Nós, nossos livros, e coincidências felizes



Dia 12 de abril passado, eu ganhei o livro A trégua, de Mario Benedetti. Foi presente da Carol. 

Publicado originalmente em 1960, A trégua fala do relacionamento de Martin Santomé, um viúvo de cerca de cinquenta anos de idade, às vésperas da aposentadoria, e Laura Avellaneda, uma nova funcionária na empresa, e que, a princípio, vai trabalhar sob as ordens de Santomé. 

Estou no início da leitura, e até a parte em que leio, nenhum relacionamento amoroso começou. 

Quando falei para um amigo que estava lendo esse livro, ele me comentou que era mais uma coisa sobre o Uruguai, talvez um sinal do quanto eu gosto do “paisito”. 

Sem dúvida. Desde minha primeira ida até lá, foram talvez uns cinco passeios. Não tenho certeza. O primeiro provavelmente em fevereiro ou março de 2011, o mais recente em outubro de 2022. Outubro de 2022, dias frios de primavera, após um inverno bastante frio, no sul da América do Sul. 

Desde a primeira vez que vi Montevidéu me encantei com a cidade. Seu povo em geral acolhedor (exceto pelos seguranças privados, esse pessoal bisonho, pago para desconfiar, em especial de pessoas não brancas, como é o meu caso e de meu filho. Talvez eu esteja sendo paranóico, mas acho que não), seus prédios antigos e preservados. Como brinquei com alguém gastando meu francês brasileiro, uma cidade que combina sua “decadence, avec elegance”. 

Contudo a Montevidéu de Benedetti e Santomé é uma que não conheci. Publicado o livro em 1960, imagino a Montevidéu de 1958 na mente do autor. 

Tenho pilhas de livros para ler, mas este acabou se enfiando na frente. Pelo amor por Montevidéu, pela semelhança de momento vital do protagonista comigo mesmo. 

Como leio mais de um livro simultaneamente, estou também lendo “Horas íntimas”, a homenagem da Santa Sede a Vinicius de Moraes, na masterclass de 2021. 

A horas tantas da leitura, encontrei um poema de André Hofmeister. Se chama “Meus livros”.

Ei-lo abaixo. 


“Em contínua incandescência

Persistem calados em minha estante

Livros que talvez jamais lerei

Eles também fazem parte de mim


Passo os olhos em revista

Este repertório ecumênico do meu tempo:

Estão ali dispostas em ordem alfabética

Convicções renunciadas, tantas ideias postergadas

Minhas paixões prescritas


Quisera eu pudesse te dizer

– Serei sempre o que sou hoje!

Mas o quanto continuarei buscando em sebos

Do que ainda deixarei de ser?”


Fiquei tocado pela poesia do André.

Comovido no momento em que rompi o plastiquinho que protegia o livro. 

Mais uma pequena nova aventura. Talvez desventura. 


01, 02/05/2023.

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