Balanço 2020


Relembrando.

Em fevereiro talvez, a gente ouvia no noticiário sobre uma nova peste na China, no que parecia um caso algo recorrente. Uma nova gripe, uma nova síndrome respiratória, surgida no Extremo Oriente, que possivelmente ficaria restrita à região. 

Não ficou. Logo soubemos notícias de contaminações na Europa, em especial na Itália. 

Na metade de março, o governo estadual cancelou as aulas presenciais. E logo muitos trabalhadores foram enviados a trabalhar em casa. Inclusive eu. 

Lembro que por conta da dificuldade de conexão, e entraves tecnológicos, ainda tive um dia extra de trabalho local. E como achei estranho quando um colega apareceu usando uma máscara. 

Era o início da quarentena, que muitos de nós imaginávamos, seria breve, quarenta dias mesmo, ou, no máximo uns dois meses. Vã ilusão.

Fui uma das tantas pessoas que teve o privilégio do home office, mas, às vezes, eu tinha atividades que precisava desempenhar na própria empresa. 

A primeira vez foi em abril. Dias de muito estranhamento. De transporte coletivo restrito, de automóveis de aplicativos poucos. De um centro da cidade abandonado, distópico. Como se eu estivesse em um cenário de filme de ficção científica. De achar que havia uma multiplicação de sem tetos, para só então se dar conta, que eles sempre estiveram ali, mas que agora não havia uma multidão a escondê-los. 

E sem lugar para almoçar. Era necessário ou comprar em supermercado, ou pedir a comida para ser pega nos restaurantes que ofereciam o serviço, ou pedir tele-entrega. 

Em julho tive que ir ao aeroporto receber uma pessoa e conduzí-la a um hotel na Cidade Baixa. O motorista do aplicativo comentou que fazia muito tempo que ele não levava alguém ao aeroporto. O aeroporto um deserto, quase sem voos, quase todos os serviços inoperantes. 

A Cidade Baixa, um agitado polo boêmio de Porto Alegre, como se morta. Os bares e restaurantes que movimentam a região, quase todos fechados. Poucas pessoas nas ruas, com destaque para o grupo de entregadores, e eles, os sem teto. 

Quando voltei ao Centro, em agosto, os restaurantes tinham voltado a abrir, tão normalmente quanto as circunstâncias permitiam. Eu, que era acostumado aos bufês de autosserviço, fui a um estabelecimento que servia pratos feitos. 

No início de novembro a perspectiva era otimista. Parecia que o pior já havia passado, e o ímpeto da peste estava diminuindo. Tudo quase normal, transporte coletivo, transporte individual, gente na rua. Bares e restaurantes abertos. Apenas as máscaras continuavam a dar o toque incomum ao dia a dia, como havia se tornado padrão desde o final de março. 

Dezembro. Sim, os estabelecimentos estão abertos, sim há gente na rua, mas a esperança feneceu, a peste recrudesceu. 

O pesadelo parece ainda longe do fim.


10, 15/12/2020.

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