de cuidados paliativos. Mas a experiência com a psilocibina aparentemente lhe gerou um alívio existencial, e lhe trouxe nova alegria de viver, pelos dias que lhe restaram após a experiência, isto é, a “viagem”.



05/08/2015.

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