Divagando sobre lentilhas


Lentilhas na panela parecem moedinhas. Olhadas em boa porção no fundo de uma panela, transformam a panela em um pote de tesouro. 

Mas claro, só percebi isso quando eu mesmo comecei a preparar lentilhas, o que aconteceu neste ano da peste de 2020. 

Isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, sobre se eu deveria achar um novo significado na narrativa bíblica, em que Esaú "vende" seu direito de primogenitura (ser o primogênito, o irmão mais velho, dava direito a uma porção maior da herança, e à liderança do clã) a Jacó, seu irmão, por um prato de lentilhas. Está no livro de Gênesis, capítulo 25, versos 29 a 34. A versão da Bíblia de Jerusalém termina dizendo, "Então Jacó lhe deu pão e o cozido de lentilhas, ele comeu e bebeu, levantou-se e partiu. Assim desprezou Esaú seu direito de primogenitura."

Ou talvez não, seja só viagem desse cronista. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje só fala em um "ensopado". 

Ensopado, cozido... a propósito, devo dizer que a primeira vez que tentei preparar lentilhas cozinhei demais, e em lugar do pretendido caldo, consegui um creme de lentilhas. Tudo bem, foi consumido igual. 

Enfim, viaje o cronista ou não na narrativa do Gênesis, a simples visão dos grãos de lentilha na panela me deu uma nova perspectiva da leguminosa. 

E mais significado ao consumo das lentilhas nas ceias de ano novo. 

Ano novo era o único momento que parecia que via minha tensa mamãe mais relaxada. 

Por fim, acho que 2021 não precisará de muito para ser sentido como um ano melhor que 2020, o ano da peste, da covid-19, o ano em que o mundo fechou. 

Feliz ano novo! 


07/12/2020. 


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