Conheces um médico humanista?


Caro amigo,


Conheces um geriatra humanista? E que atenda pelo convênio médico da firma? 

Meu conceito simples de médico humanista seria aquele capaz de ver diante de si um paciente que é uma pessoa doente, e como pessoa deve ser tratado. Em geral minha experiência é que os médicos costumam ver um portador de uma doença qualquer, e se focam na doença; precisam lutar contra a doença, em vez de ver o que é possível fazer pelo paciente doente. 

Por exemplo, tive uma consulta com um cardiologista para avaliar coração e sistema circulatório. Durante a consulta o doutor me disse que eu precisava parar de beber para uma boa evolução cardiológica. Eu sei que o consumo de álcool faz mal, mas eu não estava em busca de conselhos para meus hábitos de consumo. Eu queria um médico que me avaliasse e avaliasse tratamentos, se fossem necessários. Me senti diante de um pastor de almas, ou, talvez, diante de um coach de saúde. 

Meses atrás comecei a ter um sintoma esdrúxulo. Consistia de uma dor aguda atrás da orelha esquerda durante o orgasmo sexual. Procurei o urologista com quem faço acompanhamento de próstata e aparelho urinário, já que a dor acontecia no momento de pico sexual. O doutor não pediu detalhes, nem exames, nem me examinou. Simplesmente disse que não era com ele, e que eu deveria procurar, talvez, um neurologista. 

Mais recentemente estive diante de um geriatra mesmo. Procurar um geriatra foi recomendação da psicoterapeuta. Um clínico geral especializado em tratar velhos.  A ideia era ter um acompanhamento mais, digamos, holístico, já que tenho uma especialista para acompanhar a diabetes (o diabetes?), e esse especialista para o trato urinário. Por conta dos mais recentes exames, a endocrinologista (diabetes), me recomendou consultar um hepatologista, outro especialista. 

Na minha cabeça este profissional, o geriatra, conversaria comigo, me daria atenção, me daria orientação em relação a todos os outros especialistas que necessito consultar. Infelizmente após uma breve consulta e avaliação dos exames, a palavra deste geriatra foi que precisaríamos baixar minha taxa de açúcar. Ou seja, me pareceu mais um profissional focado na doença, e não no paciente doente. Outro médico em busca de medidas heróicas para a “cura” da diabetes (do diabetes?), tipo, aumentar o trajeto das caminhadas de dois para três ou quatro ou cinco quilômetros. Como se caminhar dois quilômetros já não me parecesse tedioso o suficiente. 

Pode parecer choro de quem tem condições de acesso a relativamente bons tratamentos médicos em um país onde pessoas crescem com sequelas de fome; onde em alguns lugares ainda se morre aguardando atendimento em emergências; onde consultas com especialistas na rede pública podem demorar meses, até anos. 

Mas é o que eu gostaria de ter.

Então? Conheces alguém assim?



09, 18/07/2023.

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