Matando Preto no Dia da Consciência Negra


Não exatamente no Dia da Consciência Negra, mas na véspera. O que você pensaria se alguém querido seu fosse assassinado a socos às vésperas do Natal?

Pois ontem, dia 19 de novembro de 2020, uma quinta-feira, um cidadão negro, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi assassinado em um supermercado na zona norte aqui de Porto Alegre. 

O mercado, filial de uma rede de lojas espalhada por todo o Brasil, se eximiu da culpa, responsabilizando a empresa terceirizada pelo incidente, inclusive com rompimento imediato do contrato. Informando ainda que dará toda assistência à família do assassinado.

Aqui vale um parêntese: essa rede precisa rever seus protocolos, pois é o terceiro incidente grave em que está envolvida nos últimos anos. Em 2018, um segurança de uma loja matou um cachorro de rua que rondava uma loja em Osasco a pauladas. Em agosto deste ano, um funcionário teve um mal súbito em uma loja no Recife. Em lugar de fechar a loja, o corpo foi isolado, em uma tentativa de escondê-lo. 

Talvez a rede esteja com muito azar. 

Já falei bastante em outros anos sobre Dia da Consciência Negra. Parei porque estava me tornando repetitivo. 

Mas agora temos esse crime chocante, na véspera do dia em que se procura trazer à reflexão de todos como o racismo nos moldou e nos molda como sociedade. 

O(s) vídeo(s) do espancamento estão disponíveis na internet para quem tiver estômago para assistir. Lá estão dois homens brancos espancando um homem negro até a morte, sob o olhar cúmplice de uma funcionária branca do supermercado. Supostamente porque ele discutiu e ameaçou uma funcionária. 

Fica a pergunta: fariam isso com um cliente branco? 

Sim porque poderia ser um segurança negro executando o crime. O racismo no Brasil tem muitas faces, mas o inescapável é que homens negros parece que são naturalmente mais matáveis. 

Tudo isso me evoca o caso do jovem Eduardo Vinícius Fosch dos Santos, que, imagino, morreu em circunstâncias muito semelhantes, em uma festa em um condomínio de alto gabarito, na zona sul de Porto Alegre, em 2013. Ele tinha então 17 anos. Mas ninguém gravou o provável crime. E a polícia só foi investigar o incidente sob ordem do Ministério Público. Até hoje, mais de sete anos depois, ninguém foi julgado. 

Quantas vezes mais continuaremos vendo isso? O carro da família negra foi fuzilado porque a patrulha do exército o confundiu com um de traficantes. O motorista negro foi baleado e morto porque o policial imaginou que o celular era uma arma.

É preciso que as vidas negras não sejam descartáveis. A carne negra não deve ser a mais barata do mercado. 


20/11/2020. 


Comentários

  1. Aos brancos se dá o direito de discutir e ameaçar subalternos. Aos negros nenhum direito é permitido ou reconhecido. Não matariam um branco na mesma situação. É RACISMO SIM.

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